Ela é a primeira mulher e pessoa negra a assumir uma vaga na direção da entidade
por Liliane Machado em 14/07/21 12:40
Na cozinha, terminando de preparar o almoço, foi assim que Vilma Pinto a nova diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI), atendeu ao telefone para dar esta entrevista ao MyNews. “Só termina de colocar o queijo e está pronto”, orientou ela antes de ir a um lugar mais silencioso para então iniciar a entrevista.
A niteroiense de 31 anos, que mora no Paraná há um ano e meio, está de mudança para Brasília onde assumirá o cargo mais desafiador de sua carreira até agora. Vilma assumirá nos próximos meses a diretoria do IFI, ela teve o nome aprovado nesta semana pelos senadores da república depois de passar por uma sabatina.
Mestre em economia empresarial e finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com dissertação sobre avaliação e estimação do resultado fiscal estrutural sob a perspectiva de uma regra de política fiscal, Vilma é apaixonada por contas públicas.
Desde cedo precisou fazer sacrifícios para trabalhar, estudar e ajudar em casa financeiramente. Estudante de escolas públicas durante toda a trajetória escolar, perdeu o pai no último ano da faculdade. Hoje mora com a mãe, que a acompanha para onde vai. “Ela diz que prefere ficar comigo para me cuidar”, revela Vilma, que horas antes havia acompanhado a mãe em uma consulta médica. “Uma cuida da outra na verdade”, diz ela entre risos.
Diretora do IFI
O Plenário do Senado aprovou o nome de Vilma na quarta-feira (7/7), até então vaga que era ocupada por Josué Alfredo Pellegrini. A economista é a primeira mulher negra a exercer um cargo de diretoria da IFI. “Embora o IFI seja uma entidade criada recentemente, vejo que ter uma mulher negra na direção é algo muito positivo para a representatividade”, comenta.
A indicação partiu de um dos diretores atuais do órgão, Felipe Salto, que sugeriu o nome da economista ao presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senador Otto Alencar (PSD-BA). “A minha conversa sobre a vaga com o senador Otto foi online. Passamos um bom tempo falando sobre macroeconomia, finanças públicas e sobre a atual situação do país. Ao fim da ligação ele disse que tinha se impressionado e me perguntou o que achava de assumir o cargo e então fez o convite”.
Vilma, que começou a trajetória profissional como estagiária na auditoria de um shopping center, conta que o interesse pela economia surgiu quando assistia aos comentaristas na televisão fazendo análises sobre finanças. “No estágio do shopping eu conheci administradores e contadores, mas foi pelas análises dos comentaristas financeiros da TV que me interessei em economia”.
Vilma, que trabalha desde os 16 anos, sempre esteve atenta às oportunidades profissionais. Durante o último ano do ensino médio, fez cursinho pré-vestibular comunitário, pois a família não tinha condições de pagar um curso particular. Passou no vestibular para o Curso de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e durante a maior parte da graduação trabalhou em um call center.
“Durante a faculdade fiquei sabendo de uma seleção para estagiar na área de inflação do IBGE. Depois apareceu uma vaga, também de estágio, na Fundação Getúlio Vargas. Passei no processo seletivo e fiz a entrevista com o Gabriel Leal de Barros, que já foi diretor do IFI. Na ocasião, em 2012, ele perguntou se eu aceitaria trabalhar no setor de contas públicas, eu aceitei e desde então sigo nesta área”, relembra Vilma.
Vilma trabalhou no Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre), de 2012 a 2020, sendo responsável por projeções e análises de política fiscal do instituto, além de participar da preparação do Boletim Macroeconômico, periódico na área de macroeconomia e finanças públicas, e um dos mais respeitados do país.
Mudança na carreira
Atualmente Vilma mora com a mãe em Curitiba (PR), onde trabalha como assessora da Secretaria de Fazenda do Estado. O convite partiu do secretário Renê Garcia Jr, depois dele ter assistido a palestras de Vilma e ter ficado impressionado com o conhecimento dela, mesmo tão jovem, entender tanto de contas públicas e das legislações estaduais ligadas ao tema.
“O que estranhamos aqui foi mesmo o frio, pois no Rio de Janeiro é bem mais tranquilo”, diz ela enquanto planeja ficar um mês em Niterói antes de tomar posse em Brasília.
Vilma deve deixar o cargo na capital paranaense nos próximos dias.“Com a minha experiência na área de finanças públicas pretendo colaborar com o padrão de excelência que hoje é reconhecido internacionalmente e auxiliar a instituição com estudos novos na área de contas públicas” , confirmou ela em recente entrevista aos colegas do governo do estado paranaense.
Repercussão na indicação
“Eu não esperava tanta repercussão com a minha indicação ao IFI. Assim que a notícia foi anunciada, comecei a receber várias mensagens de pessoas que nem conheço. Começaram a citar minha conta no twitter e comecei a receber convites de entrevistas.”, revela Vilma.
Não foram somente nas redes sociais que Vilma teve o nome exaltado e apreciado ao cargo. Durante a nomeação, as senadoras Simone Tebet (MDB-MS) e Eliziane Gama (Cidadania-MA), representantes da Bancada Feminina do Senado parabenizaram Vilma.
Missão na direção do IFI
Sobre o novo desafio, Vilma diz estar ciente da importância que o cargo tem, mas que não se deve perder o foco. “A IFI existe para dar transparência às contas públicas e também fazer projeções a esse respeito. Por isso, é preciso entender que não é função da IFI recomendar politicamente e nem dizer o que é melhor ou pior”. A posse ainda não tem data marcada mas deve se realizar daqui há cerca de um mês.
Durante a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Vilma destacou que, no atual contexto econômico e social, as instituições fiscais ganham maior relevância e defendeu a necessidade de melhorar as políticas de assistência aos mais vulneráveis e de retomar investimentos públicos eficientes.
“É inegável que foram feitos esforços no sentido de reduzir essa trajetória, mas ainda há desafios a superar para alcançar o reequilíbrio fiscal com qualidade e eficiência dos gastos públicos”, pontuou.
Este texto começou com Vilma na cozinha, mas foi uma mera coincidência, afinal a entrevista foi feita em um sábado na hora do almoço. Porém, é importante esclarecer que lugar de mulher é onde ela quiser estar. No caso de Vilma é na direção de um dos mais importantes órgãos de fiscalização financeira do país.
O MyNews deseja sucesso e se orgulha por ter a nova diretora do IFI como colunista do site.
O que faz o IFI?
Criada em 2016, a Instituição Fiscal Independente do Senado busca ampliar a transparência nas contas públicas. A instituição prioriza estudos que mostrem o custo das políticas públicas, avaliações da condução da política fiscal e os efeitos sobre os gastos públicos oriundos das decisões do Estado.
Tem a missão de vigiar a política fiscal do país. O que a entidade faz, em resumo, é passar um pente-fino nas cifras referentes às receitas e aos gastos do governo e, assim, revelar o estado das contas públicas.
A IFI foi uma resposta do Senado à crise fiscal decorrente das famosas ‘pedaladas fiscais’ da então presidente da República Dilma Rousseff. A criação do órgão foi sugerida pelo senador José Serra (PSDB-SP) em 2015, encampada pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), e aprovada pelo Plenário do Senado em 2016, logo depois do impeachment de Dilma.
Fonte: Agência Senado
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