Daniel Noboa, 35, foi eleito o mais jovem presidente do Equador, no último dia 15 de outubro
Em 19/10/23 14:29
por Coluna da Sylvia
Sylvia Colombo nasceu em São Paulo. Foi editora da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, e atuou como correspondente em países como Reino Unido, Colômbia e Argentina. Escreveu colunas para o New York Times em Espanhol, o Washington Post em Espanhol, e integra os podcasts Xadrez Verbal e Podcast Americas. Entrevistou a vários presidentes da regão. Em 2014, participou do programa da Knight Wallace para jornalistas na Universidade de Michigan. É autora do "Ano Da Cólera", pela editora Rocco, sobre as manifestações de 2019 em vários países da regiõa. Vive entre São Paulo e Buenos Aires, enquanto viaja e explora outros países da Latam
Uma vitória “improvável”. Assim descreveu Daniel Noboa, 35, o fato de ter sido eleito o mais jovem presidente do Equador, no último dia 15 de outubro.
Improvável porque seu nome não aparecia sequer nas listas dos cinco favoritos quando começou a campanha eleitoral. Em poucas semanas, porém, a história desse pleito deu um giro, houve um verdadeiro “plot twist” e Noboa galgou ao primeiro lugar, para sair vencedor no segundo turno.
Antes de mais nada, vale mencionar que esta foi uma eleição também bastante “improvável”. Não fazia parte do calendário eleitoral regular do Equador. Mas se tornou necessária depois que, em maio, o presidente Guillermo Lasso decretou uma “morte cruzada”. Trata-se de um recurso constitucional que existe no Equador para ser usado quando acabam todas as possibilidades de diálogo entre presidente e parlamento. Lasso diluiu o parlamento e ficou obrigado a convocar eleições e a deixar o palácio de Carondelet.
A “morte cruzada” foi um recurso criado recentemente no Equador para impedir que o país voltasse a viver tanta instabilidade institucional, uma marca de sua história, que ocorre desde o período da redemocratização. De lá para cá, sete presidentes não conseguiram cumprir seu mandato, principalmente por intrigas internas e conflitos com a Assembleia Nacional (o Congresso unicameral do país).
País com sérios problemas de desigualdade social, com uma racha racista em que descendentes de europeus menosprezam indígenas, pobreza e alta taxa de informalidade, o Equador viveu uma década de estabilidade e de melhora na vida dos mais humildes quando Rafael Correa chegou ao poder, em 2007, governando por três mandatos e estabilizando a economia e as tensões sociais. Correa, ainda muito popular, naquela época aumentou o gasto público do Equador e transformou em políticas de repasse, tirando milhões da pobreza e trazendo-os para a classe média.
Com o tempo, porém, seu autoritarismo, a perseguição à imprensa e denúncias de corrupção foram desgastando sua imagem, e ele então foi condenado pela Justiça local. Hoje, vive refugiado na Bélgica, de onde é sua mulher.
O pós-correísmo, a partir de 2017, voltou a conhecer a instabilidade institucional. Seu sucessor, Lenín Moreno, foi acusado de fraude pelo perdedor da eleição e quase perdeu o cargo nos protestos indígenas de 2019, que ficaram sem uma resolução clara. As eleições seguintes deram a vitória a Lasso, que não aguentou a pressão do aumento da violência e das rebeliões nas prisões, que o desestabilizaram. Ele dizia serem provocadas pelo correísmo.
A verdade é que o país entrou numa espiral de violência, potencializada por seus problemas de fundo, que já saiu do controle. Antes apenas rota para a droga que viaja para os EUA, hoje o país abriga cartéis mexicanos, venezuelanos e mesmo albaneses.
Um dos então candidatos, Fernando Villavicencio, resolveu enfrentar isso diretamente. E na campanha posicionou-se contra a ascensão dos cartéis. A consequência foi sua morte, encomendada por cartéis a sicários que o executaram a olhos vistos, em pleno comício de campanha.
Portanto, os equatorianos encaminharam-se para esse pleito tampão Noboa terá apenas 16 meses de governo, até terminar o mandato de
Lasso com desânimo, medo de sair na rua, sendo extorquido e vítima de demarcações de território. Tudo sem muita esperança. A figura mais forte da política, Corrêa, está exilado, sua apadrinhada política, Luiza González não se mostrou à altura das circunstâncias, um dos porta-vozes da luta contra o tráfico, Villavicencio, morto. Além de um candidato a prefeito e duas lideranças partidárias.
Foi nesse vácuo que Noboa apareceu. Pertencente a uma família importante de Guayaquil, o centro econômico do Equador, seu pai tentou ser presidente em cinco ocasiões. Fracassou, mas nunca deixou de ser o empresário bilionário que comercializa bananas e que segue sendo influente entre empresários e políticos.
Noboa já partiu, portanto, com vantagem. Com larga experiência acadêmica, estudou administração em Harvard e em Georgetown, a Noboa lhe falta experiência política. Apenas cumpriu parte do mandato de deputado, interrompido, justamente, pela “morte cruzada”.
É difícil imaginar que, em 16 meses, Noboa resolva os graves problemas do país. O mais provável é que se concentre em medidas mais populares, para angariar mais votos e, então, poder disputar um mandato de quatro anos.
Espera-se que o Equador consiga ao menos tranquilizar-se um pouco nesse período, ainda que Noboa aposte numa linha dura contra o crime organizado, algo que já não funciona na região desde a “guerra contra o narcotráfico” levado adiante desde 2006, no México de Felipe Calderón. Enquanto isso, vale seguir os passos de Correa, que certamente mirará para o pleito de 2025 como mais uma chance de voltar ao poder.
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