Economia

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Projetos e empresas se reposicionam e driblam obstáculos gerados pela pandemia

Empreendimentos buscaram novos caminhos para se adaptarem ao contexto de pandemia de Covid-19

por Affonso Nunes em 28/12/20 07:35

Mesmo colocados em xeque pela crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, alguns empreendimentos conseguiram buscar novos caminhos para se adaptarem à realidade de momento. Dessa forma, evitaram que seus próprios negócios se tornassem vítimas da Covid-19.

Um deles é a NearBee, uma empresa de tecnologia de impacto nascida a partir de um projeto social e que viu seus projetos em parcerias com governos praticamente minguarem com a pandemia.

Voltado para governos, a plataforma Emergência Digital – idealizada pela empresa – permite que serviços públicos lancem, com suas próprias marcas regionais, aplicativos que prestem os serviços de 190 (polícia), 192 (SAMU) e 193 (Corpo de Bombeiros) de forma digital e outras variantes, como proteção especial a servidores em cargos de risco.

“O contexto da Covid-19 mudou bruscamente os nossos planos. Iniciativas como a Emergência Digital, por exemplo, tiveram interrupção em várias oportunidades de implementação, pois as secretarias de saúde não tinham espaço para falar sobre outro tema”, revela Felipe Fontes, um dos sócios da startup, referindo-se ao projeto pensado como carro-chefe da empresa.

Empresa com perfil de ONG

A NearBee nasceu como um aplicativo gratuito de solidariedade entre pessoas geograficamente próximas, permitindo desde pedidos de socorro a solicitações cotidianas, como pedir uma furadeira emprestada.

“Para viabilizar esse plano, vimos que haveria mais oportunidade em captar recursos via investimento do que doações, e por isso criamos uma startup ao invés de uma ONG”, argumenta. “O modelo de negócio era de altíssimo risco e só ganhou corpo graças aos investidores-anjos que estavam mais comprometidos em ver essa proposta acontecer do que retorno financeiro em si”, completa.

A equipe de desenvolvimento da NearBee, que se reposicionou para enfrentar a pandemia
Equipe de desenvolvimento da NearBee, que se reposicionou para enfrentar a pandemia.
(Foto: Divulgação)

Com esta tecnologia em mãos, prefeituras e governos estaduais tornaram-se o cliente-alvo da NearBee, embora receber de fato desses entes seja um desafio para a empresa.

Um exemplo dessa situação é o EmergenciaRJ, aplicativo oficial do 190 do Estado do Rio de Janeiro desde as Olimpíadas, lançado em parceria com o governo do Rio. Ele é acessível a surdos, turistas que não falam português, ou para qualquer pessoa que queira pedir ajuda, mas não conseguiria fazer uma ligação, como uma mulher sofrendo violência doméstica.

“A solução está ativa desde então, recebe dezenas de chamadas diárias, mas nunca conseguimos receber um único centavo do governo do Rio, pois nunca houve disponibilidade de verba para o projeto”, aponta o sócio da NearBee.

A virada de chave da empresa veio quando a Ambev, multinacional do setor de bebidas, adotou um app desenvolvido pela NearBee, o MPI (Monitor Preventivo de Interação) que contribui para o combate às proliferações de Covid-19. Através da consulta das informações históricas de interação de um suspeito de contágio, é possível isolar potenciais contaminados, evitando o surgimento de mais casos nas fábricas e demais unidades do grupo empresarial. O MPI tem 9 mil usuários espalhados em 65 fábricas da empresa na América do Sul e virou uma espécie de EPI (Equipamento de Proteção Industrial) voltado ao distanciamento social.

Esta solução acabou se tornando a maior fonte de receitas da Nearbee, que hoje conta com 12 pessoas e obtém um faturamento de R$ 150 mil reais por mês. “Sabemos que é um crescimento relativamente devagar para uma startup, mas considerando a missão de impacto social que abraçamos e grau de disrupção dos projetos que escolhemos atuar, já fomos taxados como ‘improváveis de sobreviver’. Então consideramos notável chegarmos até aqui e estarmos em um cenário de negócio saudável, crescente e promissor”, destaca Fontes.

Alternativa a shows

Outro setor duramente afetado pela pandemia e pelas ações de distanciamento social é o de cultura e entretenimento. Levantamento feito pela UBC (União Brasileira de Compositores) revela que um terço dos profissionais de cultura tiveram renda zero desde março, quando os teatros e casas de espetáculo fecharam as portas. O número não se restringe a artistas, mas engloba ainda técnicos e funcionários de apoio de um setor que até 2019 representava até 2,67% do PIB nacional, com 5,8% do total de trabalhadores ocupados, de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Foi nesse período que proliferaram as lives, transmitindo shows, apresentações de teatro, dança, mesas redondas e outros eventos. E dentro do Instituto Gênesis, incubadora de negócios sociais da PUC-Rio, foi desenvolvida uma plataforma com mecanismos de arrecadação para que as lives de artistas de qualquer porte possam ser monetizadas.

Lançado em 2017, o aplicativo Sound Club app conectava artistas – produtores de eventos e o público em dois mapas, um de shows presenciais (artistas cadastravam seus shows e o público descobria os eventos por geolocalização, de barzinhos a casas de shows) e outro de oportunidades, voltado a artistas e produtores. 

Em janeiro de 2020 o aplicativo tinha mais de 30 mil inscritos, entre os quais artistas e milhares de produtores de eventos. Já em março, com a chegada da pandemia, esse cenário mudou completamente.

“Fiquei muito assustada naquele momento, pois além de me preocupar com os artistas que não teriam como viver da sua arte, já que os shows são a principal fonte de receita da maioria dos músicos, o meu sonho, o meu app também havia parado”, conta Juliana Brittes, uma das sócias do Sound Club.

Juliana Brites, sócia do Sound Club
Juliana Brittes, sócia do Sound Club; projeto também buscou novo posicionamento diante da pandemia.
(Foto: Divulgação)

Em um mês, Brittes colocou em circulação uma nova versão de seu projeto, o Sound Club Live. “Uma ideia veio à minha cabeça: desenvolver uma plataforma na qual os artistas pudessem transmitir os seus shows online e gerar renda com eles diretamente com o seu público”, pontua.

Por meio do app, o artista transmite o seu show online, precifica e vende diretamente para o seu público, sem intermediação de algoritmos. O alcance desse palco virtual depende de cada um. O Sound Club Live cobra uma taxa de 15% sobre as operações realizadas dentro da plataforma, enquanto os demais 85% vão direto para a conta do canal. 

“Já tivemos shows com quase 3.000 visualizações simultâneas. Mas também aqueles canais que tem 20, 30 pessoas monetizam o suficiente para ser maior que qualquer fonte de arrecadação em outra plataformas no mesmo segmento”, compara a empreendedora, que tem mais dois sócios.

Entre abril e dezembro, a plataforma já foi palco de mais de 600 shows online e conta com mais de 10 mil inscritos. Os shows transmitidos englobam desde artistas que tocam em barzinhos a shows do mainstream como Ludmila, Nego do Borel, Mumuzinho e Detonautas. Há também a oferta de peças de teatro como “O Julgamento de Sócrates”, monólogo com Tonico Pereira, ou a comédia “Tsunany”, com a comediante Nany People.

“Temos certeza de que ajudamos muitos artistas durante esse período, constituindo muitas vezes sua única fonte de receita”, ressalta Brittes. 

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