O olho mais azul, livro tema do Clube do Livro do My News é um livro que você detesterá ler. Mas não conseguirá largar.
por Aniello Olinto Guimarães Greco Junior em 20/08/22 11:53
O olho mais azul, livro tema do Clube do Livro do My News é um livro que você detesterá ler. Mas não conseguirá largar. Toni Morrison vai te maltratar. Sem rodeios, sem suavidade. Sem buscas estéticas, sem construção de rodeios, sem suavidade.
A perversidade da autora beira o sadismo ao escolher a figura de Pecola como centro do livro. Uma criança preta, pobre, feia e de lar insalubre nos Estados Unidos da década de 1940. Mas assim como as Pecolas da vida real, a protagonista de O olho mais azul não tem o direito sequer de narrar a própria história. Conhecemos Pecola por suas conterrâneas, outras crianças pretas e pobres do EUA segregacionista. Mas estas, por acasos frios e desumanos, ficam alguns milímetros acima do fundo desumano, e mesmo sendo na prática iguais a nossa protagonista, ao mesmo tempo não são.
Não é um mundo de sutilezas. E somos jogados neste mundo também sem cerimônias. Na primeira frase já descobrimos, com aquela indiferença que só as crianças são capazes, que certas flores plantadas não cresceram pois Pecola engravidou de seu próprio pai.
Os eventos se seguem em capítulos fragmentados, sem cronologia linear, e com uma série de lacunas. Como na vida real, conhecemos as pessoas por fragmentos, e tentamos reconstruir um todo por meio de um mosaico. Alguns cacos de ingenuidade infantil, outros de fantasia, que poderiam dar suavidade mas apenas humanizam os vários cacos das mais diferentes violências que Pecola e os demais sofrem.
É uma história sem heróis, sem vilões, onde ninguém e todos são bondosos e malévolos. E colocou este leitor em um mundo tão distante e desconhecido do meu que poderia ser fantasia. Mas que sabemos que esta muitas vezes a poucos metros, mas nos recusamos a ver.
O olho mais azul é a história de uma criança preta dos Estados Unidos da década de 1940 que tem por seu maior desejo ter olhos azuis. Um desejo tão absurdo quanto compreensível. Um exemplo de uma história que por seu regionalismo tão forte acaba se tornando universal. Uma história que você irá detestar. Mas que vai te transformar, e você vai agradecer.
É diferente aprender sobre racismo estrutural, ditadura da beleza, machismo e misoginia, e ouvir a voz de uma personagem falando não de preconceitos, mas contando sua história. Poderes que muitas vezes a ficção consegue ter mais que a vida real.
Espero que você aceite o convite de conhecer Pecola, e viver em seu mundo de horror por alguns dias. E depois espero que sejamos capazes de ver um pouco as Pecolas reais e seus olhos que querem ser azuis.
*Aniello Olinto Guimarães Greco Junior é servidor público concursado do Tribunal Superior do Trabalho, Aniello Greco passou tempo demais na universidade, sem obter diploma. Já fingiu ser jogador de xadrez, de poker, crítico de cinema, sommelier de cerveja. Sabe de quase tudo um pouco, e quase tudo mal.
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