Mudanças climáticas, questões socioambientais, segurança cibernética, reputação e desastres industriais são temas que devem ocupar agendas de executivos de alto escalão
por Laura Penna Coelho em 30/08/21 16:07
Reunião do comitê corporativo de riscos e crises, agosto de 2021. Pauta: crise hídrica e energética. Esse tem sido o foco de diversas organizações no cenário atual.
Um tema que se não tratado em sua globalidade e profundidade, certamente tende a ocupar cada vez mais a agenda do C-level. A matriz energética brasileira é predominantemente baseada em hidrelétricas, o que coloca o país com uma boa reputação com relação a outras fontes de energia consideradas de maior impacto negativo para o equilíbrio do planeta. No entanto, a sustentabilidade dos recursos hídricos e energéticos ao longo do tempo depende da manutenção de ecossistemas nativos que equilibram o ciclo hidrológico. Esse quadro propõe um desafio para o mercado, principal consumidor de água e energia, em tempos cada vez mais marcados pela temática das mudanças climáticas e pela implementação rumo aos princípios ESG (sigla em inglês governança ambiental, social e corporativa).
Crises servem para refletir sobre os resultados de escolhas passadas e sobre novas decisões possíveis acerca dos caminhos a serem percorridos. Neste contexto, talvez a chave recaia sobre humanizar as mudanças climáticas, entendendo o que pode ser feito a respeito de ações de responsabilidade humana – que vão muito além das emissões de carbono – como forma de prevenir uma grande crise energética, hídrica e, por que não, também social – uma vez que as comunidades tradicionais possuem papel fundamental na manutenção das matas nativas. Desta forma, a valorização de culturas que possuem modos de vida que prosperam junto com as florestas, zelando pela diversidade e diferentes formas de organização social, são parte integrante e fundamental da solução para uma sociedade resiliente.
Por falar em resiliência, como tudo isso se traduz para a realidade corporativa? É preciso conectar indicadores dispersos em programas como compliance, relação com stakeholders e resposta a incidentes. Mais do que isso, trata-se de criar alinhamento entre os diferentes pilares que existem dentro de cada empresa. Fazer as perguntas certas para entender como os pontos cruzam nesse novo contexto em que estamos, cada vez mais conectados e tendo visibilidade sobre esse processo de troca acelerada de informações e maior dependência das tecnologias que nos sustentam diariamente.
O ano de 2020 pegou de surpresa muitas organizações. Poucas podem afirmar que mapearam previamente um cenário de crise corporativa devido à pandemia e, para além disso, construíram planos de contingência robustos com este foco. A nova realidade vem sendo construída pelas empresas a cada desafio vencido em um instável contexto mundial. Particularmente, durante a pandemia, as organizações enfrentaram de maneira conjunta o cenário de crise, mas, ainda assim, devido à imprevisibilidade destes eventos, muitas crises incidem sobre uma empresa ou setor em particular, deixando quem os experimenta mais vulnerável.
A pergunta que se faz é: que grandes eventos de ruptura podem estar por vir que as empresas não estão preparadas? Elenquei os top 4 cenários de crise que considero possíveis de desafiar as organizações no mercado brasileiro:
Em linhas gerais, as empresas possuem maior dificuldade em lidar com cenários que se associam. Como exemplo, um evento cibernético que gere um vazamento de dados que exponha informações sobre o impacto de sua operação que não esteja aderente com as regulações aplicáveis. Isso se deve à ausência de preparo para responder a crises de maneira integrada e a tendência é que tentem resolver um evento fora do comum aplicando o seu modo usual de operação, ou seja, separando em silos e planos de ação distintos, não tendo previamente organizado sua governança para crises.
Um preparo robusto estrutura as empresas para pensarem de maneira integrada, com alinhamento entre a resposta operacional, em suas diversas áreas, e a estratégia da empresa, potencializando a experiência da liderança.
Agir com responsabilidade nestes momentos é fundamental em muitos aspectos, mas particularmente em relação ao ativo mais essencial e intangível de uma organização: sua reputação. A gestão de crise envolve um exercício diário de construção e zelo pelo trabalho que está sendo feito a cada momento rumo aos princípios ESG, permitindo assim uma habilidade de resiliência e a possibilidade de construir relações culturais diferentes e promissoras para um futuro comum.
Laura Penna Coelho é gerente de Gestão de Crises e Resiliência da Deloitte
* As opiniões dos artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a visão do Canal MyNews
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