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BALAIO DO KOTSCHO

De volta a Brasília, 10 anos depois, um café com Lula e a neta Laura

Somos amigos há mais de 40 anos, e o Lula sempre foi desse mesmo jeito, falando com gente humilde ou com os donos do mundo

Em 05/04/24 20:46
por Balaio do Kotscho

Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano

Em 2003, quando eu trabalhava no Palácio do Planalto, no primeiro governo Lula, a filha Mariana levou Laura, minha primeira neta, recém-nascida, para tirar uma foto com o presidente.

Vinte e um anos depois, Laura agora já é jornalista também, como a mãe e eu. Voltamos esta semana ao gabinete presidencial para tomar um café e mostrar a foto a Lula, o que o deixou emocionado ao constatar o passar tão rápido do tempo. Faz mais de 10 anos que eu não ia a Brasília, para onde fui a convite de um evento promovido pelo MyNews, a quem agradeço.

Ricardo Stuckert

O café se prolongou por mais de uma hora, com Lula contando a Laura as nossas aventuras nas campanhas presidenciais, lembranças de família, as brincadeiras que fazia comigo porque eu estava sempre com fome, comendo qualquer porcaria nos botecos, as muitas viagens pelo Brasil e pelo mundo. Não falamos de política e rimos bastante quando ele mostrou sua meia com a estampa da Frida Kahlo.

Ricardo Stuckert

Ambas as fotos, a antiga e a nova, foram feitas pelo grande artista Ricardo Stuckert, hoje secretário de audiovisual da Secom, que eu levei para trabalhar no primeiro governo, e é o único assessor de Lula que está com ele até hoje. Os dois se tornaram inseparáveis, até mesmo quando o presidente passou 580 dias na prisão em Curitiba.

Ricardo Stuckert

Junto na sala estava também o chefe do gabinete pessoal, Marco Aurélio Ribeiro, o Marcola, dono da agenda e da maçaneta da porta que dá acesso ao presidente, tão boa gente como seu antecessor na função, o velho Gilberto Carvalho, da primeira equipe de assessores na campanha de Lula a governador de São Paulo, em 1982.

Do lado de fora do gabinete, só se falava naquele dia em crises de várias latitudes, mas se enganou quem imaginava encontrar um presidente preocupado com o noticiário. Lula tem essa capacidade de se desligar dos problemas para jogar conversa fora com os amigos, enquanto não encontra uma solução.

Quem o visitava na prisão para o confortar, saía da cela reconfortado com o ânimo do amigo, que sempre se recusou a jogar a toalha nos momentos difíceis, buscando forças na sua própria trajetória de vida. Para quem nasceu onde ele nasceu, na zona rural da pequena Caetés, um antigo distrito de Garanhuns, em Pernambuco, e passou fome na infância, veio para São Paulo aos 7 anos num caminhão pau de arara com a mãe, dona Lindu, e uma penca de irmãos, e está agora no seu terceiro mandato de presidente da República, tudo é lucro.

Aos 78 anos, depois de encarar duas prisões e um câncer, Lula gosta de contar que acorda todos os dias às 5 e meia da manhã, como nos velhos tempos de fábrica, para fazer exercícios na academia montada no Palácio da Alvorada, um dos lugares onde mais tempo morou. Cismou que vai viver até os 120 anos, para espanto da Laurinha, que prestava muita atenção e se divertia com a nossa conversa de boteco.

Lamento frustrar os amigos e leitores que esperavam grandes revelações nesse nosso reencontro depois de tanto tempo. A vida não pode ser feita só de notícias. Somos amigos há mais de 40 anos, e o Lula sempre foi desse mesmo jeito, falando com gente humilde ou com os donos do mundo, sem se importar muito com o que os outros vão falar. Nós não fomos fazer uma entrevista, mas apenas uma visita.

Nos encontramos pela última vez antes desse dia no Sindicato dos Metalúrgicos, na véspera dele ser preso, e me lembro que Lula procurava acalmar os outros que estavam nervosos em volta do então ex-presidente, durante aquelas horas tensas, discutindo o que fazer.

Parece que só ele botava fé que, mais dia, menos dia, voltaria nos braços do povo ao Palácio do Planalto, de onde tinha saído com mais de 80% de aprovação popular. E não é que o nego véio, duro na queda, mais uma vez tinha razão? Aprendi a não duvidar mais dele. Nada parece impossível para esse sertanejo teimoso que virou um homem do mundo.

Vida que segue.

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