Como muitos sabem, este país que é dominado pelo chavismo desde 1999 e que pode ser considerado uma ditadura desde, pelo menos, o ano de 2017
Em 26/10/23 17:23
por Coluna da Sylvia
Sylvia Colombo nasceu em São Paulo. Foi editora da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e atuou como correspondente em países como Reino Unido, Colômbia e Argentina. Escreveu colunas para o New York Times em Espanhol, o Washington Post em Espanhol, e integra os podcasts Xadrez Verbal e Podcast Americas. Entrevistou a vários presidentes da regão. Em 2014, participou do programa da Knight Wallace para jornalistas na Universidade de Michigan. É autora do "Ano Da Cólera", pela editora Rocco, sobre as manifestações de 2019 em vários países da regiõa. Vive entre São Paulo e Buenos Aires, enquanto viaja e explora outros países da Latam
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
No último domingo (22), enquanto os olhos da região estavam voltados para o que ocorria na Argentina, algo muito importante ocorreu na Venezuela.
Como muitos sabem, este país que é dominado pelo chavismo desde 1999 e que pode ser considerado uma ditadura desde, pelo menos, o ano de 2017 _quando foi eleito de modo fraudulento um “congresso” governista para substituir um parlamento de maioria opositora que havia sido escolhido de forma legítima_ continua vivendo uma crise humanitária terrível.
Um governo que surgiu com legítima preocupação social, que realizou uma verdadeira transformação no país, incluindo sua diversidade e a inserção de milhares de pessoas humildes à classe média, acabou perdendo o rumo quando o autoritarismo e a corrupção começaram a tomar conta do cenári.
Pelo menos desde 2014, mais de 7 milhões de venezuelanos deixaram o país, há fome, falta de insumos nos hospitais, perseguição a opositores e censura e prisão para jornalistas e políticos de oposição.
As tentativas de realizar mesas de paz, negociações, diálogos com mediação estrangeiras foram, até aqui, todos frustrados. O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, sempre que compareceu a esses fóruns, prometeu eleições livres, mais democracia e liberação de presos. Jamais cumpriu grande parte disso. O máximo que fez, quando a comunidade internacional estava pressionando demais, foi conceder alguns favores, migalhas. Em certas eleições, deixava que alguns opositores vencessem em alguns Estados, enquanto obrigava outros a deixar o país. Em alguns momentos, liberava um punhado de presos políticos, enquanto nas terríveis prisões conhecidas como La Tumba e El Helicóide ainda há mais de 100.
Não foi diferente na última semana, quando os EUA prometeram aliviar sanções que o governo vem recebendo em troca de uma promessa de que a eleição presidencial de 2024 seja “livre e democrática” e que não haja mais perseguição a opositores no país.
Os EUA, neste momento, estão com os olhos bem abertos com relação à Venezuela, porque, afinal, há uma crise de falta de petróleo no mundo relacionada ao conflito na Ucrânia.
Foi nesse contexto que o regime aceitou, ainda que de mau humor, que a oposição venezuelana realizassem primárias. A ideia da sempre dividida oposição do país, desta vez, é escolher um candidato único para enfrentar, no ano que vem, a Maduro ou a algum outro chavista por ele escolhido, para a sucessão presidencial.
A votação ocorreu de modo inédito. Por exemplo, foi possível que eleitores venezuelanos exilados votassem. Exerceram o dever 2,4 milhões de pessoas, e a veterana opositora María Corina Machado, saiu vencedora com 92% dos votos.
Por que Corina venceu? Em primeiro lugar, porque é a mais antiga e mais combativa dos opositores desde que era membro da Assembleia Nacional, ainda com Chávez vivo. Em segundo, porque seus demais colegas todos já se desgastaram ao máximo ou caíram no ostracismo, como Leopoldo López, Juan Guaidó, Henrique Capriles. Alguns dos demais, sem chances, acabaram desistindo a seu favor.
Quais são os próximos passos? A situação de María Corina, apesar da euforia de sua vitória, é ainda cheia de obstáculos. Um deles, o fato de ter sido inabilitada politicamente, assim como quase todos os demais opositores importantes, por 15 anos.
Porém, como Maduro prometeu, no acordo firmado em Barbados, que garantirá eleições livres, é de se esperar que a inabilitação caia. É o que também insinuou como necessário o secretário de Estado Anthony Blinken.
Depois, Corina tem que de fato apresentar uma plataforma unificadora. Conhecida como uma líder de direita mais radical, que em mais de um momento reivindicou a desobediência civil para a saída do país da ditadura, precisa apresentar projetos que incluam chavistas dissidentes recentes e antigos, e praticamente não pode dedicar-se a outro projeto que a atender a situação de pobreza, desnutrição e de falta de atendimento médico aos que precisam.
Esse caminho começou no domingo (22) e se estenderá até o segundo semestre do ano que vem, até uma data a ser definida pelo regime para que essa votação ocorra.
Já se falhou várias vezes no passado na tentativa de realizar uma transição democrática no país. Agora, as fichas estão nas mãos dessa opositora ferrenha ao chavismo desde o primeiro dia. Conseguirá ela reunir as forças locais e internacionais que necessita para enfrentar o regime? O que Maduro tem na manga para não cumprir este mais novo acordo?
Essa é a história que se desenrola no país vizinho ao Brasil ao longo dos próximos meses.
E é importante para o Brasil ter uma Venezuela estável.
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