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Balaio do Kotscho

“Lobos solitários” do Exército não são tão solitários assim.

Exploração dos eventos de janeiro e alegações de "lobos solitários" no contexto militar, levantando questionamentos sobre hierarquia e acusações.

Em 28/08/23 15:37
por Balaio do Kotscho

Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano

Durante três meses, os acampados em frente ao QG do Exército, em Brasília, pediam intervenção militar todo dia, e ninguém desconfiou de nada? Foto: Marcelo Casal Jr. Agência Brasil

E como fica a hierarquia?

Chamados pelas Forças Armadas de “lobos solitários”, para preservar a instituição, os generais e outros oficiais envolvidos no 8 de Janeiro vão servir na verdade de “bois de piranha”, pois é impossível que seus superiores e subordinados não tivessem conhecimento da armação golpista tramada antes mesmo da derrota de Bolsonaro.

Trata-se, na verdade, de mais uma conversa para “boi dormir” com o objetivo de desviar o assunto, enquanto a CPMI, o STF e a PF fecham o cerco a Jair Bolsonaro e outros militares da ativa e da reserva, envolvidos nos ataques às instituições, que começaram com o fechamento das estradas, passaram para a ocupação das frentes dos quarteis e desaguaram na invasão de Brasília.

Só falta agora a defesa de Bolsonaro alegar que ele foi obrigado por esses “lobos solitários”, que frequentaram o celular do Mauro Cid, a aderir ao golpe, em que o ex-presidente seria o único beneficiado, e que só não teria dado certo porque alguns parças roeram a corda ou descobriram que não havia as mínimas condições para se dar um golpe militar com tanques e canhões em pleno ano de 2023.

O ataque às democracias agora se dá por dentro, com o lento enfraquecimento das instituições pouco a pouco, como aconteceu na Polonia, na Hungria, na Venezuela e até nos Estados Unidos. Sim, a maior democracia do mundo também foi ameaçada quando Donald Trump convocou seus apoiadores a invadir o Capitólio e melar as eleições de 2020. Não é exatamente disso que ele está sendo acusado na Justiça?

O erro dos militares é achar que são superiores em tudo, e que civil é tudo besta, acredita em qualquer lorota. Como seria possível a ação de “lobos solitários” numa corporação tão hierarquizada, que se baseia na disciplina e no respeito aos superiores, por mais de três meses, sem que os órgãos de informação e inteligência das próprias Forças Armadas de nada desconfiassem? Sabiam todos que as frentes dos quarteis eram ocupadas também por integrantes da chamada “família militar”, motivo alegado para que não fossem todos presos ao voltar para o QG do Exército naquela noite de 8 de Janeiro.

Ao entrar e sair dos quarteis, durante todo esse tempo com a frente ocupada por celerados que se embrulhavam na Bandeira Nacional e passavam o tempo entoando o nosso Hino, debaixo de chuva e de sol, clamando todos os dias por intervenção militar, será que ninguém desconfiou de nada? Esses militares que se omitiram também serão punidos?

Estamos assistindo a mais uma tentativa de abafar as graves acusações feitas às Forças Armadas, durante e depois do governo Bolsonaro, que vão desde a sua omissão na defesa das fronteiras da Amazônia tomadas pelo crime organizado que invadiu as áreas indígenas, à corrupção nas milionárias licitações para abastecer os quarteis, até chegar ao 8 de janeiro.

Uma hora os três poderes terão que discutir abertamente a questão militar e o papel das Forças Armadas em tempos de paz, antes que estoure alguma guerra interna ou externa detonada por um “lobo solitário”.

Vida que segue.

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