“À medida que cresce o papel destas empresas sobre a opinião pública, este setor compreende a importância de respostas mais precisas às novas necessidades sociais”
por Natália Fernandes em 15/01/21 08:53
Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, teve seu perfil banido das redes sociais das maiores empresas de tecnologia do mundo. Todos voltaram os olhos para este acontecimento sem precedentes e a pergunta foi: quais são as implicações quando uma medida nesta proporção é adotada?
Ao banir uma figura pública com a representatividade e importância política de Donald Trump, as Big Techs atuaram de maneira histórica. Desta forma, à medida que cresce o papel destas empresas sobre a opinião pública, este setor compreende a importância de respostas mais precisas às novas necessidades sociais.
Anos parecem décadas quando analisamos o digital. Por isso, ainda que menos de 10 anos após o Twitter ter sido intitulado pelo alto-executivo Tony Wang como “a ala da liberdade de expressão do partido da liberdade de expressão” (the free-speech wing of the free-speech party), numa clara alusão à pouca interferência que possuía sobre os conteúdos postados, o discurso se ajustou poucos anos depois.
Em 2021, Sinead McSweeney, vice-presidente da empresa para políticas públicas e comunicações na Europa, Oriente Médio e África, defendeu que “não é mais possível defender todos os discursos” (it is no longer possible to stand up for all speech). Indicando que tempos mudaram e também as empresas às pressões sociais a que são submetidas, assim vemos surgir um novo papel no que diz respeito à responsabilidade sobre o conteúdo veiculado em seus espaços.
As Big Techs navegam por grandes complexidades para encontrar o equilíbrio entre o aceitável e não aceitável em seus ambientes quando falamos de conteúdo. Não há consenso. Se por um lado são acusadas de moderar discursos de forma tendenciosa, por outro, são apontadas como falhas no controle da moderação de conteúdo.
Quando falamos de censura e liberdade de expressão é impossível se dissociar do impacto no campo social. Uma vez que estas plataformas são utilizadas por figuras públicas é um ponto de atenção que estes “juízes” pertençam apenas ao campo privado. Estamos falando de uma ação na esfera privada com grande interferência na vida pública. Por isso, é tão importante a presença de regulamentações para que seja mantida a coerência apesar dos diferentes vieses e contextos em que futuros casos se passem.
No atual cenário parte-se da seguinte suposição: uma figura pública faz uso de uma plataforma privada para disseminar um assunto de interesse também público, com impacto social. Isso ocorre em diversos países, independentemente da visão política que ocupa o poder. Desta forma, a gestão da comunicação entre dois aspectos públicos ocorre apenas e unicamente por meio de uma tecnologia, como se fossem aspectos lineares e simples que seguem um modelo: público-privado-público.
Sabemos que a sociedade é muito mais complexa do que qualquer caminho linear. Somos rede. Atuamos em rede. Pensamos em rede. Por isso, deixar para que apenas uma parte do todo seja intermediário do fluxo que liga e desliga esta comunicação é falho, não pela política de uma empresa especificamente, mas pela ausência de discussão ampla que pode enriquecer qualquer tomada de decisão.
Os últimos acontecimentos no Capitólio aumentarão a cobrança por coerência e moderação de conteúdos em diferentes contextos e países. Como estes valores são distintos em cada lugar, as empresas precisarão manter firme a coerência para aguentar a pressão que serão submetidas. Além disso, por maior que seja o impacto que estas ações trarão a discursos de ódio, é importante ter claro que eles não deixarão de existir. Apenas vão migrar para estruturas que atualmente estão menos organizadas e com menor impacto, devendo voltar à cena em breve.
A ideologia de um discurso pode caminhar por quaisquer plataformas. Por isso, a regulamentação se mostra importante para que o ponto seja direcionado de maneira eficiente.
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