Movimentos de esquerda e direita ainda não se uniram, mas expressam uma mesma reivindicação quanto ao atual presidente
por Vitor Hugo Gonçalves em 25/01/21 14:08
O último final de semana (dias 23 e 24) foi marcado por protestos contra Jair Bolsonaro (sem partido), que aconteceram em pelo menos 21 capitais brasileiras e o Distrito Federal. Os atos, representados de maneira geral por carreatas, criticaram a postura federal frente à pandemia, além de exigirem a volta do auxílio emergencial e o impeachment do presidente.
Os movimentos políticos de esquerda Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, com apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), convocaram manifestações para o sábado (23). Já no domingo (24), as organizações de direita Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua foram responsáveis pela ordenação das ações – as expressões contrárias à administração federal foram registradas em 45 cidades.
Para o cientista político Rodrigo Prando, as divergências ideológicas entre os movimentos devem se portar como dimensões de um segundo plano, a fim de unificarem os interesses em comum, viabilizando o progresso nacional por intermédio da soberania popular.
“Não sejamos ingênuos: dentro de cada carreata, cada grupo ou cada partido existe líderes com interesses muito peculiares, particulares. No entanto, parece que a maioria, dentre os que estão protestando, tentam unificar o discurso de defesa da democracia”, esclareceu Prando.
Referindo-se à base eleitoral sólida do presidente, compositora de 30% de seus votos, o cientista político afirma que “é obvio que não dá para pensar que duas carreatas distintas, uma no sábado e outra no domingo, significará uma coalização em 2022 contra o governo Bolsonaro. Mas há um denominador comum, isto é, defender a democracia e explicitar que a gestão e escolhas do Bolsonaro – e dos bolsonaristas – têm gerado uma situação extremamente ruim para o país”.
As manifestações ocorrem em um momento no qual a popularidade de Bolsonaro apresenta forte queda, identificada por três pesquisas de opinião – Datafolha, Exame/Ideia e XP/Ipespe.
Os resultados das três pesquisas coincidem com uma piora na percepção da atuação de Bolsonaro para enfrentar a pandemia de Covid-19. O caos na saúde no Amazonas, somadas aos atropelos internos e diplomáticos quanto às vacinas ajudam a alavancar a reprovação ao presidente e seu governo.
No entanto, também segundo a pesquisa Datafolha que apontou queda na popularidade de Bolsonaro, 53% dos entrevistados opinam que a Câmara dos Deputados não deveria abrir um processo por crime de responsabilidade contra o presidente.
Na manhã desta segunda-feira (25), em um encontro com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada, Bolsonaro ironizou o tamanho das carreatas ao responder um apoiador que disse ser de Campo Grande (MS) – única declaração a respeito dos movimentos que ocorrem no final de semana. “Campo Grande? Eu vi uma carreata monstro lá de uns 10 carros contra mim”, afirmou, sorrindo.
Durante a conversa, o presidente disse novamente que decidirá, até março, se continua com o projeto de criação do partido ‘Aliança pelo Brasil’ ou se optará pela filiação à uma sigla já existente.
“É muita burocracia, é muito trabalho, certificação de fichas, depois passa pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral] também. O tempo está meio exíguo para gente. Não vamos deixar de continuar trabalhando, mas vou ter que decidir. Não é por mim, não estou fazendo campanha para 22”, falou.
Prando explica que a palavra partido “significa também assumir uma posição. Então, temos que pensar qual é o elemento denominador de tudo isso, quem é o adversário a ser batido.” Retornando aos protestos separados por princípios políticos, mas similares quanto ao propósito, o cientista citou que “é impossível imaginar que partidos não levem suas bandeiras, também existe a livre manifestação do pensamento: as pessoas estão angustiadas, há uma sucessão de equívocos, todos decididos pelo governo ao longo da pandemia”.
“Uma sociedade hiper conectada está com seus fios desencapados, e um curto-circuito pode mudar o humor da população […] Cada um tem de se posicionar e se manifestar de acordo com a sua consciência e convicções. Durante muito tempo, nas redes sociais, os bolsonaristas foram vigorosos, com um discurso que calou muita gente por medo… Agora, as redes não são apenas dessa base, existe uma reação online e nas ruas”, complementou Prando.
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