De acordo com economistas, reformas administrativas são capazes de auxiliar na recuperação do país
por Vitor Hugo Gonçalves em 06/01/21 15:29
Nesta terça (05), o Ibovespa, principal indicador do comportamento das ações negociadas na bolsa de valores oficial do Brasil, registrou uma variação positiva de 0.44% em relação ao último pregão, mesmo após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmar que o país está quebrado e que ele não consegue fazer nada para amenizar a situação.
Para a economista Zeina Latif, convidada do Almoço do MyNews de hoje (06), o desempenho do mercado frente à descomprometida fala manifesta um preocupante indício de administração à deriva, correspondendo à máxima ‘salve-se quem puder’.
“Há duas coisas preocupantes: o teor em si, porque mostra um presidente que não está antenado aos problemas do país, e a não reação dos mercados financeiros, demonstrando que não vale a pena ouvi-lo”, apontou a economista durante participação no Almoço do MyNews desta quarta-feira (6)
Mais cedo, durante o programa Morning Call desta quarta, o gestor da companhia Infinity Asset, Victor Hasegawa, analisou o discurso de Bolsonaro como algo típico de seu populismo. Ele disse que o Brasil não está, de fato, falido, mas que a declaração passa uma imagem negativa do país
“Mesmo assim, é uma mensagem ruim, porque o Brasil realmente pode quebrar se não forem aprovados os projetos necessários para que nós não cheguemos ao fundo do poço. Estamos perto, mas não estamos lá”, ponderou.
Retomando a recente alta nos índices, Latif alertou sobre as possíveis consequências desse isolamento administrativo, que, em confluência com o panorama internacional, já afeta as estruturas domésticas.
A indiferença do setor econômico perante as alegações de Bolsonaro, entretanto, não corroboram a postura presidencial, tendo em vista que o governo federal “está em paralisia mediante uma crise tão grave, com tantos desafios pela frente”.
“A nossa bolsa, apesar de estar em um patamar pré-crise, está muito defasada em relação às de outros países emergentes. Quando olhamos o comportamento do dólar, a nossa média é muito pior que a de países emergentes”, esclareceu a economista.
Hasegawa desmentiu a manifestação de Bolsonaro com exemplos práticos de possíveis procedimentos operacionais e monetários que poderiam ser feitos – como a atualização da tabela do IR, também mencionada pelo presidente.
“Essa fala sobre não ter o que fazer não é verdade, porque ele barrou alguns projetos e medidas que seriam impopulares, mas que desviariam nosso percurso da quebradeira. Por exemplo: uma reforma administrativa que incluísse funcionalismo público; adesão ao imposto digital (o qual o ministro Paulo Guedes é a favor) […] Então, ele teria o que fazer. Custaria, no curto prazo, alguns pontos na popularidade dele, mas, no longo prazo, poderia salvar o país”, concluiu.
Sobre o ministro da economia, Paulo Guedes, recaiu a descrição de ineficiência. Sem estabelecer diretrizes de comando assertivas, o braço direito de Bolsonaro, na visão de Latif, “não foi bem sucedido em sensibilizar e explicar ao presidente a importância da agenda econômica”, nota-se a carência de impor prioridades, estratégias políticas e diálogos com a sociedade e o Congresso.
“No fundo, o Paulo Guedes falhou no papel de convencimento”, resume a economista.
Desde o fim de 2020, a disputa pela presidência da Câmara está movimento o Congresso nacional. Uma série de negociações referentes ao apoio ou não de determinados candidatos está gerindo a ratificação de acordos jurídicos e coalizões – o alinhamento a pautas ideológicas e partidárias, sobretudo, vem delineando esses processos.
A possível abertura de um pedido de impeachment, subordinada ao presidente da Casa, pesa, de certa maneira, no estabelecimento dessas coligações. Para elucidar a questão, Latif recorre a um exemplo recente: “No governo Dilma ocorreram muitos erros de política econômica, e havia alternativa – um vice-presidente e um grupo político com agenda clara. Lamentavelmente, Dilma não conseguiu resolver os problemas econômicos do país, gerando uma crise sem saber como sair dela, e a sociedade reagiu. Agora, entretanto, não vemos esse quadro”.
Quanto à flexibilização do teto de gastos, a economista acredita não ser o momento ideal para instituir a atividade, mas que “a tendência é ter esse furo”. Para isso, ela admite que uma reforma administrativa seria a solução: temos uma baixa qualidade do gasto público e uma avenida de questões que podem ser melhoradas – encontrando recursos no orçamento que hoje estão engessados. Estão perdendo a oportunidade de fazer a coisa certa: realocar recursos preservando a regra do teto”, concluiu.
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