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FESTAS RESTRINGIDAS

Festas de carnaval em Pernambuco são canceladas, mas prévias já arrastaram centenas de pessoas

Nas últimas semanas, circulam imagens nas redes sociais de prévias carnavalescas com centenas de pessoas sem máscaras e distanciamento social. Na quarta (9), começaram a valer novas regras para eventos no estado.

por Suzana Souza em 10/02/22 11:07

Prévia de carnaval, Fika Trankili, produzida pela Carvalheira em janeiro de 2022. Foto: Reprodução redes sociais (Carvalheira)

As festividades de carnaval em Pernambuco foram canceladas e novas restrições para o público em eventos foram definidas pelo governo estadual. As regras começaram a valer na quarta-feira (9), mas até o domingo (6) prévias carnavalescas com centenas de pessoas eram realizadas no estado. 

De acordo com o governo de Pernambuco, entre o período de 25 de fevereiro e 1º de março deste ano foram proibidos eventos de qualquer tipo, em espaços públicos ou privados, com ou sem comercialização de ingressos.

As novas regras, já em vigor no estado, definem que o público máximo nos eventos realizados até o dia 24 de fevereiro seja de 500 pessoas para espaços abertos e de 300 pessoas para ambientes fechados. Até a terça-feira (8), a regra válida era de três mil participantes para eventos ao ar livre e mil para eventos fechados. 

As novas medidas foram divulgadas em entrevista coletiva cedida pelo Secretário Estadual de Saúde André Longo, na tarde da segunda-feira (7). “Só abrir leitos e adotar medidas restritivas não será suficiente para diminuirmos a aceleração viral e as contaminações. É preciso a compreensão, a sensibilidade e a adesão de toda a sociedade”, afirmou o secretário.

No dia 2 de fevereiro deste ano, Pernambuco bateu o recorde de casos do novo coronavírus desde o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020. Ainda no início de janeiro, as prefeituras das cidades do Recife e de Olinda cancelaram as festas para os quatro dias de folia.

O site de monitoramento do novo coronavírus mantido pelo governo estadual aponta Pernambuco como o estado brasileiro com a terceira maior taxa de letalidade por Covid-19 do país, com 2,9% de mortes entre os infectados pela doença.

Secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em entrevista cedida na segunda-feira (7). Foto: Hélia Scheppa (SEI)

Em paralelo ao aumento dos casos, foram celebradas as tradicionais prévias de carnaval, em conformidade com o antigo Plano de Convivência com a Covid-19. O plano estabelecia que era possível a realização de eventos privados, onde todas as pessoas deveriam estar vacinadas com ao menos duas doses e testadas com resultado negativo.

Carnaval particular  

Uma semana após ter concluído o isolamento depois de contrair a Covid-19 pela segunda vez, o estudante de engenharia da computação, João Victor Albuquerque, de 24 anos, vestiu um abadá vermelho e amarelo e saiu em direção à mais seleta prévia de carnaval do Recife. 

O título fica a cargo do valor do ingresso, que chegou a custar R$ 600 na porta do evento. A festa aconteceu no dia 29 de janeiro, três dias antes de Pernambuco bater o recorde de  confirmações diárias da Covid, com 7.806 infectados. 

Produzido pela Carvalheira, o bloco surgiu em 2007 como uma reunião de amigos do mesmo colégio da Zona Sul do Recife e costumava desfilar pelas ruas do bairro de Boa Viagem, área nobre da capital pernambucana, com cordão de isolamento, open bar premium e ampla equipe de segurança. 

A essência da prévia, de acordo com um dos empresários responsáveis, Jorge Peixoto, é manter o evento como uma comemoração que reúna os amigos. Diferente de outros eventos produzidos pela marca, como o Carvalheira na Ladeira, que acontece durante os quatro dias de carnaval e tem passaporte completo com valor de R$ 2,2 mil, o Fika Trankili tem pouca divulgação nas redes sociais da produtora. 

Prévia carnavalesca Fika Trankili realizada pela Carvalheira a Região Metropolitana do Recife. Foto: Reprodução (Carvalheira)

Em 2022, a prévia aconteceu na Arena Pernambuco, estádio localizado em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. Acompanhado de outros três amigos, João Victor contratou um motorista para levá-lo ao local, mas o evento também disponibilizou um transfer no valor de R$ 50 para pegar os foliões nos principais shoppings centers da capital e conduzi-los até o endereço. 

De acordo com o que previa o decreto do Plano de Convivência com a Covid-19, todos os participantes de eventos ao ar livre com até três mil pessoas precisavam apresentar um teste negativo para a doença. Também era necessário comprovar a vacinação contra o novo coronavírus com as duas doses aplicadas para menores de 55 anos e com o adicional da dose de reforço para o público a partir dessa idade.

A regra válida era a de testagem do tipo RT-PCR feita até 72 horas antes ou teste antígeno coletado nas 24 horas anteriores. João Victor fez o exame do tipo antígeno em um dos pontos gratuitos disponibilizados pela prefeitura do Recife, que precisa ser agendado pela internet e foi sido alvo de relatos de congestionamento e falta de horários para marcação. Na primeira semana de fevereiro, a gestão municipal informou que a disponibilização é de 9 mil testes diários para a população. 

Para os participantes da prévia de carnaval, no entanto, foi possível desembolsar R$ 80 e realizar o teste na hora, na porta do evento, em um centro de testagem exclusivo. O valor oferecido pela produtora foi abaixo daquele pago pela população geral nas farmácias da capital pernambucana, já que de acordo com uma pesquisa realizada pelo Procon Recife na terceira semana de janeiro, os preços encontrados no comércio variam de R$ 99 a R$ 200.  

“Eu fiquei com a sensação de que estava meio vazio para as festas desse estilo. Tinha muito espaço sem gente e ficou uma concentração pequena em comparação ao que a gente costuma ver nos eventos do Carva, tipo a festa de Natal. Mas mesmo assim foi bem animado e seguiu o padrão das festas que eles fazem”, contou o estudante. 

Carnaval de rua

No dia seguinte ao Fika Trankili, imagens de uma aglomeração no centro histórico de Olinda circularam nas redes sociais e causaram revolta entre os internautas. Em um dos vídeos gravados, os foliões cantavam o emblemático Hino do Elefante, frevo símbolo do carnaval olindense.

Aglomeração registrada em Olinda em vídeo compartilhado nas redes sociais. Foto: Reprodução (Instagram)

Entre as dezenas de pessoas presentes estava o vendedor de bebidas Leonardo Santos, de 39 anos. Nos dias úteis de janeiro e fevereiro ele trabalha na orla da praia do Bairro Novo, em Olinda, ajudando na barraca do tio. Já durante os finais de semana, Leonardo segue em direção às ladeiras da cidade alta e vende água, cervejas, refrigerantes e energéticos ao público que se encontra geralmente em frente às sedes dos tradicionais blocos e agremiações de carnaval. 

“É nessa época que a gente consegue fazer o dinheiro que vai manter nossa vida nos meses que tem pouca gente na praia.[…] Até começar com a pandemia, era no carnaval que a gente conseguia ganhar [dinheiro] para chegar até o fim do ano”, relatou Leonardo. 

Para conseguir os mesmos R$ 730 (incluindo os valores de ingresso, teste de Covid e transporte) que um único folião pôde ter que desembolsar para participar do Fika Trankili, Leonardo contou que precisaria trabalhar um final de semana inteiro e torcer para ter um bom movimento. “No domingo que o povo ficou criticando, consegui vender bem. Já no final de semana seguinte a polícia estava mais nas ruas, não teve tanto movimento assim”, disse o vendedor.  

Nas ladeiras, a Polícia Militar dispersa as aglomerações em uma operação conjunta com a Guarda Municipal e o Corpo de Bombeiros. Por meio de nota, a gestão municipal informou que a operação é padrão e, nas sextas e nos sábados, tem início às 19h e, no domingo, às 17h, encerrando, nos três dias, à meia-noite. 

Após a repercussão das imagens, o prefeito de Olinda Professor Lupércio (SD) decretou a proibição de música ao vivo e do uso de equipamentos de som mecânico nos finais de semana na cidade

No domingo (6), uma festa privada dentro da Pousada Quatro Cantos, cuja diária custa a partir de R$ 385, chamou a atenção dos pedestres que passavam pelo bairro do Carmo, no Sítio Histórico da cidade. Jogos de luzes, pessoas bebendo na sacada do local e estrutura de som foram gravados em imagens que também circularam nas redes sociais. 

Imagem do Bloco do Seu Antônio, realizado no sábado (5), na Zona Norte do Recife. Foto: Reprodução (WhatsApp)

Já na capital pernambucana, uma outra prévia carnavalesca privada, o Bloco do Seu Antônio, com ingressos que custaram até R$ 480, reuniu centenas de pessoas no sábado (5), entre elas o estudante João Victor. Os foliões ansiavam pelos shows dos artistas Gusttavo Lima, Zé Vaqueiro e Banda Eva.

“Em comparação ao Fika Trankili, o Seu Antônio foi uma loucura, vibe de carnaval mesmo. Ali eu vi que tinha muita gente. E a gente sabe que ninguém fica de máscaras nesse tipo de lugar […] Mas na entrada também pediram o teste e o comprovante da vacina”, afirmou João Victor. Mais uma vez, o estudante contou que fez o exame em um dos cinco locais gratuitos disponibilizados pela prefeitura do Recife. 

Para os eventos que estão autorizados até o dia 24 de fevereiro, incluindo aqueles realizados em teatros, cinemas, circos e jogos de futebol, a regra válida em todo o estado segue a do esquema vacinal completo com duas doses e o teste negativo para a doença.

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