Bolsonaro consegue eleger os presidentes da Câmara e do Senado, resta saber quanto tempo esta aliança perdurará e quais seus principais desafios
por Creomar de Souza em 14/02/21 15:54
Com as vitórias de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, respectivamente na Câmara e no Senado Federal, o governo Bolsonaro tem exatamente aquilo que buscava, uma relação de lua de mel com o legislativo, ao menos no início dessa legislatura. O papel desempenhado pelos articuladores do Palácio do Planalto, com destaque para o General Ramos, resultou após alguns meses em duas vitórias categóricas contra uma oposição que se mostrou incapaz de construir uma articulação minimamente competitiva.
No caso da Câmara dos Deputados, o pouco entusiasmo despertado pela narrativa de Maia/Rossi é um indicativo importante para aqueles que fazem oposição ao governo. A construção de falas que encadeiam termos como democracia, responsabilidade e discernimento, precisa estar acompanhada de passos concretos e críveis para que setores sociais além daqueles que são contrários ao presidente se manifestem.
De outro lado, a vitória de um bolsonarismo pragmático no legislativo, traz um enorme desafio em termos de manutenção do discurso militante do presidente.
Explico, Bolsonaro tem conduzido até aqui uma presidência em ritmo de campanha. Tal estratégia funciona de maneira eficaz quando há um inimigo ou um antagonista, papel que em 2020 foi desempenhado a contragosto por Rodrigo Maia e em alguns momentos por João Doria.
Porém, quando em situação de harmonia, surge um desafio: com quem o presidente irá antagonizar em momentos de crise reputacional? Passado o hype do início da vacinação, e pelo próprio comportamento do PSDB durante as eleições no legislativo, é previsível que haja
uma diminuição da relevância nacional do governador de São Paulo.
Diante de um horizonte que se assemelha a um céu de brigadeiro, há algum risco para o Planalto em termos de cenário futuro?
Aqui identificamos dois: o primeiro diz respeito à capacidade do executivo de atender as demandas dos seus apoiadores legislativos na velocidade desejável; o segundo, por sua vez, vinculado ao primeiro é a capacidade dos
presidentes das casas de controlarem as pautas legislativas de acordo com os interesses do executivo.
Se o primeiro risco depende única e exclusivamente da capacidade do Planalto de cumprir seus compromissos, o segundo passa pela capacidade de Lira e Pacheco de construírem um ambiente harmônico entre seus pares. Se há um traço comum nas campanhas de ambos os parlamentares é que ao final do dia seus compromissos mais fundamentais foram estabelecidos com seus pares. No Senado, esta ação parece ser de mais fácil construção, ao passo que na Câmara a tarefa de Arthur Lira parece mais difícil. Sobretudo, pelo fato de que uma parte considerável das legendas está fracionada e os ajustes na construção das mesas diretores e comissões deve realçar tais divisões.
O ponto é que em meio a uma lógica em que o embate político tende a mudar de escopo, o governo tem caminho livre para construir uma agenda que o permita ser viável em termos eleitorais em 2022. O dilema, portanto, reside na capacidade que a presidência tenha de efetivamente construir esta agenda e construir acordos e compromissos que permitam aumentar a sensação de que o país não está à deriva em meio a uma grave crise. Terá de substituir o antagonismo como modo de ação pela construção de agendas negociadas, de modo a dar um rumo ao governo, algo nada trivial para quem se acostumou a jogar na polarização.
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