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Quão válida é essa proibição?

É proibido pedir esmola nos trens e nas estações

Se há um crescimento econômico, talvez realmente haja, por que isso não se reflete em nada para a população?

por Atilla Kuş em 07/07/22 14:10

Na semana passada assisti, eventualmente, a um vídeo em que Paulo Guedes, o ministro da economia, dizia que o Brasil estava à frente dos Estados Unidos na política monetária e que Joe Biden, presidente dos EUA, estava seguindo a trilha do presidente Jair Bolsonaro. Neste mesmo discurso ainda, Guedes afirmava uma previsão de crescimento de 1,7% no PIB do Brasil e dizia que o país está rumo a um crescimento. Como não sou economista, talvez eu esteja muito longe de bem saber os parâmetros do ministro para entender como se prevê este tal do crescimento. Porém, como venho acompanhando e analisando a população, digo que a realidade da maioria do povo é bem diferente do que diz o ministro.

O título que escolhi para esta reflexão é um anúncio que sempre ouço no metrô de São Paulo e há muito venho pensando quanto é válido este anúncio que se repete a cada 5 minutos tanto nos trens quanto nas estações de metrô, pois sempre vejo alguém pedir esmola ou fazer comércio ambulante apesar desta proibição. Mas não é somente isso. Quão válida é essa proibição em uma sociedade em que contamos com um número significante de desemprego e de insegurança alimentar. Só na cidade de São Paulo o número da população em situação de rua deve estar acima de 32 mil. O último censo da população em situação de rua feito pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da Prefeitura de São Paulo revelou que no final de 2021 havia 31.884 pessoas em situação de rua.

Estas pessoas, de alguma forma, conseguem acessar o metrô, o trem e o ônibus para pedir esmola ou vender produtos pequenos (como fone de ouvido etc.) para poder pelo menos ter uma refeição ou levar algo para que os filhos – também em situação de rua – possam comer. Eles têm acesso a estes meios de transporte como mero direito civil deles, mas lhes é negado o direito mais básico de viver dignamente pelo menos vendendo algum produto que facilite ao menos a compra de um lanche que será provavelmente a única refeição do dia.

Recentemente estive em um shopping com alguns amigos e vi que agora as pessoas pedem alguma ajuda financeira por lá também. Ou seja, o pedido de esmolas já não é mais limitado ao metrô e trem. Está acontecendo em vários lugares e está cada vez mais rotinizado no nosso dia a dia, em qualquer lugar da cidade, ver alguém em situação de vulnerabilidade sem o que comer.

Diante desta situação, pergunto-me onde é que cabe a fala supracitada do ministro. Se há um crescimento econômico, talvez realmente haja, por que isso não se reflete em nada para a população? As situações que citei são apenas casos que vejo na cidade de São Paulo. Deve haver vários outros piores em outras cidades brasileiras. Onde será que o dinheiro público está indo ao invés de ajudar o brasileiro a ter o que comer no seu dia a dia? Ou será que o crescimento previsto pelo ministro é limitado apenas à sua bolha ideológica?

Vendo um dos últimos exemplos de escândalo que ocorreram, parece que, sim, o governo atual sabe bem para onde direcionar a verba pública: as instituições, prefeituras e lugares bem definidos pelos aliados de Jair Bolsonaro onde eles conseguem “rachar” uma parte destas verbas ou recebem outros privilégios em troca disso, como supostamente bíblias ou barras de ouro com direito ao pressentimento caso haja operação da Polícia Federal.

Pois é, meus amigos e minhas amigas. É proibido pedir esmolas nos trens e nas estações, mas é totalmente permitido morrer de fome e de frio por não ter abrigo e condição para comprar um pão sequer.

*Atilla Kuş – Cientista da religião, mestre e doutorando em Ciência da Religião pela PUC-SP. Membro do Centro de Estudos das Religiões Alternativas e de Origem Oriental no Brasil-CERAL da PUC-SP. 

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