STF também deu prazo de 48 horas para governo definir datas de imunização
por Rodrigo Borges Delfim em 13/12/20 17:49
Atualizado às 17h de 13.dez.2020
O plano de vacinação contra a Covid-19 que foi divulgado pelo governo federal no último sábado (12) já é pivô de uma nova polêmica. Pesquisadores que atuaram como consultores do documento afirmaram que souberam do lançamento pela imprensa e não tiveram acesso à versão final do plano antes da entrega ao Supremo Tribunal Federal.
“Acabamos de saber pela imprensa que o governo enviou um plano, no qual constam nossos nomes e nós não vimos o documento. Algo que nos meus 25 anos de pesquisadora nunca tinha vivido”, escreveu no Twitter a enfermeira, epidemiologista e professora da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), Ethel Maciel.
A pesquisadora é um dos 150 nomes citados no plano entregue ao STF pelo governo. Um grupo de 36 deles divulgou uma nota de repúdio ao fato de o documento ter sido divulgado sem o aval prévio desse corpo técnico.
“Nos causou surpresa e estranheza que o documento no qual constam os nomes dos pesquisadores deste grupo técnico não nos foi apresentado anteriormente e não obteve nossa anuência. Importante destacar que o grupo técnico havia solicitado reunião e manifestado preocupação pela retirada de grupos prioritários e pela não inclusão de todas as vacinas disponíveis que se mostrarem seguras e eficazes.”, diz trecho da nota.
Ainda neste domingo (13), o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, deu prazo de 48 horas para que o Ministério da Saúde informe uma data de início e de término do plano apresentado no dia anterior.
Na classe política também há questionamentos do governo federal, que se manifestaram via rede social. A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), que chegou a elogiar o plano, cobrou explicações do governo quanto à não anuência dos especialistas.
Além de criticar o governo pelo plano apresentado ao STF, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) diz também que a Corte deveria tomar uma atitude em relação ao caso.
Também via rede social, o Partido Novo acusou o governo de falsidade ideológica pela não anuência dos especialistas ao plano levado ao STF.
Já a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) diz não ver uso indevido dos nomes dos pesquisadores e que o que está ocorrendo é uma grande confusão.
Em nota disponível no site do Ministério da Saúde, a pasta diz que o plano será apresentado e detalhado à população na próxima quarta-feira (16). E ressalta que ele “poderá sofrer modificações durante o seu processo de implementação”.
A polêmica em torno do plano apresentado pelo Ministério da Saúde ao STF se soma à disputa política e ideológica criada em torno do combate à Covid-19.
Mesmo com o plano entregue ao STF, ainda não se sabe ao certo quando e como a vacinação terá início, já que não há um imunizante registrado e licenciado no país até o momento. Ao mesmo tempo, começa a ganhar terreno um sentimento de desconfiança em relação à vacinação em si, movido basicamente por questões ideológicas.
Uma pesquisa divulgada neste sábado (12) pelo Instituto Datafolha aponta que 22% dos entrevistados disseram que não pretendem se vacinar contra a Covid-19, contra 9% que manifestavam tal posição em agosto.
A resistência é ainda maior quando o Datafolha questiona a respeito de uma vacina desenvolvida pela China, rejeitada por 50% dos entrevistados. Imunizantes elaborados por Estados Unidos, Inglaterra e Rússia são negados por 23%, 26% e 36% dos entrevistados, respectivamente.
Essa desconfiança encontra eco em notícias falsas que circulam pelas redes sociais, como a de que vacinas contra a Covid-19 teriam o poder de alterar o DNA de quem recebesse as doses.
É de origem chinesa a Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. É com ela que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que pretende iniciar a imunização dos paulistas em 25 de janeiro.
A atitude afronta o Ministério da Saúde, que diz que irá centralizar e coordenar a vacinação em nível nacional e reluta em utilizar o imunizante chinês. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), por sua vez, também alimenta uma postura hostil à China e a elementos provenientes do país asiático, incluindo a vacina.
A troca de farpas quanto à pandemia entre o governo federal e o paulista é vista como uma disputa antecipada à Presidência na eleição de 2022. Tanto Bolsonaro quanto Doria são considerados possíveis candidatos.
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