Vigilância em Saúde do estado aponta 70 óbitos. Urbanista explica: ‘culpa não é das chuvas’.
por Myrian Clark em 29/05/22 15:28
Pelo menos 56 pessoas morreram vítimas de desabamentos e deslizamentos de terra ocorridos após as fortes chuvas que atingem o Estado de Pernambuco.
O Ministério do Desenvolvimento Regional informa que há ainda 56 desaparecidos, 25 feridos, 3.957 desabrigados e 533 desalojados.
Vídeos divulgados em redes sociais mostram alagamentos, casas desabando, lama encobrindo vidas, falta de infraestrutura e de saneamento básico. Um levantamento da Vigilância em Saúde, rede abastecida por técnicos e agentes locais, aponta que há pelo menos 70 mortes.
Ainda que os índices pluviométricos tenham sido maiores do que em outros anos, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, explica que a culpa pela tragédia na vida das pessoas não é das chuvas. “Na verdade, a gente está falando de um modelo de ocupação do solo que não garante a possibilidade das pessoas se assentarem em locais razoáveis. Tem uma intensidade de chuva mais forte? Tem, e isso está piorando ainda mais essa situação. Mas a culpa não é das chuvas”.
Para o arquiteto e urbanista Milton Bloter, da Universidade Federal de Pernambuco, “seria muito fácil, para não dizer leviano, culpar as chuvas pela tragédia das pessoas. As chuvas são sazonais, se repetem periodicamente na região metropolitana do Recife. Esta tragédia é fruto da ausência de políticas de habitação e de investimentos de infraestrutura adequada”. Bloter presidiu o Instituto da Cidade do Recife – Engenheiro Pelópidas Silveira, órgão municipal responsável pelo urbanismo e planejamento estratégico da cidade. Segundo ele, temos cidades extremamente excludentes e a porção da cidade mais excluída é a que mais sofre nesse período das chuvas. Bloter explica que não há oferta de áreas urbanizadas dotadas de infraestrutura, mobilidade e acesso a trabalho. “As pessoas não ocupam as áreas de risco porque querem e sim porque não têm onde morar”.
Segundo Bloter, o problema das enchentes no Recife foi amenizado, na década de 70, com um sistema de barragens de contenção. Mas, ao mesmo tempo, naquele período, a urbanização dentro da própria cidade tratava os riachos urbanos como se fossem águas de drenagem superficial. “Temos verdadeiros riachos urbanos enterrados na cidade e frequentemente eles estão entupidos, cheios de lixo. E aí vem o outro lado da tragédia, que é a parte de culpabilizar a população. Mas é uma população que não tem acesso à educação e tem um serviço público precário de coleta de lixo”, diz. Bloter ressalta o volume imenso de lixo que é descartado nos cursos d’água, gerando entupimento dos canais e canaletas, o que contribui para provocar enchentes e desabamentos pela cidade toda.
Na manhã deste domingo (29), em entrevista coletiva, o ministro do Desenvolvimento Regional, Daniel Ferreira, contabilizou 44 óbitos, 56 desaparecidos, 25 feridos, 3957 desabrigados e 533 desalojados. Um grupo de ministros está no Estado e fez um sobrevoo pelas regiões mais afetadas. Ferreira estava acompanhado dos ministros Carlos Brito, do Turismo, Ronaldo Bento, da Cidadania e Marcelo Queiroga, da Sáude. A região entre Recife e Jaboatão dos Guararapes foi a localidade mais afetada ao lado do Jardim Monte Verde, no bairro do Ibura, na zona sul da capital.
“Embora tenha parado de chover agora a gente tá com chuvas fortes previstas para os próximos dias. Então a primeira coisa é manter as medidas de autoproteção,” disse Daniel Ferreira, ministro do Desenvolvimento Regional. “Telefonei para o governo do Estado aqui de Pernambuco e para o prefeito de Recife. Porque, mesmo o governo do estado e o município tendo as defesas civis muito bem estruturadas, são dessas reconhecidas nacionalmente, uma chuva dessa magnitude causa estrago em qualquer município do Brasil”, disse Ferreira.
O ministro falou dos trâmites para liberação de recursos federais para auxiliar as autoridades no enfrentamento da situação. Segundo ele, a primeira etapa é o reconhecimento federal dos decretos de emergência emitidos pelos entes públicos locais: governo do estado e prefeituras. Depois disso é preciso que o reconhecimento federal da situação e publicação no Diário Oficial da União. Só depois disso é que o governo federal libera recursos para a primeira de três etapas: socorro e assistência humanitária. “São recursos para kits de higiene, limpeza, colchões, cestas básicas, combustível e alimentação para equipes de resgate”” disse Ferreira.
Na quintafeira (26), a Defesa Civil já tinha emitido alerta para o risco de chuvas intensas no litoral do Nordeste até este domingo (29). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas estão sendo os mais afetados.
O presidente Jair Bolsonaro publicou no Twitter, neste domingo (29), que vai ao Recife na segunda-feira (30) para “melhor se inteirar da tragédia”. “O nosso governo disponibilizou, desde o primeiro momento, todos os seus meios para socorrer aos atingidos, aí incluído as Forças Armadas”, escreveu Bolsonaro.
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