Economia

MERCADO DE COMMODITIES

Apesar da crise petrolífera, Petrobras não deve aumentar preços

Analistas do mercado compreendem que mesmo com a delicada conjuntura mundial, estatal brasileira acompanha volatilidade internacional e deve optar por evitar perturbações no ambiente político doméstico.

por Vitor Hugo Gonçalves em 03/03/22 21:47

Crise petrolífera: Após os Estados Unidos imporem restrições às exportações de tecnologia no setor de refino de petróleo russo, o mercado da commodity vivenciou um dia agitado. Na manhã desta quinta-feira (3), o barril tipo Brent (referência para o comércio mundial) renovou sua máxima em mais de uma década, chegando a ser negociado por US$ 119,84 – ao longo do dia, no entanto, o movimento perdeu força, cedeu 2,18%, e passou a ser comercializado a US$ 110,46.

Em meio às incertezas, aversão à riscos e uma crescente aderência à denominada “velha economia”, o banco de investimentos UBS BB divulgou um relatório compreendendo a atual conjuntura petrolífera, com destaque para a companhia brasileira Petrobras.

Plataforma petrolífera da Petrobras

Plataforma petrolífera da Petrobras. Foto: Reprodução (Agência Brasil)

A instituição financeira elencou pontos de atenção para os investidores da estatal, ressaltando o mercado doméstico e a famigerada política de preços da empresa. Para o banco, o investidor deve se atentar a quatro principais pontos:

  • Ajuste de preços: novos reajustes não devem ocorrer de imediato, tendo em vista o ambiente político e a volatilidade dos preços internacionais;
  • Risco de escassez: por ora limitado, uma vez que, em parte, os volumes exportados geralmente são definidos com 30 a 45 dias de antecedência e estão a caminho de março;
  • Paridade: na paridade abaixo dos 20% negativos, espera-se que os players privados aguardem a estratégia da Petrobras antes de tomar decisões (se a estatal importará para abastecer o mercado ou se serão os distribuidores que importarão);
  • Preços domésticos: é preciso manter temporariamente os preços domésticos abaixo da paridade de importação (flutuação internacional), pois seria menos negativo do que uma possível queda de um aumento.

Quanto aos combustíveis, então, o UBS não espera aumentos no mercado nacional, uma vez que novas altas podem desencadear reações negativas do governo e da população, agravando ainda mais a atual conjuntura de incertezas. Além disso, a instituição estima que a gasolina já esteja cerca de 25% abaixo da paridade de importação e o diesel 20%.

Impactos do conflito no Leste Europeu

A forte participação da Rússia no mercado global de energia tem sido pauta para analistas econômicos, que tentam explicar os impactos diretos e indiretos das sanções impostas sobre a nação comandada por Vladimir Putin.

Para Hector Trabucco, CEO LATAM da Dover Fueling Solutions, o cenário agora é de total atenção, para que haja a compreensão acerca das próximas movimentações russas: “Estamos vivendo um momento complexo, com situações que não ocorriam em muitas décadas, e o mundo está em cautela, observando como isso vai evoluir. A questão da guerra na Ucrânia tem um impacto muito grande na energia como um todo, não só nos combustíveis, tendo em vista que a Rússia é um player relevante, detentora de 10% da produção de petróleo”, explica Trabucco.

Quanto à possibilidade de escassez da principal commodity energética, o gestor esclarece que há um o acordo generalizado entre as nações exportadoras e importadoras, que diz respeito ao abastecimento populacional e às necessidades primordiais da cadeia de produção.

Trabucco comenta que “esses contratos globais de fornecimento de petróleo têm um grau de cobertura de várias semanas, e os compromissos têm tido uma tendência histórica de serem cumpridos, mesmo em cenários de bastante dificuldade. A situação agora é nova, o mercado ainda procura compreender os impactos da evolução desse conflito, mas a expectativa é que esses compromissos de fornecimento sejam cumpridos… Particularmente, eu não vejo riscos quanto à falta de produtos; essa volatilidade será mais sentida no preço, na inflação, do que no fornecimento”.

Quanto a alta no preço dos combustíveis, o CEO coloca em contraponto lucro e necessidade, exemplificando a política de defasagem empregada atualmente pela Petrobras: “A última vez que a Petrobras operou com uma defasagem tão grande foi no período de 2011 a 2013, em que a diferença também estava na faixa dos 20% – essa foi uma época em que a Petrobras teve prejuízos financeiros muito grandes. Agora, a companhia está agindo com muita cautela, até porque ninguém sabe quanto tempo essa situação pode demorar… Caso seja resolvida rapidamente, a flutuação pode ser absorvida pelas empresas de uma maneira relativamente tranquila. Mas caso a situação demore para ser resolvida e o preço do petróleo se mantenha no médio/longo prazo, a Petrobras terá grandes dificuldades para manter essa política de absorção do gap”.

No fim, entende-se que a perspectiva econômica ainda busca compreender o grande objetivo dos russos, tentando ao máximo precificar as ações do conflito. No entanto, em confluência com governantes e civis, o mercado ainda vê a guerra no Leste Europeu com cautela e cercada de interrogações.

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A entrevista completa com Hector Trabucco e mais impactos macroeconômicos e na carteira de investimentos, você confere no MyNews Investe desta quinta-feira:

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