Professor de relações internacionais explica como a postura de Bolsonaro afeta o desenvolvimento e a diplomacia do país
por Vitor Hugo Gonçalves em 09/03/21 09:55
O derretimento da imagem brasileira perante a comunidade internacional é um dos reflexos mais eminentes da administração negacionista do governo Bolsonaro. A avaliação é de Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP, e estudioso da geopolítica.
Seja pela desastrosa condução frente a maior crise sanitária do século ou pela recusa em efetivar planejamentos capazes de frear a devastação da Floresta Amazônica, Jair Bolsonaro (sem partido) é um dos principais personagens responsáveis por caracterizar o Brasil como uma pária mundial, avalia o analista internacional.
Para Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV-SP e colunista dos jornais ‘EL PAÍS’ e ‘Americas Quarterly’, a decadência diplomática do país foi agravada “desde que Bolsonaro se tornou presidente”: “Acompanho, há 15 anos, todos os dias, a reação e reputação do país, e confesso que nunca vi uma deterioração tão brusca como essa que estamos vendo”.
Referindo-se aos embates entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e Bolsonaro acerca das políticas ambientais e consequente devastação amazônica, Stuenkel afirma que o momento atual do país é evidenciado no exterior como uma ameaça imediata.
“Há uma percepção de que o Brasil representa não só uma ameaça a médio e longo prazo, no caso do meio ambiente, mas, também, devido a incapacidade em lidar com a situação, somada à postura do presidente, há a impressão internacional de que o país não tem a vontade política para lidar com esse desafio [pandemia], concebendo um espaço em que o vírus corre solto, podendo provocar mutações que ameaçam países. Para mim, é a pior crise da reputação brasileira em muito tempo – o Itamaraty não cumpre a função de mitigar os acontecimentos ruins, o que faz com que essas notícias cheguem ao mundo de maneira direta, não filtrada.”, explica o professor.
“Não é só o aumento de infecções. Afirmações do presidente geram uma insegurança grande, comentários defendendo cloroquina, pauta que deixou de ser discutida em abril lá fora, ataques ao uso de máscara… Bolsonaro é um dos poucos presidentes do mundo que tem essa retórica. […] Em momentos de crise, o ministério de relações exteriores é uma espécie de assessoria de comunicação, um gestor de crise. Hoje é o oposto: o chanceler compartilha teorias conspiratórias, apoia o presidente em afirmações escandalosas… Ele, de certa maneira, está piorando a imagem internacional do país. O Itamaraty, que pode servir como um escudo, atualmente é inoperante”, completa.
Questionado sobre a possibilidade de sanções contra o Brasil, Stuenkel cita o desenvolvimento da pauta ‘ecocídio’ como justificativa para a ratificação de penalidades, uma vez que o tema já é tratado por muito países como uma investida contra nações de todo o mundo, além de reprovações não oficiais estabelecidas por diferentes populações.
“Ações de boicotes iniciados por consumidores, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, onde a imagem do Brasil é péssima, não havendo atores que consigam de maneira alguma mitigar essa situação. Para políticos europeus e norte-americanos bater no Brasil é muito popular, pois não há mais nenhum elemento que defenda o presidente Bolsonaro. […] Esse isolamento tem um impacto muito ruim para a economia e para o turismo brasileiro, atrasando a recuperação econômica do país”.
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