Candidato derrotado do PSOL teve, neste segundo turno, votação muito próxima daquela de 2020, mesmo tendo mais recursos e o apoio do presidente Lula
Em 29/10/24 12:18
por Coluna do Prando
Rodrigo Augusto Prando é Mestre e Doutor em Sociologia, Professor universitário e pesquisador. Conselheiro do Instituto Não Aceito Corrupção, membro da Comissão Permanente de Estudos de Políticas e Mídias Sociais do Instituto dos Advogados de São Paulo e voluntário do Movimento Escoteiro.Textos essenciais de serem lidos para acompanhar e refletir sobre os movimentos da sociedade e do Poder.
Com 59,35% dos votos válidos, Ricardo Nunes (MDB) derrotou Guilherme Boulos (PSOL) nas urnas | Fotos: Wikipédia/Assessoria de imprensa do prefeito Ricardo Nunes
O segundo turno na cidade de São Paulo seguiu a lógica do país: foi uma vitória do incumbente, Ricardo Nunes (MDB), num cenário no qual a reeleição nos municípios chegou a ficar na casa dos 80% — em 2020, ano pandêmico, ficou em cerca de 60%. Guilherme Boulos (PSOL) teve, neste segundo turno, votação muito próxima daquela de 2020, mesmo tendo mais recursos e o apoio do Presidente Lula (PT).
Os institutos de pesquisa foram bastante precisos nos dois turnos: no primeiro, apontavam um empate triplo entre Nunes, Boulos e Pablo Marçal (PRTB); no segundo, sempre apontaram uma boa distância entre Nunes e Boulos. A diferença entre Nunes (59,35% dos votos válidos) e Boulos (40,65%) foi dentro, por exemplo, da margem de erro do Datafolha que apontou, na véspera: Nunes com 57% e Boulos com 43%.
Nunes – assim como os demais prefeitos reeleitos – contou com a força da máquina, com uma coligação forte, vereadores nas ruas pedindo votos e apoio firme e presente do governador Tarcísio de Freitas. Apesar de ter demorado para que fosse conhecido pelos paulistanos, uma vez que herdou a prefeitura do falecido Bruno Covas, o poder da máquina e a cidade com obras em andamento foram elementos importantes da candidatura e lhe garantiram a vitória.
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Jair Bolsonaro (PL) dirigiu a Nunes um apoio reticente, protocolar, fraco mesmo. O ex-presidente – derrotado por Lula e inelegível – saiu menor do que entrou nessa eleição, e não apenas em São Paulo. Se, no primeiro turno, Nunes sentiu o impacto da candidatura de Marçal e correu risco de se ver alijado da disputa final, agora, os votos de Marçal foram em massa para o prefeito reeleito.
Tarcísio se consagrou como o grande vencedor desta eleição, uma vez que foi o cabo eleitoral de Nunes. Mas, no dia da votação de segundo turno, um fato ocorrido desabona a presença dele. O governador, sem provas, asseverou que integrantes da facção criminosa PCC teriam orientado familiares e apoiadores a votar em Boulos. Tal fato mancha a trajetória de Tarciso e terá, por certo, consequências jurídicas no âmbito eleitoral.
Boulos, por sua vez, tem sua segunda derrota – a primeira, em 2020, foi para o tucano Bruno Covas. Diz-se muito acerca da proximidade dos votos obtidos por Boulos, no segundo turno, em 2020 e em 2024, indicando um possível teto do psolista, que tem sua imagem construída e comunicada por sua participação no movimento social de luta pela moradia. Embora afirme ter orgulho de sua trajetória, há uma percepção de que sua conduta está ligada à invasão de propriedades privadas.
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Marçal, no primeiro turno, atacou todos os adversários, com agressividade conjugada às fake news. Fez insinuações de que Boulos era 1) usuário de cocaína; 2) de que havia sido preso por porte de drogas (desmentido rapidamente por tratar-se de um homônimo); e 3) apresentou um laudo falso antes do primeiro turno afirmando que Boulos havia sido internado por surto psicótico por uso de cocaína (já demostrado ser falso o documento pelas autoridades policiais).
Apesar de todo esse histórico, Boulos achou uma boa ideia participar de uma “entrevista” de emprego com Marçal, proposta que Nunes recusou. Politicamente, o psolista fez um movimento político em busca do voto por mudança que estaria no eleitorado marçalista; biograficamente, todavia, foi uma ação de legitimar a conduta de Marçal de ataque à civilidade política e aos adversários. E, por fim, tal ação não trouxe nada de votos e, pior, Boulos ganhou apenas em três distritos eleitorais em São Paulo.
Nunes, vencedor, sai fortalecido, junto com Tarcíso e Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e um dos impulsionadores da campanha do prefeito reeleito — o PSD foi o maior vitorioso no segundo turno das eleições deste ano, elegendo nove de seus candidatos, o maior número entre os partidos. Boulos sai derrotado, enfraquecido, ao lado de Lula e do campo progressista.
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