Sidarta foi um ser humano que atingiu o ápice da evolução espiritual ao atingir o nirvana. Ao chegar a esse ponto ele satisfaz completamente seus interesses e se habilita a ajudar os outros para que aprendam o mesmo caminho.
por Heródoto Barbeiro em 14/07/22 13:42
É comum atribuir aos líderes religiosos qualidades divinas. As tradições relatam coisas fantásticas de seus fundadores e como eles tiveram inspiração divina. Moisés, Jesus e Maomé falaram diretamente com Deus. O Buda não. Há escolas budistas, especialmente do sudeste asiático, que deram configuração de divindade a ele, mas em confronto com os textos originais. Por isso atribuíram a Sidarta uma divina clarividência, e era capaz de ler o espírito das pessoas e falava de acordo com as necessidades delas. Há, também no budismo, uma mistura de lendas, tradições e interpretações fantásticas. Tentei mostrar algumas no livro Buda, Mito e Realidade ( Madras).
A tradição diz que o Buda costumava , a cada manhã, dar uma olhada no mundo, e ver por sua divina clarividência onde se encontravam as pessoas prontas para receber a verdade. Quando recebia visitantes, olhava-lhes o espírito, lia-lhes os motivos secretos e então lhes falava segundo a necessidade deles. Atribuir ao líder faculdades sobre humanas é comum nas religiões, e o budismo não escapou disso. Em nenhum momento Sidarta disse que os homens poderiam se tornar Deus, mas apontou o caminho que cada ser humano, não importa a origem, sexo, etnia, condição econômica e social poderia encontrar com o deus que está dentro se sí. Portanto todo ser humano é uma Buda potencial, depende de sua vontade de desenvolvê-lo ou não. Portanto há que se separar o personagem mítico, folclórico, fantástico do homem que descobriu o caminho do Nirvana e passou o resto de as vida ensinando as pessoas. Os mitos não se restringem ao fundador do budismo, outros personagens budistas também são míticos como Guru Rimpoche, o monge que levou o budismo para o Butão e chegou lá cavalgando um tigre. Por isso o primeiro mosteiro, construído no Século 17, tem o nome de O Ninho do Tigre.
As pesquisas históricas nem sempre batem com a tradição das religiões e isso vale também para o Budismo. A história é uma ciência humana, com metodologia própria que tem, entre outros objetivos, o de separar os fatos dos mitos. Vale para qualquer personagem, tenha sido ele líder religioso ou não. Nem por isso os adeptos das religiões precisam abrir mão de suas crenças. A história não é crença, o budismo também não, portanto fazer um levantamento real sobre a vida de Sidarta, o Buda histórico, em nada abala a religião. A história comprova sua existência? Sim, há testemunhos de contemporâneos e restos arqueológicos de locais onde viveu. A pesquisa histórica encontrou inscrições em colunas, rochedos e edifícios da época e do Sidarta. A ordem fundada por ele passou pelos séculos repetindo sua saga. A história também considera a oralidade como fonte. Reuniões de monges se realizaram ao longo do tempo para recuperar a sua trajetória. Depois de sua morte e cremação, suas cinzas foram guardadas em locais sagrados durante séculos, as estupas. Há também documentos escritos antigos que corroboram a existência de Sidarta e o período que viveu.
Há os que atribuem a Sidarta Gotama, o Buda, o poder de emitir um clarão que emanava do seu corpo. Era um radiante brilho interior que se espalhava ao redor. É conhecido como os raios do Buda. O Velho Testamento conta que Moisés também irradiava um fulgor cada vez que falava com Deus. Os santos cristãos tinham o atributo conhecido como Odor da Santidade, entre eles São Francisco. Essas luminosidades são conhecidas hoje como auras humanas. Os santos católicos são retratados com auréolas, uma prática muito comum na Ásia, muito tempo antes. Contudo Sidarta não tinha poderes sobrenaturais e não era capaz de ressuscitar como Jesus Cristo. Há uma tradição de uma mãe que se nega a entregar um bebê morto para o enterro. Procura Sidarta e pede a ele que o ressuscite. O Buda diz que o fará se ela conseguir um grão de mostarda obtido em uma casa onde a morte nunca tivesse entrado. Em pouco tempo ela entendeu que a morte não tem volta, que não é possível ressuscitar, no entanto, ainda hoje, muita gente faz promessa para o Buda ou seus seguidores. Há procissões, doação de objetos nos templos, esmolas, velas, incensos e até mesmo romarias como eu mesmo vi no Ninho do Tigre. Há idolatria em várias regiões onde o Budismo medrou. Se o Sidarta estivesse vivo, certamente não admitiria essas práticas e não puniria a mulher que, para combater o frio, queimava estátuas do Buda de madeira. Ele mesmo desestimulava esse tipo de prática de juntar estátuas uma vez que eram inúteis para resolver questões e provocavam confusão mental. Essas distorções ao longo do tempo me lembram uma comentário de Marx depois que viu sua obra divulgada no mundo “Plantei dragões e colhi pulgas”.
Na tradição hindu o período atual, ou kalpa, tem como instrutor o príncipe Sidarta Gotama, o Buda, o Iluminado. Segundo a tradição, sua primeira aula ocorreu em 589 a.C., ou no ano 2513 do Kali Yuga, o calendário hinduísta. Na tradição oriental quando se fala de alguém é preciso dar dados que não são comuns no Ocidente. Sidarta nasceu numa quinta feira do ano de 624 a.C. ou 2478 do Kali Yuga, sob a constelação de Visa. Há autores que atestam o seu nascimento por volta de 566 a.C. Seu nome era Sidarta e Gotama o nome de família. Ele nasceu no seio da família real do pequeno reino de Kapilavastu. Seus pais eram Sudodona e a mãe Maya, O reino ficava há cerca de 200 quilômetros de Benares, próximo do Himalaia, e banhado pelo rio Rohini.
A vida do príncipe Sidarta é envolvida em bonanças próprias da realeza local, com palácios, jardins, fontes e benesses reservadas apenas para os bem nascidos. Obviamente o povo vivia na miséria, como em toda a Índia. Aos 16 anos ele casou com Yasodara, de outra família real. Ele era considerado um super atleta e era atribuído a ele uma série de vitórias em torneios entre eles a conquista de adestramento militar . Obviamente esses relatos fazem parte do mito de Sidarta. Segundo a tradição ele havia vivido incontáveis vidas anteriores, ao longo dos séculos, e nesta encarnação poderia se tornar um iluminado, um Buda. Inicialmente ele não sabia dessa possibilidade, ainda que os astrólogos de plantão pré destinavam ao filho do rei uma vida monástica.
Aos 29 anos ele resolveu renunciar à vida leiga e buscar solução para problemas que incomodavam a ele e a toda a humanidade. Velhice, doença e morte assustava a todos. Sidarta dedicou seis anos ao estudo e práticas espirituais. Sidarta dedicou seis anos ao estudo e práticas espirituais e nessa etapa chegou a níveis profundos de meditação. Contudo concluiu que elas não eram suficientes pois não o conduziam à ausência de paixões ou conhecimento superior, nem ao nirvana. Sidarta abandonou o caminho da austeridade porque concluiu que ele não iria conduzi-lo ao nirvana. Foi abandonado por seus companheiros como um apóstata. Ele experimentou os dois extremos: o luxo e o asceticismo . Nenhum deles o livrou da compreensão correta da vida e do ciclo do nascimento e morte. Saiu em busca de um caminho do meio que o levaria ao nirvana.
Ao longo de muitos anos de contemplação e penitência, Sidarta permaneceu firme em uma determinação de encontrar a causa fundamental do sofrimento e aliviar o seu sofrimento e dos outros. Ele se dirigiu a Magada, na Índia Central, para continuar sua procura. Ele não estava sequer pensando em criar uma religião ou um código de conduta que propiciassem paz e harmonia. Chegou a conclusão que são as nossas emoções que provocam o sofrimento. Na realidade elas são o sofrimento Elas implicam em apego ao eu. Na sua opinião só era possível avançar através do caminho do meio. Sidarta alcançou sua meta pela prática da meditação e graças a ela ele superou o desejo e a morte, representados por Mara, e atingiu o sambodi ou o despertar, a iluminação. Com isso a mente ficou completamente purificada, límpida, sem mácula, sem falha, branda, e ao mesmo tempo maleável, fixa e imóvel. Quando se iluminou adquiriu o conhecimento de suas existências anteriores. Há quem considere que Sidarta pregava uma antiga tradição espiritual esquecida, que caiu em desuso.
Sidarta foi um ser humano que atingiu o ápice da evolução espiritual ao atingir o nirvana. Ao chegar a esse ponto ele satisfaz completamente seus interesses e se habilita a ajudar os outros para que aprendam o mesmo caminho. Ele foi reconhecido pela população do Vale do Ganges como um mestre competente para organizar escolas e centros de meditação. Todos os seus gestos, palavras e exemplos refletem sua evolução espiritual . A compaixão é a virtude central atribuída a Sidarta . Ele deixou claro para todos que não era capaz de impedir que as pessoas passassem pelo nascimento, doença, velhice e morte. Esses sofrimentos são inevitáveis para toda a humanidade e mesmo os deuses estão submetidos a eles.
*Heródoto Barbeiro é jornalista do R7, Record News e Nova Brasil FM, além de autor do livro My News Explica Budismo, publicado pela editora Almedina. Acompanhe no YouTube “Por dentro da Máquina”.
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