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Milei leva argentinos a protestar em tempo recorde

Parece que pela primeira vez, muitos estão se dando conta do que queria dizer o presidente com o "no hay plata" e com "o ajuste é a única saída possível"

Em 30/12/23 16:42
por Coluna da Sylvia

Sylvia Colombo nasceu em São Paulo. Foi editora da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e atuou como correspondente em países como Reino Unido, Colômbia e Argentina. Escreveu colunas para o New York Times em Espanhol, o Washington Post em Espanhol, e integra os podcasts Xadrez Verbal e Podcast Americas. Entrevistou a vários presidentes da regão. Em 2014, participou do programa da Knight Wallace para jornalistas na Universidade de Michigan. É autora do "Ano Da Cólera", pela editora Rocco, sobre as manifestações de 2019 em vários países da regiõa. Vive entre São Paulo e Buenos Aires, enquanto viaja e explora outros países da Latam

Pouco mais de duas semanas de sua posse, e já o novo presidente argentino, Javier Milei, levou milhares às ruas para manifestar-se contra suas primeiras decisões. Milei leva argentinos a protestar em tempo recorde
No dia 20, o protesto foi mais espontâneo, motivado especialmente pelo pacote de medidas econômicas que anunciava a demissão de servidores públicos, a liberação de preços que até então estavam sob controles e programas de assistência, corte de subsídios e liberação do preço dos combustíveis. Suficiente para o argentino de classe média ficar pelo menos bravo. O corte, dizia Milei na campanha, seria na chamada “casta”. Logo de cara, porém, ficou claro que não era, os os aumentos e remarcações começaram a ser praticados à luz do dia, quase todos os dias, e a inflação disparou. A projeção é de que alcance os 30% em dezembro e 40% em janeiro, acumulando até 200% ao ano.
Parece que pela primeira vez, muitos estão se dando conta do que queria dizer o presidente com o “no hay plata” e com “o ajuste é a única saída possível”.
Muita coisa que Milei anunciou ainda não entrou em prática, portanto, por ora, quem sente é a população com a renda mais baixa. A saber se isso de fato se estenderá a toda a “casta”, como dizia ele na campanha.
Nesta última quarta-feira (27), o protesto foi mais pesado, e reuniu mais gente. Convocado pela CGT (Confederación Geral del Trabajo), teve como foco a reforma trabalhista prevista no DNU (Decreto de Necessidade e Urgência). Esse recurso pode ser usado pelo presidente sem passar pelo Congresso e tem aplicação imediata. Sua colocação em vigor poder ser interrompida caso haja um voto negativo de ambas as casas, Deputados e Senadores. E isso ainda não aconteceu.
O DNU é muito mais amplo e inclui uma reforma trabalhistas, a demissão de mais de 7 mil servidores do Estado, elimina necessidades de contratos que passem pelo aval do Estado, elimina indenizações por demissão, permite jornadas de até 12 horas.
No começo do dia, ônibus e metrôs receberam a visita de policiais, para revisar, tomar documentos e registrar quem estava indo à marcha. Algo que só guarda semelhança ao que se fazia na época da última ditadura militar, mas que hoje integra o “protocolo Bullrich”, novas normas de choque implementadas pela nova ministra de segurança, Patricia Bullrich. Elas incluem, por exemplo, outro recurso só usado nas últimas décadas pela ditadura militar.
A manifestação ocorreu com tranquilidade, embora reunindo mais gente do que na semana anterior.
E Milei parece estar seguindo um padrão. Depois que ocorre a manifestação, e quase todos foram para casa, ele sai com mais novidades.
Desta vez, trata-se de um projeto de lei “ônibus”, como se chama na Argentina essas propostas que incluem demasiadas determinações em diferentes áreas.
Trata-se de 664 artigos para a apreciação do Congresso, abarca áreas como a econômica, fiscal, social, previsional, de segurança, defesa, energética e sanitária.
Também uma ampla reforma eleitoral, uma anistia para quem traga dólares ao país, reformas impositivas e muitas outras.
No setor de privatizações, o governo poderá privatizar até 41 estatais, em busca de “competição e eficiência econômica”.
E voltou a nomear muitas já antes citadas: Aerolíneas Argentinas, Banco de la Nación Argentina, a petrolífera YPF, ferrovias, a agência de notícias Télam e outras.
Um ponto que será inevitavelmente um distúrbio é um aumento das retenções (taxas para exportação) ao campo. O tributo subirá a 15%, o que afeta o setor ruralista em cheio.
São tantas mudanças propostas entre o pacote anunciado pelo ministro Luis Caputo, o DNU (Decreto de Necessidade e Urgência) e o novo projeto de lei-ônibus, que mal dá tempo aos opositores de protestarem por algo, que logo outra legislação é apresentada. Veja aqui mais colunas da Sylvia Colombo

Milei leva argentinos a protestar em tempo recorde

Foto: Reprodução/Facebook

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