Regime Militar: A visão de quem se dedica a contar a história da Ditadura: Parte 2 Fotos: Arquivos pessoais

Regime Militar: A visão de quem se dedica a contar a história da Ditadura: Parte 2

Na segunda parte e final da matéria sobre quem se dedicou a falar do período entre 1964-1985, o MyNews conversou com Ana Straube, Alexandre Maron e Bárbara Falcão.

Há 61 anos, o Brasil sofreu um golpe militar que instaurou uma ditadura, encerrada somente em 1985. Os militares tomaram o poder entre 31 de março e 1º de abril de 1964, derrubando o presidente João Goulart após três anos de governo, no que hoje se chama “Golpe Civil-Militar de 64”. Na segunda parte de “Regime Militar: A visão de quem se dedica a contar a história da Ditadura Brasileira”. Desse modo, o MyNews conversou com mais integrantes do brilhante podcast Ditadura Recontada, da CBN, que traz relatos inéditos sobre o regime e se baseia nos livros de Elio Gaspari. Aqui, Bárbara Falcão compartilha seu depoimento.

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A comunicadora, aliás relata sua atuação no podcast, em que trabalhou como produtora, editora de áudio e responsável pelo uso da inteligência artificial. Além disso, menciona seu período na CBN, entre 2021 e 2024.

Bárbara Falcão

R:— Sem dúvida, esse foi um dos projetos mais importantes da minha carreira. E acho que essa importância cresceu ao longo do processo, no fazer do podcast. Não surge do nada — é fruto de muito trabalho, cuidado e de uma equipe competente.

O primeiro ponto a destacar é o trabalho em equipe. Tive a sorte de colaborar com profissionais incríveis, incluindo o próprio Elio Gaspari, uma das maiores autoridades do país sobre a Ditadura. Ele participou ativamente, foi extremamente generoso ao compartilhar seus arquivos valiosos e acompanhou todas as etapas do projeto, desde as escaletas e roteiros até a revisão prévia de cada episódio. Isso trouxe uma enorme responsabilidade para todos os envolvidos. Trabalhamos com a memória do país, documentos sensíveis e histórias inéditas. Lidar com esse material com a sensibilidade e o cuidado exigidos foi um desafio e um privilégio.

Outro ponto importante foi o tempo. No jornalismo, tempo é um recurso raro. Raramente temos o necessário para escutar, digerir, filtrar e lapidar uma história. Nesse projeto, conseguimos esse tempo, o que fez toda a diferença na construção dos roteiros e na qualidade final.

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Além disso, a inteligência artificial foi um recurso essencial. Conseguimos recriar áudios históricos e dar mais clareza às vozes dos personagens, aproximando ainda mais o ouvinte dos acontecimentos. Foi essa combinação de responsabilidade, competência, sensibilidade e inovação que resultou em um trabalho que me enche de orgulho.

Ana Maria conta história sobre seu pai nos anos 60

Já Ana Maria Straube assumiu os roteiros do podcast Ditadura Recontada. Aqui, ela compartilha sua experiência no projeto, uma história envolvendo seu pai e sua visão sobre os principais personagens do regime militar.

Ana Maria Straube

O podcast Ditadura Recontada se baseia na série de livros do jornalista Elio Gaspari sobre a Ditadura Militar. Nos livros, dois personagens se destacam: os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva. A tese central — e a que seguimos no podcast — é que ambos estruturaram o regime militar e, quando perceberam que a ditadura havia se desvirtuado, trabalharam para desmantelá-la. Já tinha lido bastante sobre o período, sobre principalmente a oposição clandestina, mas conhecia pouco sobre esses dois personagens tão distintos e complementares. Sem dúvida, foram os que mais me chamaram a atenção.

Importância dos livros de Gaspari

PARTE 1: Regime Militar: A visão de quem se dedica a contar a história da Ditadura Brasileira

Escrever os roteiros foi um grande desafio. Precisávamos criar uma narrativa em áudio fiel aos livros, mas que, ao mesmo tempo, selecionasse algumas histórias e deixasse outras de fora. Decidir o que entraria no podcast foi a parte mais difícil, pois os livros são muito completos e dá vontade de incluir tudo. Outro desafio foi lidar com a quantidade de nomes e datas. Muitos personagens essenciais para determinados eventos são pouco conhecidos do público, então precisávamos apresentá-los sem tornar os episódios maçantes. A pesquisa e o acervo de Gaspari foram fundamentais para os roteiros. Ao escrever para o áudio, contar com gravações inéditas faz uma enorme diferença.

Trabalhar nesse projeto foi uma oportunidade única. Meu interesse pelo tema vem desde a adolescência. Meu pai foi militante do movimento estudantil nos anos 1960 e conheceu muitas figuras que se tornaram lideranças de oposição à ditadura. Alguns de seus colegas optaram pela luta armada e acabaram assassinados pela repressão. Sempre quis escrever sobre essas histórias e aprendi muito nesse processo. Além disso, trabalhar ao lado de Elio Gaspari é um privilégio para qualquer jornalista. Acredito que o interesse por esse período da história só crescerá, ainda mais com a repercussão do filme “Ainda Estou Aqui”. Como pesquisadora do tema, ver esse interesse aumentar me deixa muito feliz. Fico honrada por ter contribuído com um projeto que ajuda a lançar luz sobre um período que ainda conhecemos pouco”, relata Ana

Já Alexandre Maron atuou na coordenação e desenvolvimento do Ditadura Recontada. O jornalista e roteirista, com mais de 20 anos de carreira, encerra a entrevista explicando como surgiu a proposta do podcast na CBN.

Alexandre Maron

A CBN já queria produzir esse podcast há algum tempo. Fui sondado no início de 2021, mas o projeto só recebeu sinal verde no fim do ano, com a intenção de lançá-lo em 2022. No entanto, quando mergulhamos na pesquisa, percebemos que não seria possível. No total, foram quase três anos entre a ideia e o lançamento, em 2024. O objetivo sempre foi levar ao público um conteúdo inédito, fruto da extensa pesquisa de Elio Gaspari para seus livros sobre a Ditadura. Além de milhares de documentos, ele reuniu mais de 300 horas de áudios históricos, que foram incluídos nos livros como transcrições. Ouvir as vozes desses personagens, com suas inflexões e emoções, transporta o ouvinte para outro nível de compreensão. A CBN queria dar um tratamento especial ao projeto e reuniu talentos internos e externos para isso.

Principais tarefas no podcast Ditadura Recontada

Sou jornalista e trabalhei por muitos anos na Editora Globo, cuidando de diversas iniciativas, do impresso ao digital. Em 2017, deixei a empresa e, em 2018, fundei a Ampère com dois sócios. Nossa proposta é tratar o áudio com cuidado, respeito e criatividade. Em alguns projetos, criamos podcasts próprios, como Boa Noite Internet. Em outros, trabalhamos para marcas, desenvolvendo tudo, da ideia à publicação. No caso de Ditadura Recontada, a CBN me chamou para ajudar a definir o formato da série, montar a equipe de criação e coordenar todas as etapas de produção.

Importância desse tipo de conteúdo

Na última década, alguns setores políticos tentam reescrever a história da Ditadura Militar, negando que tenha sido um regime ditatorial, minimizando o número de mortos e negando a tortura. Nesse contexto, a obra de Gaspari tem um valor especial, pois se baseia em arquivos de figuras-chave do regime, como Geisel e Golbery. Eles participaram do golpe de 1964 e, anos depois, lideraram o processo de redemocratização.

Os livros de Gaspari são best-sellers, com múltiplas edições e até uma versão multimídia. Mas cada meio tem um alcance específico. O podcast ampliou o acesso à história para um público que talvez não tivesse contato com os livros. Espero que muitos ouvintes tenham se interessado e procurado a coleção nas livrarias. Contar essa história é essencial para não ser esquecida nem distorcida”, concluiu Alexandre ao MyNews

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