Partido faz movimento preventivo para garantir prioridade na hipótese de Lula não concorrer em 2026
Em 21/09/23 15:54
por Política com Bosco
João Bosco Rabello traz uma bagagem acumulada em mais de 45 anos de profissão, em grandes veículos nacionais como O Globo e O Estado de S.Paulo. Sua coluna, agora no MyNews, traz insights valiosos e análises aprofundadas do cenário político direto de Brasília para os leitores.
Foto: Secom-PI
A entrelinha que chama a atenção no empenho do PT em isolar potenciais candidatos á sucessão de Lula é a de que o partido não aposta todas as fichas na sua candidatura à reeleição em 2026.
Lula é candidato vitalício do PT à presidência da República. Portanto, a única forma de isso mudar é por espontânea renúncia a essa condição (não há redundância na frase, porque na política não é rara a figura do renunciado).
Em algum momento na estrada do terceiro mandato, Lula disse que não seria candidato à reeleição, o que gerou um apelo para que voltasse atrás, porque a declaração deflagrou a disputa interna pelo seu substituto.
Lula aquiesceu e deu nova declaração em sentido contrário: seria candidato, sim, em 2026. Mas a que prevalece real no plano interno é a primeira. No xadrez político não sobrevive o dito pelo não dito. A disputa pelo seu lugar prossegue, ainda que em caráter preventivo.
A primeira preocupação manifesta foi a do veterano Rui Falcão, presidente da Comissão de Constituição e Justiça e quadro histórico do partido. Sem rodeios, ele acusou o problema e não escondeu que a preocupação imediata era com o vice-presidente Geraldo Alckmin.
De centro-direita, capturado pelo presidente para um novo ciclo político aliado aos adversários de ontem, Alckmin era o perfil ideal para garantir a veracidade da frente ampla, decisiva para a vitória eleitoral, e para um governo compartilhado, abrindo as portas a uma aliança que isolasse a extrema-direita no parlamento.
Falcão não economizou elogios a Alckmin, inclusive quanto à sua honestidade de propósitos, mas ainda assim não seria justo que herdasse o lugar, mesmo de forma involuntária, dada a frustração no partido com tal cenário. Falta-lhe o DNA petista.
Com a eleição e a composição miscigenada do governo, outros nomes passaram a ser potenciais candidatos, como Simone Tebet, Fernando Haddad e, pelo seu desempenho essencial no combate ao golpe, o ministro da Justiça Flávio Dino. E Dino logo passou à condição de favorito de Lula à vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal.
Um movimento de aparente louvor ao miistro é, no entanto, uma forma de afastá-lo do páreo sucessório emprestando ao mérito inegável de sua atuação no governo, um lugar de honra no Olimpo do Judiciário – ele que conjuga em seu currículo a vivência múltipla de juiz federal, governador e, agora, senador.
Salvo engano, porém, Dino é o favorito do PT, sem qualquer indicação que o seja de Lula. Entre muitos outros, dois nomes permanecem na bolsa de apostas para além das fronteiras do partido: o presidente do Tribunal de
Contas da União, Bruno Dantas, e o Advogado-geral da União, Jorge Messias.
Como Dino, ainda no enredo especulativo, tem também as preferências dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, pode ser que o esforço do PT acabe gerando o fato que hoje é ainda versão.
É de Nelson Rodrigues a máxima de que se uns pudessem ler o pensamento dos outros, ninguém se cumprimentava. Conhecedor do que de mundano vai na alma humana, o dramaturgo sabia que o pensamento é indevassável e o único e verdadeiro nicho de liberdade individual.
E Lula ainda não revelou o que pensa.
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