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Creomar de Souza

A militância e suas paixões

A República Federativa do Brasil não se encerrará em dezembro de 2022 e dito isto, é de fundamental importância alertar aqueles que trocam a avaliação racional do voto pelo mero exercício de paixões de ocasião acerca do risco que se cria para o dia seguinte do processo eleitoral

por Creomar de Souza em 28/10/21 11:06

A antecipação do debate eleitoral é uma realidade. A partir dessa premissa, bem iniciada no primeiro dia da administração Bolsonaro, é importante ter em mente o impacto disto sobre a qualidade do debate público. Em primeiro plano, é possível afirmar com alguma clareza que o estímulo de paixões desenfreadas e a transformação de representantes políticos em ídolos de bronze, gerou como resultado um enorme empobrecimento da capacidade da sociedade de estabelecer consensos e debates qualificados.

A ausência de consensos, muito bem alimentada por aqueles que confundem propositalmente liberdade de expressão com estímulo ao dissenso e rancor, gera o risco claro de tornar o processo eleitoral futuro em uma arena de gladiadores. Nesse cenário, um elemento importante que reforça o argumento é o fato de que um número crescente de representantes deseja a erosão de consensos. Afinal, quando não há consenso, o debate público pode ter seu foco facilmente alterado.

E esta parece ser a principal característica da política nacional no biênio 2020-2021. Na mesma proporção que a tempestade perfeita foi se agravando no horizonte, maior foi se tornando a disposição de mandatários em diversos níveis em estimular o diversionismo. Ao mesmo passo que o foco é jogado para o lado, com o apoio velado ou explícito de uma série de atores políticos importantes, temas importantes para o presente e para o futuro do país são colocados de lado ou tratados como mera casualidade eleitoral.

Militantes bolsonaristas protestam contra ato adverso ao governo do presidente.
Militantes bolsonaristas protestam contra ato adverso ao governo do presidente. Foto: Reprodução (Redes Sociais)

Nos últimos dias, as negociações para a resolução dos dilemas do Governo Federal para o ano de 2022 levam a uma constatação bastante alarmante: não importando quem seja o Presidente da República em janeiro de 2023, a herança recebida será digna dos trabalhos de Hércules.  A explosão do teto de gastos, a liquidação de uma política pública bastante eficaz em termos de combate à pobreza e o retorno da inflação são mais que fantasmas no horizonte, apresentam-se como ameaças e riscos potenciais ao legado civilizacional construído pela democracia a partir da Constituição de 1988.

Se há pouca resistência em termos político-institucionais ao processo de erosão de políticas públicas em curso, é ainda mais preocupante a naturalização da militância política do estado de coisas presentes. A normalidade com que os fãs dos políticos encaram o preço dos combustíveis ou do botijão de gás, ou a forma como alguns extratos ditos mais esclarecidos caem em cantos da sereia de promessas infundadas – tais como a eterna promessa de privatizações – só leva a crer que mais do que apoio, há um exercício de fé quase messiânico que torna a reflexão crítica e a percepção de que políticos devem oferecer soluções para problemas concretos.

A observação de que o debate público empobrece a cada dia, alimenta a hipótese de que o debate eleitoral também será bastante pobre. Com o desenho atual, a conjuntura eleitoral futura certamente trará, entre outros elementos, uma substituição do debate pelo insulto. E o fato é que uma vez que haja mais interesse pela ofensa do que pela proposição, o prognóstico não tem como ser otimista.

A encruzilhada que se coloca para o país, portanto, não é a mera revisão do legado da Constituição de 1988, mas, sobretudo, as escolhas que marcam o futuro. Não há desenvolvimento que se sustente sem políticas públicas baseadas em evidências, e não há liberdade econômica sem liberdade política. E, certamente, não há crescimento econômico sem previsibilidade decisória. Aos militantes, portanto, fica o alerta de que o seu apego a lideranças ditas iluminadas afasta seus compromissos para com a realidade – e, como consequência, afasta a todos de soluções reais para problemas concretos.

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