Para pesquisador da FGV, tentativa do Palácio do Planalto de transformar jantar em uma espécie de “aval do PIB” pode ter saído pela culatra
por Fernanda Oening em 09/04/21 16:50
O jantar de Jair Bolsonaro (sem partido) com nomes importantes do PIB nacional demonstrou um fato inédito: pode não ser bom para os empresários estar do lado do presidente. Para o jornalista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Thomas Traumann, algo mudou na relação entre o cargo político mais importante do país e o mundo empresarial.
Na noite de quarta-feira (7), o empresário do ramo da segurança Washington Cinel recebeu em sua casa Bolsonaro e representantes de empresas e bancos como BTG, Banco Safra, Bradesco, Riachuelo, SBT, MRV, CNN, entre outros.
“Que empresários queiram se encontrar com o presidente é completamente natural. Isso faz parte do jogo e faz parte das relações normais. O que eu acho que é diferente de tudo que a gente viu nos anos anteriores é que pela primeira vez a reação foi tão negativa, quer dizer, embora ainda seja pequeno, mas nas redes você está vendo as pessoas falarem ‘ah, vou fazer boicote às empresas que foram’, os empresários estão sendo questionados pelas decisões que tomaram”, diz Traumann.
Na avaliação do pesquisador, a tentativa do Palácio do Planalto de transformar o evento em uma espécie de “aval do PIB” ao governo federal pode ter saído pela culatra. Ele ressalta que poucas semanas antes de receber Bolsonaro, Cinel também fez evento com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e não houve repercussão negativa semelhante. Até mesmo outros empresários criticaram o evento, afirma o jornalista.
“É muito interessante e novo a ideia de que um empresário ficar perto do presidente passa a ser uma coisa ruim para a reputação da empresa. Isso é inédito. Quer dizer, que os empresários sejam questionados a esse ponto, isso é uma coisa que não se viu no Brasil recente. Quer dizer, que Bolsonaro seja tão tóxico para a imagem dos empresários que, talvez, se tiver um próximo jantar, um próximo almoço, pouca gente queira ir”.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que existem problemas na aprovação do Orçamento e se referiu à questão como um problema de coordenação, sem citar nomes. Mas, também afirmou que é uma “dificuldade temporária” e que as lideranças políticas estão em busca de uma forma para corrigir os excessos. O Orçamento foi aprovado com uma estimativa de R$ 26,5 bilhões de despesas obrigatórias do governo e uma elevação dos recursos direcionados a emendas parlamentares.
Do outro lado, no Congresso, Lira defendeu que o Orçamento de 2021 seja sancionado pelo presidente, mesmo com vetos ou com posteriores correções. Disse também que os acordos do Congresso com o governo precisam ser honrados “na sua plenitude de parte a parte”. Para ele, “tecnicamente o orçamento não tem problema” e que eventuais distorções poderão ser corrigidas com projetos de lei, contingenciamento e vetos.
Traumman afirma que neste embate entre Congresso e governo, a tendência é que Paulo Guedes saia em desvantagem. “Todas as vezes que houve um embate entre ministro da Fazenda e o Congresso, o ministro perdeu. É uma questão histórica. O ministro da Fazenda é um funcionário do presidente, enquanto o Congresso tem o poder de paralisar o governo. Então, se Paulo Guedes mantiver essa posição de confronto, eu não tenho nenhuma dúvida, de que ele corre o risco de não ser mais ministro nas próximas semanas.”
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