Em entrevista à Revista Legado, parceira do MyNews, empresário argentino revela que adquiriu a obra por US$1,35 milhão (R$ 7,7 milhões pela cotação atual)
por Camilla Lucena* em 05/11/24 09:32
Eduardo Constantini compra como comprou 'Abaporu' | Fotos: Reprodução YouTube Legado/Wikipédia
Era novembro de 1995 quando o empresário argentino Eduardo Costantini, que fez fortuna no mercado imobiliário, chegou à Nova York para participar de um leilão na renomada Christie’s, empresa especializada em venda de obras de arte e peças de luxo. Naquela noite, assessorado pelo empresário uruguaio Ricardo Esteves, Costantini deixou uma “pequena” fortuna nos cofres da casa de leilão, mas voltou à Argentina com um dos quadros brasileiros mais valiosos do mundo: o Abaporu.
A obra foi anunciada como a Lote 40 do leilão realizado no dia 21 de novembro de 1995. “E, bem, começou a disputa”, contou Costantini à jornalista Sylvia Colombo, em entrevista à Revista Legado, parceira do MyNews.
“Havia outro comprador que era brasileiro e, bem, começamos a disputa. Eu estava convencido da importância da obra porque meu amigo [Ricardo Esteves] tinha me educado sobre isso. No final das contas, consegui comprar o Abaporu”, afirmou.
“E esse comprador brasileiro [que estava acompanhado por um grupo de outros brasileiros], muito amigavelmente, tinha reservado uma suíte de hotel para celebrar a compra do Abaporu, nos convidaram para ir à suíte, de alguma maneira, para celebrar a compra. Nos ofereceram champagne, etc.”, acrescentou.
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Costantini adquiriu Abaporu por US$1,35 milhão (R$ 7,7 milhões pela cotação atual), um recorde nacional à época. No dia seguinte ao leilão, afirmou que o fato de ele ser o novo proprietário da obra era “bom para o Brasil”, pois pretendia expor a nova aquisição para todo o mundo.
Alguns anos depois, o quadro então foi doado ao acervo do Museu de Arte Latino-Americana (Malba), fundado por Costantini em 2001 com o objetivo de colecionar, preservar e difundir e arte latino-americana. Anos depois, ele fez uma proposta ao governo brasileiro, à época chefiado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
“Eu disse à Dilma: ‘Imagine se o Brasil pudesse persuadir um grupo de empresário a criar um Malba em São Paulo ou no Rio’. Nós [do Malba em Buenos Aires] nos apresentaríamos ou devolveríamos Abaporu e faríamos um programa conjunto. Malba Brasil e Malba Argentina.”
O projeto não reuniu nenhum interessado e, por isso, a obra continua exposta na Argentina.
A obra de Tarsila do Amaral, pintada durante a fase do modernismo brasileiro, foi dada como presente de aniversário ao então marido da artista, Oswald de Andrade, em janeiro 1928. O nome “Abaporu” surgiu naquele mesmo dia, quando Oswald e seu amigo Raul Bopp disseram que aquela forma enigmática de um homem nu sentando sobre a terra se parecia com um “índio canibal”. Satisfeita com a interpretação, Tarsila pegou um dicionário de tupi-guarani e batizou o quadro de Abaporu, junção das palavras “aba” e “poru”, que juntas significam “homem que come”.
Quase dois anos depois de se presenteado com o que viria a ser tornar um dos quadros brasileiros mais valiosos de todos os tempos, Oswald e Tarsila se separaram. Com a partilha de bens do casal, “Abaporu” ficou nas mãos da pintora, que tinha o sonho de que a obra passasse a compor permanentemente o acervo de um museu.
Nos anos 1960, Tarsila vendeu Abaporu para o colecionador Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Mas Bardi preferiu lucrar com a obra e, apenas um mês depois de comprá-la, revendeu o quadro para o colecionador e empresário Érico Stickel.
Quase 24 anos depois, em 1984, o galerista Raul Forbes resolveu adquirir a obra por US$ 250 mil (R$ 1,4 milhão), o valor mais caro já investido em uma pintura brasileira até então. Entretanto, após perder muito dinheiro na bolsa de valores, Forbes passou a enfrentar um período de problemas financeiros e, “com muita dor no coração”, como declarou à Revista VEJA em 2019, decidiu vender o quadro.
Em um primeiro momento, tentou encontrar algum comprador brasileiro, mas ninguém se mostrou interessado. Então, decidiu levar o Abaporu para Nova York e tentar vendê-lo fora do país, mas foi impedido pela Justiça Estadual de São Paulo. Ao saber que a obra estava deixando sua terra de origem para ser leiloada no exterior, o órgão decidiu dar início ao processo de tombamento da obra para impedir a viagem.
A tentativa da Justiça fracassou. Forbes ingressou com uma liminar para conseguir tirar Abaporu do país e teve êxito em seu plano. A autorização foi concedida e a obra embarcou rumo à Nova York faltando menos de 24 horas para o início do leilão.
Chegando aos Estados Unidos, no entanto, encontrou desafios. A batalha judicial pelo tombamento da obra, o que impediria também sua comercialização, afugentou dois dos compradores interessados. De acordo com a VEJA, a diretora da Christie’s perguntou a Forbes se ele gostaria de desistir da venda, mas ele respondeu que não poderia desistir àquela altura. O resto é história.
*Sob supervisão de Sofia Pilagallo
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