Notícia falsa sobre vacinas é repetida, inclusive, por profissionais da saúde e pessoas em cargos públicos
por Gabriela Lisbôa em 18/01/21 11:27
Uma das coisas mais legais de trabalhar em um canal de jornalismo no YouTube como o MyNews é o contato quase imediato com o público. Enquanto o jornal está no ar, vamos recebendo pelo chat elogios, críticas e perguntas que tentamos responder sempre que possível. Nesta terça-feira (8), a Margot Sell, que nos acompanha quase diariamente no Dinheiro na Conta, disse que estava apreensiva com a possibilidade da vacina contra a Covid-19 alterar o nosso DNA.
De fato, essa é uma informação que está circulando nos grupos de WhatsApp, nas redes sociais e conta, inclusive, com divulgação feita por profissionais da saúde e pessoas que ocupam cargos públicos. Entre elas está deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que fez uma publicação em tom de alerta no Twitter.
Antes que qualquer coisa, é preciso deixar claro que é mentira. Não existe a possibilidade de uma vacina – seja ela qual for – alterar o DNA de uma pessoa.
Dito isso, vamos à explicação científica.
No centro da Fake News está a vacina desenvolvida em uma parceria entre a farmacêutica Pfizer e o BioNTech, uma empresa alemã de biotecnologia. Essa vacina usa uma tecnologia chamada RNA Mensageiro, que ainda é pouco conhecida e, por isso, desperta tanta desconfiança.
Dizer que uma vacina é do tipo RNA Mensageiro significa dizer que ela vai colocar dentro do nosso organismo, nas nossas células, uma cópia de uma parte do código genético do vírus. Isso vai fazer com que as células produzam uma proteína do coronavírus. É essa proteína que vai provocar o nosso sistema imune a criar anticorpos — ou seja, defesas contra o vírus.
Para um leigo, isso parecer muito complicado, por isso tanta confusão. Para o biólogo imunologista Gustavo Cabral, que desenvolveu três pesquisas de pós-doutorado em vacinas, o maior problema é que profissionais da saúde estejam compartilhando esse tipo de Fake News. Ele explica que basta lembrar das aulas de biologia do ensino fundamental para entender como o RNA Mensageiro funciona.
As células são formadas por um núcleo e por uma substância que fica em volta e é chamada de citoplasma. A vacina só vai até o citoplasma, não chega no núcleo, onde está o nosso DNA.
“Eu acho que as pessoas da área da saúde deveriam se envergonhar de passar uma informação dessas para o público porque demonstra desconhecimento. É uma informação básica. O DNA está no núcleo da célula e a vacina não chega no núcleo, então não tem como alterar o DNA”, diz Cabral.
O biólogo também explica que essa tecnologia, embora seja uma novidade para o grande público, está sendo desenvolvida desde a década de 1990. “Existe uma quantidade enorme de estudos mostrando que uma vacina RNA não pode alterar o DNA”.
Algumas variações da mesma Fake News dizem que a “vacina chinesa”, como ficou conhecida a Coronavac —desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac com o apoio do Instituto Butantan—, também altera o DNA.
Segundo Cabral, isso também não é possível. Esta vacina usa a mesma tecnologia, a mesma estratégia, de outras vacinas como a da gripe ou da raiva, que são consideradas seguras e usadas em humanos há muitos anos.
“Essa estratégia usa o que nós chamamos de vírus morto. Na verdade, não é morto porque o vírus não tem vida, é inativado. Mas vou usar essa expressão para todo mundo entender que ele não tem condições de fazer nada, de se replicar. Ele apenas estimula o sistema imunológico que percebe que ali tem um corpo estranho que precisa ser atacado”, finaliza o biólogo imunologista.
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