Parte dos militares é entusiasta da bandeira do fim da corrupção levantada por Moro, mas maioria teme fortalecimento de Lula
O discurso do ex-juiz Sergio Moro no evento no qual filiou-se ao Podemos foi acompanhado com lupa pelos militares. Moro oficializou sua entrada na política e se apresentou como alguém que não fugirá da luta de liderar um projeto nacional em 2022. A fala dividiu os oficiais, que não tem posição monolítica em relação ao ex-ministro da Justiça. Embora a bandeira de combate à corrupção tenha a simpatia de parte dos fardados, as dificuldades para viabilizar sua candidatura e a possibilidade de tirar votos do presidente Jair Bolsonaro geram receio na outra parte.
O general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, é um dos maiores entusiastas fardados da candidatura do paranaense. Ao MyNews, disse que o discurso desta quarta-feira foi muito consistente, de bom senso e de esperança para que se tenha uma pessoa “equilibrada” na presidência. “Foi uma oportunidade de ver que a política tem saída, na qual o país recupere o respeito entre as pessoas, entre as instituições e entre as lideranças”, declarou.
De acordo com o jornal O Globo, Santos Cruz tem feito a ponte entre Moro e os egressos militares do bolsonarismo. Estão no entorno do ex-juiz ainda, afirma a publicação, o general da reserva Paulo Chagas, que participou ativamente da campanha de Bolsonaro, o general Maynard Santa Rosa, que chegou a comandar a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), o general Lauro Luís Pires da Silva e o coronel Walter Félix.
Esses apoios, no entanto, ainda são vistos como pontuais nas Forças Armadas. Generais preocupam-se com a dificuldade de Moro de angariar apoios políticos capazes de dar sustentação à sua candidatura. Sem musculatura, o ex-juiz poderia acabar dividindo os votos da direita, enfraquecendo Bolsonaro, e facilitando a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Portanto, a leitura é de que o ex-juiz possa dispersas votos no primeiro turno, mas que, no segundo turno, diante da possibilidade de eleição de Lula, os fardados acabem se reaglutinando em torno do presidente.
Procurados por emissários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, militares de alta patente têm resistido em abrir um canal de diálogo com o petista. O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim e o ex-governador do Acre Jorge Viana têm feito contato com os fardados, mas, até o momento, têm encontrado pouca abertura. Generais ouvidos pelo MyNews afirmam que darão sustentação a seu governo, caso seja eleito, mas temem que, no poder, Lula reveja a Lei de Anistia e decida puni-los por crimes cometidos na ditadura.
A Lei de Anistia foi sancionada em 1979 pelo então presidente João Baptista Figueiredo. Concedeu perdão aos perseguidos políticos, permitindo que exilados retornassem ao país, e também aos militares que tivessem cometido crimes em nome do Estado. Abriu caminho para a redemocratização do Brasil, que viria anos depois.
A desconfiança dos militares com Lula vem da postura com a qual a ex-presidente Dilma Rousseff lidou com a Comissão Nacional da Verdade, criada por ela em 2011. Na avaliação majoritária no Exército, a comissão foi parcial ao só perseguir crimes praticados pelos militares e não os poupou no relatório final.
Por isso, após o governo de Jair Bolsonaro, no qual as Forças Armadas se envolveram diretamente, inclusive ocupando cargos de destaque, há receio de que em uma postura revanchista, a Lei de Anistia seja revista, permitindo a punição pelos crimes cometidos após 1964. Os generais afirmam que tal hipótese seria “inadmissível”.
Em que pese os arroubos retóricos de Bolsonaro e seus excessos, os fardados concordam com parte das reclamações do presidente.
A avaliação geral, embora a temperatura mude de acordo com o interlocutor, é de que o Supremo Tribunal Federal, por exemplo, vinha esticado a corda ao intervir com frequência em atribuições do Executivo. Um episódio citado é a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, de incluir como prioridade o indígena urbano no Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. Na avaliação desses militares, essa é uma prerrogativa do presidente Jair Bolsonaro, desrespeitada com base em um pedido do partido Rede Sustentabilidade, que recorre ao Judiciário justamente por não ter representação suficiente para fazê-lo no Congresso, com as regras do jogo.
2. Gerou desconforto, inclusive, a conversa que o vice-presidente Hamilton Mourão teve com Barroso quando as Forças Armadas organizaram um desfile militar no mesmo dia em que o Congresso votaria a adoção do voto impresso.De acordo com o Estadão, Mourão teria tranquilizado o ministro, dito que as nem Forças Armadas, nem quem comanda as tropas, apoiariam um golpe e, portanto, ninguém impediria a realização das eleições no ano que vem. Disse que as chances de isso acontecer eram “zero”. Barroso teria ficado aliviado e ambos compartilhado espanto com a escalada da crise.
Oficiais ouvidos pelo MyNews, no entanto, afirmam que Mourão perdeu a oportunidade de transmitir a Barroso uma preocupação dos militares também com a postura do STF. Há uma avaliação nas Forças Armadas de que o STF também estaria esticando a corda e que isso acaba por alimentar a postura de Bolsonaro. Com frequência generais citam a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um excesso fora de hora. O resultado foi devolver ao ex-presidente a possibilidade de concorrer no ano que vem e, na avaliação dos oficiais, deu ainda mais combustível à crise com Bolsonaro.
Com forte tom eleitoral, o ex-juiz Sergio Moro afirmou nesta quarta-feira (10) que não fugirá da liderança de um projeto presidencial e que jamais colocará filhos ou partido político acima do interesse do povo brasileiro. A fala ocorreu durante evento de filiação ao Podemos em um centro de convenções em Brasília. No discurso, Moro ainda criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, culpou o presidente Jair Bolsonaro por um boicote à sua gestão no Ministério da Justiça e elegeu o combate à pobreza como o desafio do seu projeto.
“O Brasil poderá confiar que este filho teu não fugirá à luta e que jamais deixará o seu interesse pessoal, ou de seus filhos ou de sua família, ou mesmo de seus amigos ou de seu partido político, acima do interesse do povo brasileiro”, declarou.
O ex-juiz anunciou como medida prioritária do seu “projeto” a criação de uma Força-Tarefa de Erradicação da Pobreza para acabar de vez com a miséria. “Para tanto, precisamos mais do que programas de transferência de renda como o Bolsa-Família ou o Auxílio-Brasil. Precisamos identificar o que cada pessoa necessita para sair da pobreza. Isso muitas vezes pode ser uma vaga no ensino, um tratamento de saúde ou uma oportunidade de trabalho. As pessoas querem trabalhar e gerar seu próprio sustento. Precisamos atender a essas carências com atenção específica”, detalhou.
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