Economia

Agronegócio

Alta do preço do algodão impacta setor de roupas e calçados

Pequenos produtores e confecções sofrem com falta do produto e esperam ajustes dos preços para consumidor em 2021

por Juliana Causin em 08/12/20 15:14

Com alta do dólar e valorização das commodities, os preços do algodão em pluma atingiram recorde histórico neste final do ano. A matéria-prima, que é fundamental para indústria têxtil e de confecções, ficou 25,7% mais cara no mês de outubro, segundo o indicador do CEPEA-Esalq, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada.

Apesar de uma desaceleração em novembro, os preços do algodão no ano acumulam alta de 40,1% – bem maior que a inflação oficial, de janeiro a novembro, que ficou em 2,22%, segundo o IPCA medido pelo IBGE. 

A alta dos preços e a falta dos produtos no Brasil já afetam os setores têxtil e de vestuário, e podem mexer com o preço das roupas em 2021. A empresária Maria Mendes, fundadora e idealizadora da recém-lançada marca carioca HORTO, de roupas com tecidos naturais, conta que teve dificuldades para comprar o material que será usado na coleção do ano que vem. Quando consegue encontrar o algodão e matérias-primas no mercado, ela explica que os preços costumam estar bem mais altos. 

“Os pequenos produtores acabam sendo os maiores impactados. Os grandes produtores fazem seus pedidos com uma antecedência muito maior, por causa do volume dos pedidos. O que acontece é que, no fim, acaba faltando material para os menores”, explica. 

Preço do algodão tem gerado impactos no setor têxtil brasileiro
Alta no preço do algodão tem gerado impactos no setor têxtil brasileiro.
(Foto: Secom-TO)

Maria Mendes conta que as compras de matéria prima para a marca começaram nas últimas semanas e vão abastecer a produção das roupas para a coleção de março de 2021. O desafio, segundo ela, vai ser o preço final dos produtos. “Eu tenho tentado encontrar formas de não repassar para o consumidor todo esse aumento que eu tive, mas é muito difícil. Alguma alta deve ter”, ela conta. 

Apesar das dificuldades dos pequenos produtores, os representantes da indústria têxtil garantem que o fenômeno da alta dos preços e falta dos produtos é temporário. Segundo Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, o problema é pontual, causado pelo aumento forte da demanda que aconteceu com a retomada da produção, totalmente paralisada durante o pior momento da pandemia no país.

“O que houve é que aqueles que operaram de forma parcial durante a pandemia, usaram todo o seu estoque de matéria prima. Na volta do mercado, você não tem um sincronismo perfeito. Houve um forte crescimento de demanda e essa dessincronização”, analisa ele. A avaliação de Pimentel, no entanto, é que a normalização no setor deve acontecer ainda no primeiro trimestre de 2021.

Além das confecções de roupas, os preços altos das matérias-primas mexem também com a produção de calçados no país. Andrea Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, uma das maiores produtoras do setor no país, conta que a empresa tem sentido os custos mais altos de diversas matérias-primas. “Existe essa pressão pelo aumento dos preços vindo principalmente do papel, dos têxteis e de produtos químicos”, diz ela. “A gente acredita que a cadeia deve se normalizar até março de 2021”, completa.

Para o economista Luiz Roberto Cunha, professor do Departamento de Economia da PUC-RJ, a alta nos preços do vestuário e calçados no próximo ano pode não acontecer com tanta intensidade. Ele explica que o setor, no ano de 2020, sofreu com a demanda fraca gerada pela pandemia e deflação dos preços.

A medição feita pelo IPCA, do IBGE, mostra que os preços do vestuário têm queda de 1,77%, no acumulado de janeiro a outubro. No caso dos calçados, a baixa dos preços foi maior: de 2,49%. “A inflação deve subir em 2021, mas pode não haver um repasse tão intenso no ano que vem nesses setores porque boa parte dele vendeu pouco em 2020”, explica. Segundo ele, os pequenos produtores, nesse cenário, é que acabam sofrendo mais. “As grandes indústrias se antecipam”, diz.

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