Questões como poupança futura, plano de previdência e qualidade de vida na terceira idade deveriam ser prioridade. Economizar para o futuro deveria ser assunto da juventude
por Redação em 19/10/21 22:26
Com o aumento da expectativa de vida da população brasileira, questões como uma poupança futura, ou um plano de previdência complementar que possibilite ter uma melhor qualidade de vida na chamada terceira idade passam a ser prioridade. O que muita gente ainda não pensa, mas deveria estar atenta, é que economizar para aproveitar o futuro que parece longínquo deveria começar na juventude.
Esse foi um dos aspectos destacados pelo economista Affonso Celso Pastore, presidente do Centro de Debates de Políticas Públicas, na conferência “Poupança da esperança: como criar um novo sistema de renda futura para todos”, no primeiro dia de programação do 42º Congresso Brasileiro de Previdência Privada. Este ano, o evento é totalmente online e conta com mais de 100 palestras sobre diversos temas relacionados à previdência privada e também à gestão de fundos e à necessidade de reinventar estratégias num mundo globalizado e tecnológico.
“Numa sociedade em que a expectativa de vida é baixa, o peso que a pessoa dá ao consumo futuro e como privilegia o consumo presente é diferente se comparado aos países com a expectativa de vida mais elevada. Questões como qual é a expectativa de vida e qual é a qualidade de vida que o indivíduo espera a partir de uma certa idade passam a ser mais importantes em sociedades onde se vive mais. No plano individual é o que mais pesa sobre quanto consumir e o quanto poupar para o futuro”, considerou Pastore, durante sua palestra.
Ele ressaltou que o Brasil viveu uma transição demográfica acelerada – quando a expectativa de vida cresce e a natalidade diminui a ponto de mudar a pirâmide social etária. Segundo Pastore, a expectativa de vida ao nascer no Brasil, na década de 1970, era de 65 anos. Já em 2020, essa expectativa de vida passou para 85 anos ou mais.
“Tudo isso é consequência de duas coisas: dos mecanismos de saúde – a ciência progride, arruma remédios, cura doenças que eram incuráveis e permite mais qualidade de vida. A pessoa vive mais tempo e tem uma taxa de desconto muito melhor sobre o consome. Por isso, resolver poupar mais na juventude é a poupança da esperança, por um tipo de vida melhor mais adiante. Acumula um ativo enquanto é jovem, para quando estiver com uma ‘vintage’ mais antiga – como uma garrafa de vinho – descontar no futuro a uma taxa de juros muito baixa. Tem um retorno menor do ativo que acumulou, mas vai ter um consumo melhor no futuro”, defendeu.
Para o economista e cientista social Eduardo Giannetti a transição demográfica brasileira “é o fato mais importante da nossa geração nos moldes em que vem acontecendo. Giannetti destacou que a população brasileira praticamente triplicou num período de 45 anos.
“Houve uma explosão populacional a partir da Segunda Guerra Mundial. Simplesmente triplicamos a população em 45 anos. Demoramos, desde o “descobrimento” a 1950 para alcançar os 50 milhões de habitantes, e em 45 anos, em 1994, a população do Brasil já era de 150 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, a partir dos anos 1970, a taxa de fecundidade caiu. O número médio de filhos por mulher atualmente é dois – uma queda vertiginosa”, destacou o economista, para explicar que a combinação desses dois fatores fez mudar o formato da pirâmide etária do país.
“Tínhamos uma pirâmide muito larga (com uma base jovem e infantil). À medida essas pessoas foram envelhecendo, o que era uma pirâmide virou um barril, com o estreitamento da base, o miolo grande e o pico estreito. Em alguns anos, o barril se transformará num cogumelo, com uma haste muito estreita e o topo chegando à terceira idade. Num resumo mais simples, em 2015 cerca de 12% da população brasileira tinha acima de 60 anos. Esse percentual será de 30% até o ano de 2050”, explicou Eduardo Giannetti.
Para ele, o desafio das próximas gerações será ter uma sociedade que ofereça qualidade de vida a essa população de idosos, que vai demandar mais atendimento, assistência e cuidados. Por isso, as implicações econômicas da previdência social são muito importantes.
“O desafio geracional é garantir que essa transição do ‘barril’ para o ‘cogumelo’ ocorra de uma maneira que nos permita garantir ao topo uma condição de segurança material, bem-estar e qualidade de vida. Para que a gente consiga transferir recursos dos que estão trabalhando para os que não estão trabalhando. Teremos que aumentar a produtividade do trabalho no Brasil. Os brasileiros terão que ser muito mais produtivos para criar uma renda suficiente para garantir qualidade de vida para o enorme contingente de brasileiros para o topo da pirâmide etária”, ressaltou.
Segundo Giannetti esse desafio de aumentar a produtividade passa pela escolarização da população e pelo uso de tecnologias, assim como em sociedades como o Canadá, o Reino Unido e o Japão. Outro desafio, de acordo com o economista, é que a sociedade brasileira entenda a importância de economizar para o futuro e de começar a economizar cedo.
O superintendente-geral da Associação Brasileira de Previdência Privada (Abrapp) – organizadora do congresso, Devanir Silva, defendeu que a reforma da previdência realizada no Brasil foi feita “pela metade”. Ele defendeu o modelo de capitalização previdenciário e considera que este debate foi “contaminado pelo exemplo chileno”. “Demonizamos a capitalização e esse é um dever de casa que precisamos voltar”, argumentou. Para Devanir Silva a missão de quem trabalha com a previdência privada é “oferecer renda qualificada” às pessoas.
O 42º Congresso Brasileiro de Previdência Privada segue até o dia 22 de outubro, totalmente online. O tema do evento este ano é “Atitude à prova de futuro #liderprotagonista”. A abertura contou com uma conferência do filósofo, educador e escritor Mário Sérgio Cortella.
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