Fundado em 2014, Movimento Brasil Livre (MBL) não deve chegar ao fim por causa da polêmica envolvendo 'Mamãe Falei, segundo avaliação do filósofo e interlocutor do grupo Joel Pinheiro.
por Julia Melo em 14/03/22 13:56
Bandeira do Movimento Brasil Livre (MBL). Foto: Valter Campanato (Agência Brasil)
Desde o rompimento com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), ação vista a partir de 2019, o Movimento Brasil Livre (MBL) busca entender se vai ficar do lado de uma política responsável, que busca diálogo e negociação ou se repetirá a mobilização sensacionalista e “gritalhona”. É nisso que acredita o economista e filósofo Joel Pinheiro, que se define como um interlocutor do grupo.
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Em entrevista ao Café do MyNews desta segunda-feira (14), Pinheiro comentou sobre estratégias e ações e fez críticas e elogios a integrantes do grupo de direita. Segundo ele, o rompimento com o presidente da República marcou o início de mais moderação do MBL. Mas o vazamento dos áudios sexistas do deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) e a reação do coordenador do grupo Renan Santos, que gritou numa live contra a cassação de do Val mostram uma dificuldade persistente em se posicionar mais ou menos longe do extremismo.
O filósofo acredita que a forte presença digital do grupo, parte vital de sua popularidade, depende muito da linha sensacionalista. “Esse tipo de comunicação está muito ligado a um jeito de proceder também. Um jeito às vezes sensacionalista, beirando o extremismo, levando as pessoas ao radicalismo, à histeria quase total na sua comunicação. Acusando as pessoas, com muito oportunismo, às vezes sem provas. Eu lembro, dessa fase supostamente mais democrática e madura do MBL, a campanha feita sem provas contra o padre Júlio Lancellotti aqui de São Paulo”, afirmou Joel Pinheiro.
Em 2020, quando era candidato do Patriota à prefeitura de São Paulo, Arthur do Val gravou vídeos em que acusou o padre Júlio Lancellotti de fomentar o tráfico de drogas na capital paulista. Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo e conhecido pelas ações humanitárias feitas à população de rua, foi chamado de “cafetão da miséria” pelo deputado. A Justiça Eleitoral ordenou a exclusão das publicações nas redes sociais.
A estratégia de causar nas redes sociais faz o grupo ter mais relevância. No episódio com o padre Júlio Lancelotti, os ataques sem provas aconteceram em meio à campanha eleitoral. Arthur do Val, chamado de “Mamãe Falei” pelo trabalho feito em seu canal do YouTube, era uma candidato de direita antibolsonaro, assim como a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). No final do primeiro turno, ele conseguiu 9,78% dos votos, contra 1,84% de Hasselmann. Do Val pontuou mais que o petista Jilmar Tatto, que conseguiu 8,65%.
Para Joel Pinheiro, os quase 10% no total de votos foi um número expressivo para o deputado, que pode não ter ocupado a cadeira de prefeito, mas ganhou eleitores: “Do Val e Joice partiram de intenções de voto similares: 1 ou 2% dos votos. […] Ou seja, ele teve um resultado em que saiu se sentindo um vencedor”.
O filósofo considera que a iniciativa de ir ao Leste Europeu registrar o conflito na Ucrânia foi uma ação de marketing do MBL, que “sabe gerar barulho”. Os desdobramentos, no entanto, acabaram diferentes do que o grupo pode ter imaginado como impacto da ida a um território em guerra para contribuir com registros fotográficos e produção de coquetel molotov.
Nos áudios que se tornaram públicos no começo de março através do jornal Metrópoles, o deputado falou que as mulheres ucranianas são fáceis de “pegar” porque são pobres e comparou a beleza das refugiadas com a das brasileiras. Desde então, Arthur do Val anunciou afastamento do MBL e a desistência da pré-candidatura ao governo de São Paulo. Ele também está sob processos que analisam cassação de seu mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e a expulsão do Podemos.
No entanto, Joel Pinheiro defende que nem todos os integrantes do MBL têm uma postura semelhante à do “Mamãe Falei”. Para o filósofo, o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) “não é um deputado youtuber. É alguém que amadureceu muito e faz política de gente grande”, apesar de já ter feito coisas “vergonhosas” como entrar em hospitais durante a pandemia com a justificativa de fiscalizar os espaços.
A ação aconteceu em abril de 2021, em meio à segunda onda da pandemia, e foi feita por Kataguiri e do Val. Na época, o governo de São Paulo criticou a atitude e não recomendou a entrada em espaços hospitalares sem estar com alguma condição que necessite de atendimento, para evitar contaminação.
O deputado federal Kim Kataguiri teve um papel bastante ativo através do MBL em 2016 durante o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em fevereiro, esteve envolvido num episódio polêmico do Flow Podcast, em que disse ter achado errada a criminalização do partido nazista na Alemanha. Para Joel, Kataguiri não defendeu o nazismo e a sua fala não teve a mesma gravidade do que foi dito por Arthur do Val.
Perguntado se essas polêmicas – que têm ganhado cada vez mais visibilidade e condenação de todos os lados do debate político – vão acabar com o movimento, Joel Pinheiro acredita que não. Segundo o filósofo, são situações que “passam” e que são esquecidas pelo povo.
Para assistir à entrevista de Pinheiro completa, acesse a edição desta segunda-feira (14) do Café do MyNews abaixo:
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