Pastor Arilton Moura pediu R$ 15 mil e mais um quilo de ouro para para liberar verbas para uma prefeitura de Luís Domingues (MA).
por Sara Goldschmidt em 23/03/22 16:59
Áudios do ministro da Educação, Milton Ribeiro, foram os primeiros a vazar. O chefe da pasta afirmou numa gravação que o Ministério da Educação favorece prefeitos amigos de pastores. Foto: Valter Campanato (Agência Brasil)
Um novo áudio relacionado ao “gabinete paralelo” de pastores dentro do Ministério da Educação (MEC) foi revelado nesta terça-feira (22) pelo jornal Estadão. Nele, o prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município de Luís Domingues (MA), mostra que o pastor Arilton Moura pediu R$ 15 mil antecipados para protocolar demandas junto ao MEC. Após a liberação de recursos, o prefeito teria que pagar um quilo de ouro.
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Na segunda-feira (21), a Folha de S.Paulo mostrou os primeiros áudios do caso no qual o ministro da Educação, Milton Ribeiro falava sobre o favorecimento de prefeitos amigos de pastores na liberação de dinheiro do MEC. Essa preferência seria um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os pastores – Arilton Moura e Gilmar Santos – não têm ligação oficial com o ministério e por isso fazem parte do que está sendo chamado de “gabinete paralelo”.
Segundo Gilberto Braga, a conversa em que teria acontecido o pedido de propina foi em Brasília, em abril do ano passado, após uma reunião no MEC. O pastor Arilton teria convidado os prefeitos para almoçar, e abertamente, diante da presença de todos, falou sobre os pagamentos indevidos.
Os R$ 15 mil, além do quilo de ouro, seriam para a liberação de R$ 10 milhões do Ministério da Educação para a prefeitura de Luís Domingues, cidade da qual Braga é prefeito. Quanto ao pagamento em ouro, o pedido foi feito porque a região onde o município está localizado possui uma área de mineração.
O prefeito ressalta ainda que o pastor Arilton não pediu segredo sobre o acordo, falava a respeito dos valores num papo muito aberto, com normalidade. E que o pastor teria revelado os valores enviados a outros municípios, e que os prefeitos presentes no almoço permaneceram calados, não confirmaram e nem negaram que tivessem recebido o dinheiro. Ao Estadão, Gilberto Braga disse que não aceitou a proposta do pastor.
Outro prefeito ouvido disse que Arilton passou os dados da sua conta para que os prefeitos fizessem a transferência da primeira parte do pagamento. E como ele não o fez, o seu pedido não foi protocolado junto ao MEC.
A reunião no Ministério da Educação que antecedeu o almoço não estava na agenda do ministro Milton Ribeiro e foi solicitada pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Gilmar é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton, assessor de assuntos políticos da entidade. Ambos não são funcionários públicos.
Durante o encontro no MEC, Milton Ribeiro teria dito aos prefeitos que a pasta tinha recursos, e os estimulou a buscar verbas para seus municípios.
Na terça pela manhã, antes do áudio de Gilberto Braga, Milton Ribeiro se pronunciou sobre o favorecimento no repasse de recursos aos municípios. Ele negou qualquer alocação indevida de recursos e afirmou que Bolsonaro só pediu para ele recebesse todos que procurassem o governo – incluindo os citados na reportagem.
Ribeiro ressaltou que independentemente de sua formação religiosa, ele tem compromisso com a laicidade do Estado, e que não há qualquer hipótese e nenhuma previsão orçamentária que possibilite a alocação de recursos para qualquer denominação religiosa.
Na terça-feira (22) à tarde, parlamentares da oposição apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) notícias-crime contra o ministro da Educação, o presidente Bolsonaro e os pastores envolvidos. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pede que Milton Ribeiro e Bolsonaro sejam investigados pelos crimes de peculato, emprego irregular de verbas ou rendas públicas, corrupção passiva e prevaricação.
Já os pastores, por tráfico de influência e corrupção ativa e os servidores do MEC apontados como supostos integrantes do “gabinete paralelo”, investigados por usurpação de função pública.
O líder da minoria na Câmara, deputado Alencar Santana Braga (PT-SP), pede que, se confirmadas irregularidades, Milton Ribeiro seja afastado do cargo. O deputado Professor Israel (PV-DF) pediu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as acusações.
Desde a sexta-feira (18) quando o caso do gabinete paralelo no MEC veio à tona, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura não se manifestaram. O presidente Jair Bolsonaro (PL) também não comentou o assunto. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defendeu na terça (22) a permanência de Milton Ribeiro no comando da pasta. O filho do presidente disse que Ribeiro está fazendo um trabalho fenomenal na educação e que, na sua opinião, deve continuar ministro num segundo mandato de Bolsonaro.
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