Paulo Totti discute casos de 'autoridades que abandonam seu local de trabalho e tomam destinos inesperados e inexplicáveis'. Enquanto isso, articulações políticas se montam no país em ano de eleição.
por Paulo Totti em 14/02/22 16:24
Presidente Jair Bolsonaro (PL) entrando em aeronave da Força Aérea Brasileira. Foto: Marcelo Camargo (Agência Brasil)
A vida em Brasília deve estar mesmo muito difícil, insuportável. Quem pode foge do Distrito Federal, mesmo que por uns poucos dias. Autoridades abandonam seu local de trabalho e tomam destinos inesperados e inexplicáveis. O presidente, por exemplo, vai para Moscou no auge do inverno russo. Em Brasília faz calor, mas no Palácio da Alvorada, onde, a esta altura do ocaso de gestão, o cafezinho pode ser frio, mas não acredito que o ar-condicionado deu defeito e não se saiba onde anda o sargento de serviços gerais.
O presidente já mostrou que é homem valente, por gênese e por formação militar. Não o abateu a gripezinha que atingiu o país em 2020 e não será impedido de fazer o que quer por causa da hipótese de uma guerrinha como essa da Rússia com os Estados Unidos por causa da… “Ô, Felipe, como é o nome daquele paisinho de nome difícil?… Sim, sim, Ucranhas, claro. [A viagem pode ser suspensa de última hora, como aconteceu em 7 de setembro, quando foi abortado algo que parecia a preparação de um golpe.]
O secretário especial de Cultura é outro exemplo. Cansado de nada fazer no planalto central, além de “dezimar as mamatas” da Lei Rouanet, resolveu viajar para Nova York. Já que lá estava, foi visitar o amigo Renzo Gracie e colher subsídios para um projeto cultural “que envolve audiovisual, cultura e esporte”. Levou um assessor para não se perder sozinho na grande cidade. Reclamaram que a missão da dupla custou quase R$ 80 mil ao erário. O que é que vocês queriam? Que ele fosse de Uber?
E o que dizer do candidato a presidente Sergio Moro? Saiu de Brasília e foi passar um dia em Teresina, onde o calor é tanto que os hotéis não precisam instalar água quente nos chuveiros. Viajou 1.314 quilômetros em linha reta e só 30 pessoas foram ouvi-lo. Uma delas, bolsonarista. E desaforado.
Enquanto isso ocorre e merece destaque na mídia, os partidos se envolvem em negociações intermináveis para formação das federações previstas em lei e agora com prazo fixado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Entre elas, as que mais têm reais chances de acontecer de imediato são a do PSOL com a Rede, ambos em grande parte formados por antigos dissidentes do PT, e a do PSDB com o Cidadania, unidos desde que o PT nasceu há 40 anos. A do PT com PSB, PCdoB e PV, que parecia a mais provável e sólida, está travada por desentendimentos regionais, notadamente o de São Paulo, onde Márcio França quer sair candidato a governador sem esperar se as pesquisas confirmarão Haddad como o preferido pelos eleitores.
Melancólica é a situação do PSDB, reduzido a pouca representação parlamentar e dirigentes desconhecidos, dividido antes, durante e depois da prévia que deveria indicar o candidato à sucessão de Bolsonaro. Até se fala em anular a prévia, situação que não será novidade na história do partido, que já foi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedir a anulação da vitória do PT na eleição presidencial de 2014. PSDB e MDB conversam sobre o futuro, mas o MDB parece mais interessado em casar-se com o recém-criado União Brasil, maior bancada da Câmara, mas um deserto de gente em condições de candidatar-se e ganhar a eleição.
No governo, fala-se muito pouco em formar federação, certamente porque o Centrão já é uma federação. E o que acontece com o PSD e o PDT? Gilberto Kassab quer voo solo por enquanto à espera da janela partidária em março, quando é permitido mudar de legenda, mas antecipou que vota em Lula. E do PDT de Ciro Gomes? Este procura votos e o partido, parceiros.
Se o Brasil não tivesse um beócio no ministério da Educação e um sociopata na presidência, estaríamos agora ocupados na execução de um ambicioso plano nacional de recuperação do tempo perdido nas escolas durante a pandemia.
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