Para Maurício Santoro, ex-chanceler se eximiu das responsabilidades frente ao Itamaraty durante depoimento à CPI
por Juliana Causin em 18/05/21 21:09
Em depoimento à CPI da Covid-19 nesta terça-feira (18), o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se eximiu dos erros que cometeu à frente do Itamaraty durante a pandemia. Essa é a avaliação do cientista político e professor de Relações Internacionais da UERJ, Maurício Santoro.
Em entrevista ao Dinheiro Na Conta, Santoro diz que, diante dos senadores, o ex-chanceler do governo de Jair Bolsonaro tentou se desvencilhar da responsabilidade pelo atraso na compra de vacinas pelo Brasil e também pela empreitada do Itamaraty na busca por cloroquina.
“Foi uma tentativa dele de jogar essa responsabilidade para o Ministério da Saúde, até pensando, claro, na expectativa para o depoimento do general Pazuello amanhã”, afirma o pesquisador.
Santoro avalia que, além de responsabilizar o Ministério da Saúde, o ex-ministro também decidiu não assumir as declarações críticas feitas à China durante sua condução do Itamaraty. Ele também negou sua postura tenha atrapalhado o envio de vacinas e insumos chineses ao Brasil. Para o cientista político, “faltou ao ministro a dignidade de assumir os seus erros”.
Em depoimento à CPI, o ex-chanceler Ernesto Araújo disse que “jamais” promoveu um atrito com a China “seja antes, seja durante a pandemia”. O presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), chegou a acusar o ex-ministro de mentir no depoimento e disse que ele estava “faltando com a verdade”.
“No mínimo, no mínimo, a gente pode responsabilizar o ex-ministro por ter fracassado em tornar o Brasil uma prioridade para Pequim, em colocar o Brasil como um aliado decisivo da China, que teria prioridade no recebimento dos insumos médicos na pandemia. Isso por si só já é muito grave e muito sério”, explica o professor.
Para Roberto Dumas, professor de Economia Internacional e Economia Chinesa do Insper, o governo brasileiro não trabalhou com a diplomacia em relação à China para construir canais de diálogo. “Ele simplesmente governou para rupturas, com um manto de soberania. Na verdade, o problema era ideológico” afirma o economista.
Dumas destaca que apesar dos ruídos na relação entre os dois países, as trocas comerciais entre Brasil e China têm crescido em volume. Esse foi um dos argumentos de Ernesto Araújo à CPI para afirmar que seu trabalho não prejudicou a relação entre os dois países.
Para Dumas, os negócios entre os dois países acontecem apesar da diplomacia brasileira, a partir do empenho do setor privado. “Os negócios com o Brasil e a China saem a despeito da diplomacia brasileira”, diz ele.
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