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Paulo Totti

OPINIÃO

A coisa certa

A guerra eleitoral de 2022 não é a mesma de 2018

por Paulo Totti em 04/02/22 14:40

Winston Churchill em sua “Memórias da Segunda Guerra Mundial”, conta que ao assumir em 1940 o cargo de primeiro ministro acumulado com o de ministro da Defesa, dizia-se como piada que, até ali, o governo de Sua Majestade costumava preparar-se para as guerras passadas e não para a futura, que já estava para começar. No Brasil dos nossos tempos a guerra é política e parece que dois ilustres candidatos à presidência estão muito bem armados para a campanha passada, a de 2018, não para a do próximo 2 de outubro, praticamente depois de amanhã.

São eles Jair Messias Bolsonaro e Sérgio Fernando Moro. O primeiro, veterano de sete mandatos como deputado federal, faz guerra pública ao comunismo desde 1991. Até então, pelo que sabemos, a beligerância era voltada contra o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE). O movimento que Bolsonaro idolatra e do qual não participou por causa da idade, levantou-se contra o comunismo em 1964, quando nem os comunistas pensavam, ou desejavam, que o governo de João Goulart fosse, ou devesse ser, comunista. Ao derrotar Fernando Haddad há quatro anos, o comunismo foi mais uma vez combatido como prioridade, apesar de Haddad não ser comunista e o comunismo já ter deixado de existir. Na guerra atual, o inimigo ainda é o comunismo, uma ameaça tão velha e fantástica quanto, na minha terra, a lenda de Teiniaguá, a Salamandra de Jarau. No cercadinho do Palácio da Alvorada e dali espalhados pelo Brasil em conexão de ilegais robôs cibernéticos, voltarão a chamar o adversário de “Nove dedos” e a inventar que João Pedro Stedile, líder do MST, vai mandar no agronegócio. Em São Paulo, repetirão que Haddad, se eleito, substituirá a educação física pelo homossexualismo no currículo do ensino médio.

A guerra para alcançar o Palácio do Planalto precisa ser atualizada. Foto: Pixabay

O Bolsonaro de 2022 desembainhará novamente a espada da anticorrupção e invocará a seriedade da tradição militar para o combate. Neste particular o propósito será decepcionante, pois o eleitor, desiludido com o falso salvador da pátria, já percebeu que a seriedade era um engodo e que, por exemplo, a ocupação fardada do ministério da Saúde resultou na criminosa fuzarca que todos conhecemos. O exército, que um dia adotou a ciência como primado de sua cultura e por isso chegou a ser exageradamente chamado de positivista, acoberta hoje e por mais um século os malfeitos de um general chegado ao terraplanismo.

Não é isso que o leitor de agora quer e as pesquisas já estão a demonstrar. O eleitor quer emprego, comida na mesa, assistência médica com gratuidade estendida aos medicamentos, opção de morar longe de encostas que desabam, avenidas, estradas e linhas de metrô sem crateras no meio do caminho, Amazônia e Pantanal protegidos contra desmatamento e incêndios. Um país, enfim, sem discriminação odiosa de raça, cor e gênero, e, como anunciou o eleito no Chile, com um governo que não declare guerra a seu próprio povo.

O ex-juiz Moro, cristão novo da política, é o outro que aparece municiado para a guerra que já passou. Em 2018, os eleitores, embalados talvez pelo ainda mal estudado movimento de massas de 2013, esperavam, até exigiam, a chegada do outsider, alguém vindo de fora para exorcizar a política, expurgá-la de todos os maus costumes, entre eles o da corrupção. Com essa mensagem e 57,79 milhões de votos (55,13% dos válidos), Bolsonaro ocupou o espaço. Deu no que deu. A mensagem convincente, que emerge destes tristes tempos de pandemia, mira a mitigação das iniquidades, o caminho que conduza ao fim de um mundo desigual. Lembrete histórico: Churchill, com apoio de Franklin Delano Roosevelt, rearmou a Inglaterra e animou Londres à sobrevivência, dias e noites, ante a novidade das bombas voadoras de Hitler. Nosso exército fez a coisa certa: foi à guerra ao lado de Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética.

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