Confira o artigo de Carlos Zanotta para o MyNews
por Carlos Zanotta em 27/06/23 12:54
Foto: Deloitte
Abrir o capital é um passo extremamente importante na trajetória de uma empresa e é um processo que deve ser feito com bastante cautela, estudo e planejamento. O IPO (Oferta Inicial de Ações, na sigla em inglês) é uma forma de a organização diversificar os meios de captação de recurso, fazer caixa, atrair investidores do mundo todo e dar um passo definitivo rumo ao ganho de reputação por conta do reforço das regras de governança.
No Brasil, segundo dados públicos da B3, bolsa de valores brasileira, 2020 e 2021 foram anos aquecidos nesse sentido. Por outro lado, em 2022, pela primeira vez desde 1998, não houve nenhuma abertura de capital registrada no País. A situação daqui não é isolada, pois o mundo todo vivenciou cenários de incertezas socioeconômicas, como processos eleitorais, a pandemia da Covid-19 e a Guerra na Ucrânia, que fizeram com que as companhias segurassem investimentos e repensassem a realização do IPO. É comum, em momentos de volatilidade econômica, que as empresas esperem um momento mais oportuno e próspero economicamente para avançar com a abertura de capital.
No entanto, adiar o IPO para aguardar um momento de maior estabilidade econômica não significa parar completamente as máquinas. Pelo contrário. As organizações que mantêm o IPO em seus planos de negócios precisam aproveitar esse momento menos aquecido para fazerem toda a lição de casa e estruturar seu planejamento, mesmo que ainda demore um pouco para tirá-lo do papel.
Isso porque, idealmente, um processo bem estruturado de abertura de capital tem que começar muito tempo antes. Na Deloitte, por exemplo, nós recomendamos às empresas que o plano para o IPO comece entre seis e 18 meses antes de ir à Bolsa. Esse período, que dentro da estratégia global da organização chamada de ‘IPO Readiness’, é o de avaliação. Nele, são considerados todos os fatores que serão necessários para a empresa abrir o capital: estudo de cenário, mapeamento de riscos, conhecimento das legislações, divulgação e marketing, preparação de auditoria; enfim, o preparo de um roteiro extremamente abrangente do IPO.
A segunda fase do processo precisa ser realizada entre quatro e seis meses antes e envolve, entre outros fatores, a melhoria dos processos financeiros, o gerenciamento da contabilidade técnica e desenvolvimento de políticas, a elaboração de demonstrações financeiras e informações financeiras proforma e trimestrais. Ainda, em paralelo à preparação ao IPO, a organização deve se preparar para a sustentação pós-IPO, que requer maior robustez nos processos e controles internos visando ter uma estrutura capaz de atender os novos requerimentos regulatórios e de divulgação de informações financeiras e não financeiras nos prazos estipulados por reguladores.
Esses são alguns exemplos de procedimentos envolvidos que mostram por que não dá para deixar a decisão de abrir capital para última hora. Existe todo esse trabalho de bastidor que precisa ser minuciosamente realizado com antecedência. Pode parecer trabalhoso, e é, mas se a companhia contar com os parceiros certos e obtiver um IPO bem-sucedido, as vantagens serão inúmeras, como a maior visibilidade no mercado, melhoria de controles e processos de governança e oportunidades de captar recursos financeiros mais facilmente e com menor custo.
Pesquisas recentes da Deloitte com a B3, realizadas em 2020 e em 2021, mostram que as organizações têm ciência desses benefícios e vão atrás deles. Um dos estudos revelou que sete em cada dez empresas tiveram como principal motivação para a abertura de capital a captação de recursos no mercado por meio do IPO. Já aumentar a abrangência e a participação no mercado foi apontada como uma motivação por metade dos entrevistados. As outras motivações destacadas, em respostas múltiplas, foram: estruturar-se para futuras fusões e aquisições (36%), promover a sustentabilidade do negócio a longo prazo (36%), reduzir o custo do capital (36%), permitir a realização do investimento dos acionistas atuais (21%), profissionalizar a gestão (21%), substituir a saída de um investidor estratégico (21%) e mitigar riscos entre um número maior de acionistas (7%).
O outro levantamento da Deloitte e B3 aponta que desde 2004 as empresas que operam em padrões mais elevados de governança, por conta do processo de abertura de capital, têm uma rentabilidade muito mais expressiva do que as demais. As vantagens obtidas são, portanto, maiores do que o trabalho e os custos envolvidos em todo o processo. Não à toa, 46 empresas fizeram o IPO em 2021, ante 28 em 2020, de acordo com dados públicos da B3 e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Esse cenário deve voltar a aquecer em breve e começar a se preparar hoje é a melhor forma de as empresas interessadas terem um processo bem-sucedido a longo prazo.
*Carlos Zanotta é sócio de Global Capital Markets Group da Deloitte
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