Mudanças climáticas são reais e precisam ser administradas para um futuro mais seguro na terra. Em apenas três anos, Brasil desmatou quase 5% da Amazônia
por Juliana Cavalcanti em 01/10/21 22:31
Em apenas três anos o Brasil desmatou 5% da cobertura vegetal da Amazônia – quase um terço de todo o desmatamento ocasionado nos últimos 50 anos. Os dados foram citados pela pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luciana Vanni, em entrevista ao Quinta Chamada Ciência e são parte das justificativas para dois fenômenos climáticos vistos durante a semana no Brasil: as tempestades de poeira e fumaça no interior de São Paulo, Minas Gerais e em Goiás e o redemoinho de fogo no Mato Grosso.
“São fenômenos cada vez mais comuns. É muito importante a gente entender o que está provocando isso. Estamos com uma redução de chuvas, tanto pelas mudanças climáticas globais, que estão levando não só o Brasil a essa condição, mas temos um agravante: estamos mudando muito a cobertura da terra no Brasil. A Amazônia já foi 20% desmatada. Em 50 anos, ela foi 17% desmatada e em apenas nos últimos dois anos foram 3%, e o que se espera é pelo menos mais 1,5% até o final deste ano. Em três anos, foram quase 5% de desmatamento. Quase um terço do que a gente fez em 50 anos, e justamente quando as mudanças climáticas já chegaram”, analisou Luciana Vanni.
Vanni explica que o fato de o solo estar seco – por conta do final do período de colheita – deixa a poeira “solta”. Essa poeira, levantada pelo vento, formou nuvens do tipo “cumulus nimbus” – que começam em 1 quilômetro e podem chegar a até 12 quilômetros de altura – proporcionando a existência de uma grande diferença de temperatura entre a base e o topo da nuvem – ocasionando uma corrente de ar forte de baixo para cima.
A pesquisadora comparou a nuvem a um aspirador de pó – que elevou a poeira para o ar – formando as nuvens vistas no Brasil esta semana. Sobre o redemoinho de fogo, Luciana Vanni também atribuiu ao aquecimento global e a ocorrência de temperaturas extremas.
Se as mudanças climáticas pareciam um fenômeno distante há algumas décadas, a pesquisadora do Inpe alerta que atualmente elas já fazem parte da realidade e precisam de medidas imediatas, sob o risco de comprometimento da vida na Terra no futuro.
O pesquisador Thiago da Paixão destacou como preocupante o fato de determinados eventos climáticos que antes eram registrados apenas no hemisfério Norte agora serem frequentes também no Brasil. Para ele, essas ocorrências demonstram que o aquecimento global é uma realidade e merece atenção.
“A gente tem que perceber o que está acontecendo. Entender e aceitar que a gente vai ter que administrar o uso e a cobertura da Terra pra gente poder administrar as mudanças climáticas, porque elas já chegaram. A gente já está sofrendo as consequências e dá pra gente ter certeza que já mudamos a natureza muito mais do que poderíamos ter mudado. É preciso um plano de restauração florestal mínimo para garantir o nosso futuro. Um futuro mais seguro, onde tenha chuva. A gente precisa de água. Não dá pra só correr atrás do dinheiro, vender commodities. Não dá pra continuar assim. Chegamos num ponto em que está claro que não dá”, finalizou Luciana Vanni, pesquisadora do Inpe.
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