Ex-ministro aponta a falta de educação de qualidade como uma das origens dos problemas do Brasil
por Cristovam Buarque em 25/05/21 16:32
Há décadas nascem quase 3 milhões de novos brasileiros cada ano. São cérebros que nesta Era do Conhecimento significariam fontes de riqueza: aumento de produtividade, capacidade de inovação, criação de tecnologia e fonte de estabilidade política e justiça social. Cada cérebro é um Pré-Sal do Conhecimento, desde que o seu potencial seja criado pela educação. Para explorar um poço de petróleo é preciso localizar, perfurar, extrair, ao custo de centenas de bilhões de reais. Para transformar o cérebro biológico em uma fonte de conhecimento é preciso muito menos. Mesmo assim, os 40 a 60 milhões de cérebros que nasceram nas últimas décadas foram desperdiçados, por falta de educação. No máximo 10 a 20% deles, 4 a 12 milhões, receberam uma educação de base razoável. Foi como se encontrássemos e tapássemos as fontes do principal capital do século XXI: o conhecimento.
Isto ocorre porque a Constituição considera a educação como um direito de cada brasileiro e não como o vetor fundamental para o progresso de todo o país. Também pelo atavismo brasileiro, que vem da escravidão e da desigualdade social, passando a ideia de que este direito constitucional não deve ser cumprido igualmente para todos. Por estas razões, educação não é prioridade, nem é para todos. O resultado é que, a cada ano, centenas de milhares de crianças, adolescentes e jovens abandonam a escola plenamente. E os que ficam até o final do ensino médio cometem o abandono funcional: ficam presentes, mas não frequentam regularmente, não assistem, não aprendem. Em suma, não adquirem os conhecimentos necessários para serem elementos do progresso, pessoal e nacional.
O resultado é o desemprego por despreparo, baixa produtividade dos que trabalham, desigualdade social, violência, ineficiência social. Cada problema brasileiro tem diversas causas, mas a falta de educação com qualidade para todos é uma causa presente em cada um dos problemas.
Mesmo assim, o Brasil não parece estar despertando para a necessidade de dar o salto em educação na direção de ficarmos entre as melhores do mundo, e darmos a mesma qualidade para cada criança, nenhum cérebro deixado para trás, sem aproveitamento. Para isto seria preciso vontade política nacional e estratégia o governo federal adotar a educação das crianças nos municípios que não têm como oferecer escola de qualidade para todos.
Sem isto, mesmo com pequenos avanços, vamos ficando para trás, como se descobríssemos o Pré-Sal e preferíssemos tapá-lo, no lugar de aproveitá-lo.
Cristovam Buarque é professor emérito da UnB, onde foi reitor. Foi governador e senador do DF, além de ministro da Educação por um ano. É filiado ao Cidadania
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