País enfrenta onda de protestos com crise econômica, política e social. Falta de alimentos e combustíveis agrava ainda mais a desigualdade social
por Hermínio Bernardo em 17/07/21 12:53
Mais de 200 pessoas já morreram na onda de violência que acontece na África do Sul. O estopim para a atual situação foi a prisão do ex-presidente Jacob Zuma no dia 8 de julho. Ele foi condenado a 15 meses por desacato após não cumprir uma ordem judicial para comparecer ao tribunal e prestar depoimento em um inquérito que apura denúncias de corrupção durante seu mandato (2009 a 2018).
Os protestos expuseram a insatisfação geral da população com a situação econômica e social do país, agravada pela pandemia. A África do Sul é o país mais afetado pela pandemia no continente africano. Lá surgiu uma das variantes que se espalharam pelo mundo e já totaliza 66 mil mortes por covid-19.
Com a crise econômica, os atos bloquearam estradas e portos. Há escassez de alimentos e combustíveis em alguns pontos do país. Supermercados, lojas e depósitos foram saqueados e incendiados. Diante do caos social, alguns hospitais enfrentam falta de insumos e a vacinação precisou ser interrompida.
A África do Sul é um dos países mais desiguais do mundo. Metade da população vive abaixo da linha da pobreza. No primeiro trimestre de 2021, a taxa de desemprego atingiu a marca recorde de 32%.
O presidente Cyril Ramaphosa, que é o sucessor político de Zuma, decidiu enviar tropas federais para ajudar a polícia das províncias para, segundo ele, “restaurar a ordem”.
A desigualdade econômica e social, a situação política e vários outros problemas da sociedade sul-africana são reflexos diretos das décadas de apartheid.
Para falar sobre o tema, as várias biografias da Nelson Mandela são ótimas sugestões, com destaque para “Invictus”, que até ganhou uma adaptação para o cinema. Mas a sugestão literária desta semana é outra.
Em “Desonra”, J. M. Coetzee – Nobel de Literatura em 2003 – retrata as cicatrizes do período de apartheid na sociedade sul-africana. O livro é de 1999, logo após o fim do regime que terminou em 1994. A obra traz as relações sociais e a atmosfera marcada pelas décadas de violência a partir da história de David, um professor universitário.
“Um risco possuir coisas: um carro, um par de sapatos, um maço de cigarros. Coisas insuficientes em circulação, carros, sapatos, cigarros insuficientes. Gente demais, coisas de menos. O que existe tem de estar em circulação, de forma que as pessoas possam ter a chance de ser felizes por um dia. Essa é a teoria; apegar-se à teoria e ao conforto da teoria. Não a maldade humana, apenas um vasto sistema circulatório, para cujo funcionamento piedade e terror são irrelevantes. É assim que se deve ver a vida neste país: em seu aspecto esquemático. Senão se enlouquece.”
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