Aprovada com ampla maioria, a urgência do PDL contra o aumento do IOF expõe o isolamento do governo, o desgaste de Haddad e a falta de disposição da base em pagar o preço de medidas impopulares.
A Câmara ainda não julgou o mérito, mas o recado foi claro: o governo perdeu o controle até sobre o relógio da sua própria sobrevivência fiscal. A aprovação da urgência do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que derruba o aumento do IOF com 346 votos é uma derrota política e não apenas procedimental que deixa exposta a fragilidade da articulação e o desgaste de uma equipe econômica cercada e sem espaço de manobra.
A tentativa de reforçar o caixa de 2025 com o aumento do IOF sobre operações de crédito foi recebida com resistência desde o início. Não apenas pelo impacto direto sobre consumidores e empresas, mas principalmente pela forma: uma decisão unilateral, sem consulta à base, com efeito regressivo e motivação arrecadatória travestida de técnica.
A aprovação da urgência escancarou uma realidade incômoda: até mesmo parlamentares aliados já não veem vantagem política em defender medidas impopulares propostas pelo governo. O problema não é apenas a condução da política fiscal é a percepção de que o governo não tem fôlego popular suficiente para bancar o desgaste. Deputados, sempre atentos ao humor das ruas e às redes sociais, sentem que estão sozinhos no front ao tentar justificar um aumento de imposto e preferem não pagar esse preço.
Sem capacidade de negociação com o Congresso, enfrentando fogo amigo dentro do próprio governo, Fernando Haddad parece estar às margens do esgotamento. O simbolismo de sua saída de férias justamente nesta quarta-feira (17), um dia após a derrota, é eloquente e preocupante. O país vive uma crise fiscal real, com rombo nas contas, desafios no INSS e um mercado atento aos sinais de desorganização. Tirar o pé nesse momento pode ser lido como desistência ou cansaço extremo.
Ainda há tempo para discutir o mérito do decreto e talvez negociar uma saída que preserve parte da arrecadação. Mas o relógio político está acelerado. E a cada nova derrota, consolida-se a imagem de um governo que tenta governar sem Congresso e com um ministro da Fazenda isolado.
A urgência aprovada ontem foi só um botão apertado no painel da Câmara. Mas, politicamente, ela acendeu todas as luzes vermelhas no Palácio do Planalto.
Estamos concorrendo como Melhor Canal de Política da Internet — e o seu voto é fundamental para mostrar a força do jornalismo independente, crítico e sem rabo preso! VOTE AQUI!