Resultados de dois estudos brasileiros poderão embasar mudanças nos tratamentos de pacientes hipertensos
por Gisele Sampaio Silva, Karla Espírito Santo em 01/02/22 14:09
A hipertensão é um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo, sendo o principal fator de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca, doença renal crônica, incapacidade e mortalidade precoce. Dados de uma pesquisa nacional conduzida pelo Ministério da Saúde estimam que cerca de 25% da população brasileira adulta tem um diagnóstico de hipertensão – quando os níveis da pressão arterial permanecem acima de 140 x 90 mmHg de forma recorrente. Níveis menores que 120 x 80 mmHg são considerados ótimos.
Atualmente, as diretrizes médicas recomendam manter a pressão arterial abaixo de 140 x 90 mmHg para ser considerada “controlada”. Porém, sabe-se que o risco de doenças cardiovasculares dobra a cada 20 mmHg de elevação da pressão arterial sistólica e a cada 10 mmHg de elevação da pressão arterial diastólica.
Assim, faz sentido tentarmos trazer os níveis de pressão arterial dos indivíduos hipertensos para níveis ótimos, ao invés de ficarmos satisfeitos com níveis controlados. Tanto estratégias de mudanças do estilo de vida (por exemplo, uma alimentação saudável com pouca ingesta de sal e a prática de exercícios físicos regularmente) quanto o uso de medicamentos anti-hipertensivos devem ser indicados, após o diagnóstico da hipertensão, com o objetivo de controlar os níveis de pressão arterial.
Em 2015, um estudo americano chamado SPRINT trial (Systolic Blood Pressure Intervention Trial) comprovou que manter indivíduos hipertensos com níveis de pressão arterial ótimos (abaixo de 120 x 80 mmHg) reduzia a ocorrência de eventos cardiovasculares em 25%, e o risco de morte em 27%, quando comparados com os indivíduos que tiveram seus níveis de pressão arterial apenas controlados. Os participantes deste estudo eram hipertensos e tinham algum outro fator que contribuía para um alto risco de desenvolver alguma doença cardiovascular. Pessoas com história de diabetes e AVC, no entanto, não foram incluídas, apesar de muitos indivíduos terem hipertensão e diabetes ao mesmo tempo — e também da hipertensão ser o principal fator de risco para o AVC.
Estudos brasileiros preenchem lacunas do conhecimento médico
Neste contexto, os estudos OPTIMAL-DIABETES e OPTIMAL-STROKE foram idealizados para preenchermos esta lacuna no conhecimento médico em relação ao qual o nível de pressão arterial ideal em indivíduos hipertensos e diabéticos, assim como em pessoas hipertensas e com história de um AVC, respectivamente.
O objetivo dos dois estudos é determinar se há benefícios ao implementarmos uma estratégia com um controle mais intensivo da pressão arterial, mantendo os níveis ótimos (menor que 120 x 80 mmHg), comparado com a abordagem atualmente recomendada de manter a pressão arterial apenas controlada (menor que 140 x 90 mmHg) nestas duas populações de indivíduos hipertensos.
Os estudos OPTIMAL estão sendo liderados pela Academic Research Organization (ARO) do Hospital Israelita Albert Einstein em parceria com o Ministério da Saúde, através do Programa PROADI-SUS. Ambos os estudos já são os dois maiores sobre o tema no mundo:
Os participantes dos dois estudos serão acompanhados entre três a quatro anos.
Resultados podem embasar mudanças nos tratamentos
Se os resultados demonstrarem benefícios em manter a pressão arterial em níveis ótimos, haverá um enorme impacto na forma como indivíduos hipertensos serão tratados no futuro. Os médicos e os pacientes terão que ter um maior comprometimento em cooperar para atingir este controle mais intensivo da pressão arterial.
Porém, esta estratégia simples, por si só, será responsável por evitar uma quantidade enorme de mortes prematuras e internações por eventos cardiovasculares, como infarto e AVC. Um melhor controle de pressão em pacientes hipertensos pode salvar vidas, reduzir internações e diminuir os custos relacionados a doenças cardiovasculares.
Karla Espírito Santo é Clinical Trialist da Academic Research Organization (ARO) do Hospital Israelita Albert Einstein
Gisele Sampaio Silva é Clinical Trialist da Academic Research Organization (ARO) do Hospital Israelita Albert Einstein
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