STF: Não, não se trata de apenas de uma causa identitária como muitos criticam, mas de uma questão democrática
Em 10/10/23 18:23
por Balaio do Kotscho
Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Caro presidente Lula,
Sei que você não gosta que deem palpites nas tuas escolhas como presidente da República, mas depois de entrevistar a promotora Lívia Sant´Anna, na segunda feira, no programa Segunda Chamada, do My News, me sinto no dever de te escrever sobre o que está em jogo na indicação para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal.
Fiquei muito impressionado com o conhecimento e a lucidez da dra. Lívia sobre os principais problemas nacionais. Mulher, jovem, baiana e negra, ativista dos Direitos Humanos, o seu nome vem sendo defendido para o STF por mais de uma centena de entidades da sociedade civil, e agora entendo os motivos. Ela merece pelo menos ser ouvida. Você irá se surpreender, como aconteceu comigo e com quem assistiu ao programa.
Não, não se trata de apenas de uma causa identitária como muitos criticam, mas de uma questão democrática, para promover a diversidade e diminuir a desigualdade que ainda grassa nos centros de decisão dos poderes do país, em que a população mais vulnerável das regiões mais carentes é miseravelmente sub-representada.
A nomeação de Lívia, a primeira mulher negra no STF, seria por si só um fato histórico no nosso Judiciário, mas representa muito mais do que isso: uma vitória de todos nós, do Brasil democrático, que comemoramos a tua vitória nas eleições de outubro, representado naquela inesquecível imagem na subida da rampa no dia da posse, contra o Brasil do atraso civilizatório, racista, homofóbico, xenofóbico e autoritário.
Não se trata de apenas mais um preenchimento de cadeira vaga na Suprema Corte, como tantos que você já fez em seus governos, mas uma oportunidade única de resgatar a autoestima e a confiança da nossa população, majoritariamente pobre, feminina e negra, para mostrar ao mundo que teremos aqui, finalmente, oportunidades iguais para todos.
Filha da Cidade Baixa de Salvador, Lívia se parece com você quando fala com alma de suas origens: não é por ter lido ou ouvido dizer, mas por ter sentido na pele o preconceito secular das elites brancas contra os pobres, nordestinos e pretos, ou seja, a maioria dos teus eleitores.
A promotora baiana jamais trairá estas origens, nem será chamada de negra de alma branca. Basta olhar nos seus olhos serenos e altivos quando ela discorre sobre as chagas da nossa sociedade e as formas de combate-las, em respeito à Constituição, uma das tarefas magnas de quem senta naquelas 11 cadeiras do STF. Se tiver um tempinho, vale a pena dar uma olhada nesta entrevista para conferir o que estou dizendo, caro presidente. Ou convida ela para um papo sem compromisso no Alvorada.
Lívia Sant´Anna Vaz, 43 anos, é uma legítima representante da geração que se formou nos governos do PT e conquistou seu espaço no Ministério Público por competência, sem pedir licença nem favor a ninguém, a afirmação dos que vieram de baixo. Tenho certeza que você irá se identificar com esta mulher. Boa sorte na escolha para o STF. Forte abraço, Ricardo Kotscho.
Confira entrevista com Lívia Sant’Anna Vaz no Segunda Chamada:
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