Até aqui Simone Tebet é a única pré-candidata ao Palácio do Planalto. Política competente e com um legado de serviços prestados ao seu Estado de origem, o desafio da Senadora é romper uma lógica de apagamento às mulheres que tem caracterizado o atual estágio do debate político nacional.
por Creomar de Souza em 09/12/21 13:09
As mulheres correspondem à 52,50% do eleitorado. Alguns anos atrás, uma mulher foi ocupante do Palácio do Planalto. E em eleições recentes ao menos uma mulher era, normalmente, bastante competitiva em termos eleitorais. Este diagnóstico do passado recente é ilustrativo para compreender e realçar uma preocupação com a diminuição do protagonismo feminino no próximo ciclo eleitoral.
Em algum momento nos próximos meses, alguma das principais candidaturas pode vir a fazer um movimento de acomodação de algum nome feminino para compor seu ticket. Mas o fato é que, na caminhada da redemocratização iniciada nos anos 1980, a sociedade, o sistema político e os homens eleitores têm falhado na criação de condições minimamente seguras para as candidaturas e os exercícios de mandatos das mulheres. Isto é importante de ser dito, sobretudo quando os elementos de crítica às mulheres partícipes da vida política transpõem de maneira muito fácil os limites do aceitável.
De imagens ofensivas ao assédio sexual em Plenário, não há limites para as formas como mulheres são acossadas no exercício de seus mandatos. E diante deste diagnóstico aterrador, a indicação de Simone Tebet à Presidência da República é um marcador importante. A Senadora sul-mato-grossense é reconhecida pelos seus pares como uma política preparada, articulada e capaz de construir consensos. Nesta legislatura, por exemplo, foi uma das principais responsáveis pelo reconhecimento regimental da bancada feminina como um bloco parlamentar no Senado Federal.
Tais credenciais vão ao encontro daquilo que o ambiente político nacional mais precisará em futuro próximo, bom-senso e diálogo. Porém, é importante fazer um exercício de realismo político. O Brasil de 2021, e possivelmente o de 2022 também, parece bem distantes do sonho de que o debate político e eleitoral será marcado pela troca saudável de ideias. Ao contrário, o risco de que as eleições se tornem um turbilhão de ofensas, mentiras e confusão é alto. Sobretudo pelo fato de que alguns dos principais atores envolvidos no processo sabem que sem a disseminação de medo e diversionismo, suas chances de vitória são fortemente amainadas.
Se em tempos normais este cenário reforçaria a ideia de que Tebet é um excelente nome para a construção de um diálogo em novos termos, a realidade atual permite traçar um prognóstico menos otimista. Pensando que a eleição será encaminhada em direção à uma polarização entre Lula e Bolsonaro, com Moro e Ciro correndo por fora, percebe-se pouco espaço de ação para que Simone Tebet avance competitivamente. Outro dado importante é pensar em quão disposto o MDB estará em apoiar de corpo e alma a campanha da Senadora.
Historicamente, o partido de Ulysses Guimaraes não tem problemas em lançar candidatos ao Palácio do Planalto. O problema é que com a mesma facilidade que os indica, os correligionários do Movimento Democrático Brasileiro os abandonam à própria sorte. Foi assim com o Ulysses, foi assim com Quércia, e não há garantia nenhuma que isso não será feito com Tebet. Pragmáticos por natureza e dependentes do tamanho de sua bancada no Legislativo, o cenário mais provável é que haja uma desidratação do ímpeto em torno da candidatura na eventualidade das pesquisas não indicarem um avanço consistente em intenções de voto.
Porém, se de um ponto de vista estritamente partidário a candidatura possui fragilidades, a simples presença de Simone Tebet entre os presidenciáveis é uma sinalização importante daquilo que estamos deixando de fazer em termos de lógica democrática. A sociedade brasileira tem falhado cotidianamente em tornar a política um lugar convidativo para nossas mulheres. E pensando em um país diverso e marcado por heterogeneidade, este tipo de ação tem como resultado fundamental o espalhamento de uma percepção de que a política não é espaço para as brasileiras. Mas ao remar contra esta corrente, Simone Tebet, por meio de suas ações e palavras, poderá ser uma figura diferencial no debate político em uma eleição que, até aqui, é mais caracterizada por arroubos e tumultos do que por ideias.
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