Zanin tornou-se a nova Geni (aquela da música do Chico em todo mundo jogava pedras) da esquerda identitária logo em sua estreia no STF
Em 27/08/23 11:12
por Balaio do Kotscho
Ricardo Kotscho, 75, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas, 5 netos e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Antes da nomeação de Cristiano Zanin, as votações no STF costumavam terminar em 8 a 2 (sempre Nunes Marques e André Mendonça, nomeados por Bolsonaro). Não mais. Na maioria das votações feitas com ele no tribunal até agora, Zanin votou com a bancada bolsonarista contra pautas identitárias do PT.
Na descriminalização da maconha, por exemplo, foi dele o único voto contrário a uma antiga bandeira de esquerda, “porque a mudança poderia agravar o problema de saúde pública causado pelos entorpecentes”, na contra-mão do que dizem estudiosos do partido no assunto.
Ou seja, até agora, o advogado de Lula fez “strike” ao contrário: não votou uma única vez de acordo com o programa do governo que o nomeou. Nunca tinha visto tamanha demonstração de independência. Zanin também não reconheceu a insignificância em furto de itens com valor de até R$ 100,00, mantendo presos dois réus pés-de-chinelo que até já tinham devolvido o fruto de um pequeno furto.
Zanin tornou-se a nova Geni (aquela da música do Chico em todo mundo jogava pedras) da esquerda identitária logo em sua estreia no STF, dando voto contrário à equiparação de ofensas à comunidade LGBTQIA+ com injúria racial. Choveu praga contra o magistrado nas redes sociais.
A mais recente dele, mas não a última, porque ainda falta votar, antes da aposentadoria da ministra Rosa Weber, em outubro, a demarcação das terras indígenas e a descriminalização do aborto (em que ele já se manifestou contra as posições do PT), foi votar pela rejeição de uma ação protocolada pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) que relata violência física sofrida por integrantes das etnias Guarani e Kaiowá pela PM de Mato Grosso do Sul a serviço de latifundiários.
Lhano no trato pessoal, nunca escondeu de ninguém suas convicções sobre a pauta de religião e costumes, com posições marcadamente conservadoras, desde os seus tempos de aluno de Direito da PUC. Advogados ligados ao PT, como os do grupo Prerrogativas, não podem alegar agora que foram surpreendidos. Deveriam ter informado Lula antes da nomeação, se é que não o fizeram.
Zanin tem o “fisique de role” conservador até no modo de falar, no trajar e no penteado cuidadosamente gomalinado. É o que antigamente chamavam de “almofadinha”. Agora, só tem um jeito de consertar o erro de pessoa (na visão da esquerda): nomear para a vaga de Rosa a antítese de Zanin: uma mulher, preta e progressista. Não faltam candidatas. A esperança é que Lula costuma dar uma no cravo e noutra na ferradura em suas decisões políticas, para equilibrar forças no PT e na frente ampla, mas isso já é outra novela.
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