Do descrédito ao sistema eleitoral brasileiro às recorrentes tentativas de reconstituição da confiança nas urnas eletrônicas.
por Paulo Totti em 06/05/22 11:12
Urna eleitoral. Foto: Fernando Frazão (Agência Brasil)
Os últimos dias de abril e os primeiros de maio têm sido pouco generosos com os adversários da candidatura de Lula à presidência da república. Ventos contrários sopram não só das profundezas do país – o grande escândalo é o extermínio continuado da comunidade Yanomami em Roraima – como além das quatro linhas da pátria amada Brasil.
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Tudo começou quando o comitê de direitos humanos da ONU, depois de seis anos debruçado sobre o processo, chegou à conclusão de que o ex-presidente brasileiro foi condenado à prisão em 2017/18 por um juiz parcial e incompetente que lhe tirou o direito de voltar, na época, ao Palácio do Planalto. A adversidade, sem representar o fim do inferno astral, culminou com a notícia da agência Reuters de que a CIA recomendou ao presidente Bolsonaro a deixar de falar mal do sistema eleitoral brasileiro.
No intervalo, Lula virou capa da revista Time e Bolsonaro, na saída do palácio do Planalto, declarou guerra a Leonardo DiCaprio: “É bom o DiCaprio ficar de boca fechada em vez de ficar falando besteira por aí”, disse o presidente aos descerebrados do cercadinho. O ator, como se sabe, estimulou os adolescentes brasileiros a providenciarem o título de eleitor.
Segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, entre janeiro a maio deste ano, 2.042.817 jovens de 16 a 18 anos inscreveram-se para votar. Em grande parte foram influenciados por artistas nacionais e estrangeiros que se juntaram ao TSE para aumentar o interesse dos adolescentes pelas eleições.
Pesquisas indicam que nessa faixa etária, 51% dos eleitores pretendem votar em Lula. Cerca de 20% estão indecisos. Daí, certamente, surgiu a repentina aversão de Bolsonaro ao ex-namorado de Giselle Bündchen.
A capa da Time foi evidentemente simpática a Lula e não deixou de preocupar o governo Bolsonaro por mais uma boa acolhida que a candidatura petista encontra no âmbito internacional. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse que a revista americana menospreza a memória e a inteligência dos brasileiros de bem. “Lamento que enalteça e dê espaço a quem tanto mal fez ao Brasil e, com seu vice, canta o Hino da Internacional Socialista. Venceremos o mal!”, tuitou o ministro.
Lula recebeu críticas (corretas) por considerar Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky igualmente culpados pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Petistas, entretanto, afirmam que sobre esse tema Lula declarou também à revista: “Foi errado invadir.(…) Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz”. E incluiu na lista de responsáveis (corretamente) os Estados Unidos, a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O episódio da recomendação norte-americana a Bolsonaro sobre as recorrentes investidas de descrédito ao sistema eleitoral brasileiro ocorreu em julho de 2021, quando o diretor-geral da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), Williams Burns, depois de encontro no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro, jantou na residência do embaixador em Brasília com os ministros generais Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos.
Em nota, o chefe do GSI confirmou na quinta-feira (5) a realização do encontro, mas foi categórico: “não recebe recados de nenhum país do mundo, nem os transmite”.
Enquanto a Terceira Via implodia, como estava previsto, e o União Brasil desertava em busca de um voo solo (“chapa pura”), ouviu-se durante toda a semana o alarido de manifestações em favor da democracia e da segurança das urnas eletrônicas. Do ministro da Defesa ao presidente do Congresso, do comandante do Exército ao presidente da Câmara, houve juras de lealdade ao estado democrático de direito.
Até da Casa Branca, por intermédio da subsecretária de estado Victoria Nuland que visitava o Brasil, ouviu-se que os Estados Unidos confiam no sistema eleitoral brasileiro. “E os líderes brasileiros precisam expressar essa mesma confiança no sistema”, disse Nuland, numa subliminar reiteração de interferência.
Não vai bem a democracia de um país que necessita de tanta manifestação de confiança em seu sistema eleitoral.
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