Em ano de eleição presidencial em um país polarizado, a saída é buscar propostas que visem o bem coletivo e não o nome de um candidato ou partido.
por Conrado Micke Moreno em 21/02/22 16:51
Urna eletrônica. Foto: Fernando Frazão (Agência Brasil)
Nós, brasileiros nascidos antes da copa de 1970, vivemos por vários anos algumas polarizações. Mas, diferentemente do que acontece hoje, essas eram polarizações folclóricas, de assuntos até irrelevantes para a vida de cada um de nós. Posso citar algumas que, em um exercício de túnel do tempo mental, consegui me lembrar.
As famosas polarizações de times de futebol de cada estado, como Corinthians x Palmeiras, Flamengo x Fluminense, Guarani x Ponte Preta, Inter x Grêmio… Ainda no campo dos esportes tivemos a polarização de Senna x Piquet. Apesar da balança pender muito mais para o lado de Senna, já ouvi muita discussão sobre a qualidade e a falta dela nesses dois personagens.
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Havia a polarização sobre os apreciadores de cerveja, muitos gostavam da Brahma e outros muitos da Antarctica. Pois é, acreditem os mais jovens, essas marcas eram rivais até serem compradas e serem colocadas em um balaio de gato que deixa tudo com a mesma cara por uma gigante nacional multibilionária.
Era engraçado ver pessoas no bar tomando cerveja, alguns sabiam até qual a melhor cidade que fabricava a sua cerveja do coração. A Brahma de Agudos era a melhor, enquanto a Antarctica de Joinville era a que tinha a melhor água. Eu tive um amigo inclusive que só bebia a Antarctica de garrafa de 600 ml e só a de faixa azul no rótulo. Tentamos enganá-lo diversas vezes tendo até o trabalho de comprar Brahma e trocar o rótulo. Ele no primeiro gole percebeu e disse: – Ahhhh! Isso é Brahma!
Existiam em nosso dia a dia várias polarizações: Levi’s x Lee, Caetano x Chico, Elis x Nara, Globo x Tupi, Folha x Estadão… Sempre encontrávamos o diferente em nosso cotidiano, mas nós sabíamos que existia vida além da polarização, que existia o São Paulo e o Santos de Pelé, o Vasco da Gama no Rio, que existia a Skol, a US Top, o Milton Nascimento, a Rede Manchete, o Jornal da Tarde… As terceiras vias das polarizações simples do cotidiano.
Hoje, a polarização tem se dado no campo da política e tem se tornado algo irritante.
Se você fala para um bolsonarista que é contra o Capitão, na hora você é taxado de petista, e o mesmo acontece se falar mal do Lula ou da Dilma para um petista. Fale para um simpatizante do Bolsonaro sobre a rachadinha, prática muito usada pelo Messias em seus gabinetes e transmitida aos filhos com louvor, e você vai ouvir: “Ah!,mas vai me dizer que no governo do Lula não tinha corrupção?”, “E os filhos do Lula?”. Ou ainda, se você defende a vacina você é de esquerda, petista ou psolista, se tem dúvidas e diz que não sabe quais serão as reações e que não sabe o que tem dentro você é bolsonarista. Nesse caso a pessoa que diz isso, no meu modo de ver, é simplesmente ignorante, mas isso é outra conversa.
Explicar que você não é de lado nenhum e que prefere uma outra opção é tão ou mais chato do que ter que explicar piada para o amigo meio lentinho e, o pior, não convence. É como se não existissem outras opções. Todos foram apagados, Ciro, Dória, Moro, D’Ávila, Tebet, Janones. E nós, aqui eu me incluo nessa lista, somos invisíveis.
Votar deixou de ser uma escolha em benefício da coletividade. Os eleitores desses dois lados não pensam na melhor proposta de governo, aquela que priorizará o ensino fundamental, pensando no futuro do país. Ou na proposta que será atenta e rígida no controle fiscal e na execução de uma boa reforma tributária que simplificará a vida do pequeno, médio e grande empresário. Nem mesmo uma proposta que olhará para a grande massa de miseráveis que têm insegurança alimentar ou que buscará trazer investimentos de fora para recolocar os catorze milhões de desempregados novamente no trilho do emprego e da dignidade. Essas pessoas querem apenas que seu lado vença. Para essas pessoas a proposta se ajeita depois de vencer o adversário.
No tempo das polarizações folclóricas que citei acima, existia uma diferença muito importante: a grande maioria do povo queria o bem do país e o bem do país naquele momento era se livrar dos governos militares ditatoriais. Basta olhar para nosso passado recente e para o nosso presente hediondo para saber que nenhum desses dois candidatos será o melhor para o Brasil e para nós brasileiros.
Se fosse fazer uma explanação dos motivos contrários a ambos, este texto se transformaria em um livro, talvez dividido em alguns volumes. Por isso peço a você, leitor e eleitor, que disponha de um tempo para pesquisar nos próximos meses o que cada candidato propõe para tirar nosso país da crise em que se encontra e da situação internacional vergonhosa que vivemos.
Se desapegue das verdades calcificadas existentes na sua cachola, deixe de se informar pelo WhatsApp e Facebook e busque informações na imprensa séria, inclusive pesquisando diversas fontes e diferentes opiniões. Pense no que você quer melhorar na sua vida e, principalmente, no Brasil que você quer deixar para seus filhos e netos. Tenha a humildade de se abrir para algo diferente e melhor e entender que quem tem que vencer é a coletividade e não seu candidato.
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