Membros do conselho foram indicados pelo Governo Federal e iriam seguir na gestão sob o comando do general Silva e Luna
por Vitor Hugo Gonçalves em 03/03/21 12:56
Dos 11 membros que compõem o atual conselho de administração da Petrobras, quatro informaram a companhia que não aceitarão a recondução ao cargo, processo que seria estabelecido na próxima assembleia geral extraordinária da estatal. Optaram pelo afastamento João Cox Neto, Omar Carneiro da Cunha, Nivio Zivian e Paulo Cesar de Souza.
A reeleição deles havia sido proposta pela própria União, por meio de um ofício do Ministério de Minas e Energia encaminhado à empresa em 19 de fevereiro – a Petrobras possui, além dos quatro, mais três conselheiros indicados diretamente pelo Governo Federal.
Em um comunicado oficial emitido pela petroleira nesta terça-feira (2), Omar Carneiro da Cunha afirma que “em virtude dos recentes acontecimentos relacionados as alterações na alta administração da Petrobras, e os posicionamentos externados pelo representante maior do acionista controlador da mesma [a União], não me sinto na posição de aceitar a recondução de meu nome como conselheiro desta renomada empresa, na qual tive o privilégio de servir nos últimos sete meses”.
Elogiando a atual gestão, o conselheiro complementou a explicação dizendo não concordar com as alterações reivindicadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), uma vez que elas impactam as diretrizes estruturais e de exercício administrativo da companhia.
“A mudança proposta pelo acionista majoritário, embora amparado nos preceitos societários, não se coaduna com as melhores práticas de gestão, nas quais procuro guiar minha trajetória empresarial. Sendo assim, acredito que minha contribuição ao Conselho de Administração e à empresa seria fortemente afetada, e minha efetividade reduzida”, concluiu.
A deliberação dos quatro conselheiros acontece após Bolsonaro decidir substituir o comando da Petrobras, influenciado por críticas à política de preços da empresa, trocando o atual gestor, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna.
Por convenção, o governo federal tem o direito de indicar o presidente da estatal, uma vez que a União é a maior acionista da companhia. A designação ao cargo, porém, depende de aval do conselho, submetida ao processo de análise de gestão e integridade; o mesmo ocorre com os conselheiros.
Afirmando respeitar a decisão do presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a ação de Bolsonaro na Petrobras ocasionou um efeito negativo no mercado. Em entrevista nesta terça, Guedes contou que, apesar de compreender “politicamente a atitude”, “do ponto de vista econômico o efeito foi ruim, essa foi a nossa conversa interna”.
“A minha visão sobre estatais é conhecida. Agora, eu tenho que respeitar o presidente da República: ele diz ‘é isso aqui que eu quero agora’, ele tem o direito”, afirmou. Para o ministro, o fato de o setor depender fortemente da estatal acaba alocando a culpa pelo aumento no preço dos combustíveis para o Governo Federal
“O ônus e o bônus estão caindo na própria presidência. Já que a estatal continua estatal, o povo vai sempre cobrar do governo uma atitude em relação ao preço de um produto que você tem a presença do Estado na exploração, no refino e na distribuição, mesmo que ela repita práticas internacionais”, explicou.
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