Radicalismo programado aumenta na proporção do avanço da aliança ao centro
Em 17/07/23 15:28
por Política com Bosco
João Bosco Rabello traz uma bagagem acumulada em mais de 45 anos de profissão, em grandes veículos nacionais como O Globo e O Estado de S.Paulo. Sua coluna, agora no MyNews, traz insights valiosos e análises aprofundadas do cenário político direto de Brasília para os leitores.
Imagem: Reprodução/GloboNews
Na medida em que o governo avança nas negociações com vistas à consolidação de uma aliança ao centro e à direita, essencial para sua estabilidade parlamentar, aumenta a intolerância programada da extrema-direita.
Não há coincidência, mas uma clara relação de causa e efeito. A melhora da economia, a perspectiva de mais espaço às forças conservadoras no governo, e a percepção de alguma calmaria no ambiente político reduzem a visibilidade dos extremistas e radicais.
A reação é a produção de episódios, com aparência de confrontos pontuais, que em seu conjunto configura uma articulada busca pela continuidade da polarização ideológica que marcou a eleição de 2018 e permeou todo o governo Bolsonaro, sob a liderança pessoal do ex-presidente.
A CPMI dos atos de 8 de janeiro é a fonte das senhas para manter mobilizado o eleitorado absolutamente fiel ao ex-presidente, ainda estimado entre 12 e 15%, tarefa que conta com o estímulo do comando do PL, interessado no capital eleitoral do ex-presidente nas eleições municipais e, quem sabe, por mais tempo.
É na comissão que parlamentares, inclusive os que a ela não pertencem, exibem toda a capacidade de obstrução radical protagonizando escândalos de toda a sorte – de cenas de transfobia a choros convulsivos pelos presos por vandalismo, transformados em vítimas injustiçadas.
Fora da comissão, em declarações estudadas, como a do deputado Eduardo Bolsonaro comparando professores a traficantes, tenta-se reavivar a polarização. Nas ruas, em aeroportos e shoppings, em aeronaves, dentro e fora do país, sucedem-se ataques a juízes do Supremo Tribunal Federal, por ativistas órfãos desde a derrota eleitoral de outubro de 2022.
A lista é extensa – já foram alvos os ministros Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandovski e seu substituto, Cristiano Zanin e, mais recentemente, Alexandre de Moraes, que preside o Tribunal Superior Eleitoral.
Sem falar em mais de uma dezena de agressões ao da Justiça, Flávio Dino, eleito pelos bolsonaristas como inimigo número dois (o um é Moraes). Essa tática vem desde a derrota eleitoral e torna-se mais intensa pela frustração de o governo começar sua gestão, ainda na fase da transição, pela pauta econômica em detrimento da ideológica, uma possível surpresa para os extremistas.
O pouco barulho do governo com a inelegibilidade de Bolsonaro contribuiu favoravelmente para o avanço de um acordo político e para a maior intensidade da reação do ativismo como contraponto ao isolamento da extrema-direita.
“É um problema da Justiça”, disse Lula sobre a decisão do TSE que tira Bolsonaro das duas próximas disputas eleitorais, dando tratamento menor ao fato político mais significativo para a interrupção da polarização.
Há cálculo e certa dose de desespero na reação dos radicais. A perspectiva de a aliança em curso atrair parlamentares do PL e contribui para o isolamento ainda maior do núcleo do ex-presidente dentro da legenda.
É preciso, no entanto, atenção com um aspecto embutido nesses ataques a ministros: trata-se, antes de tudo, de um desafio ao Poder Judiciário quando ocorre na forma de agressão aos seus mais altos representantes na hierarquia da Justiça.
Um ataque solitário a um juiz, que se repete e ganha escala substantiva, multiplica o comportamento miliciano que se resume na prevalência da vontade individual sobre a coletiva, pela imposição da força sobre o direito, – na contramão da isonomia constitucional e democrática.
É preciso consequência para os infratores. Sem choro, nem vela.
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