O Supremo fora do feed © Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O Supremo fora do feed

No Brasil das telas acesas, onde o julgamento acontece antes no Instagram do que no plenário, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal prefere o silêncio.

Por Mara LuquetEnquanto as decisões viralizam, eles se retraem. Quem fala por eles é o algoritmo dos outros. Flávio Dino, não. Com cerca de 2 milhões de seguidores e mais de 10 mil publicações, ele parece ter entendido que Justiça, hoje, também é uma batalha narrativa. Dino é o ministro-influencer. Transita entre pautas sociais e bastidores do Judiciário como quem sabe que, no digital, quem some vira ruído. O público engaja, comenta, compartilha. E ele domina a linguagem com a mesma naturalidade com que cita a Constituição.

Gilmar Mendes, por outro lado, não precisa de milhões. Seus 14 mil seguidores podem parecer pouco — até que você veja o engajamento altíssimo: 1,34%. Gilmar não fala para multidões, fala para quem quer ouvir. Seus vídeos e reflexões jurídicas chegam a um público menor, mas disposto a escutar. “Alcance é barulho. Engajamento é escuta”, resume Alek Maracajá, sócio da Ativaweb, consultoria de inteligência digital e autor do estudo que escrutinou as redes dos ministros da Suprema Corte.

Já Alexandre de Moraes optou por outro caminho: o do silêncio. É curioso, porque se há um ministro que viraliza (ainda que contra a vontade), é ele. As suas decisões circulam em carrosséis do Instagram, os vídeos de discursos lotam o TikTok, mas o próprio Xandão não posta. Ele assiste de fora. Talvez seja estratégico, talvez seja desinteresse, talvez seja cansaço. O fato é que o vácuo digital também comunica.

Os demais? Alguns ensaiam presenças tímidas, outros nem isso. Barroso é didático e elegante no feed, mas não move multidões. Mendonça fala pouco, mas fala com uma base fiel que se mobiliza. Fachin, Fux, Cármen Lúcia e Toffoli sequer têm perfis públicos ativos. Cristiano Zanin e Kassio Nunes Marques parecem ter esquecido as senhas.

Enquanto isso, o perfil oficial do STF vai tentando segurar as pontas com seus 557 mil seguidores. É técnico, correto, necessário — mas não substitui o que se espera de figuras públicas de altíssimo impacto: uma comunicação direta, humanizada, capaz de traduzir o juridiquês para o cidadão que está com o dedo rolando a tela.

A ausência tem um preço. Na era das redes, quem não ocupa o espaço virtual deixa que outros o ocupem por ele. No feed, ministros viram caricaturas; decisões complexas se reduzem a frases fora de contexto. Justiça não precisa ser espetáculo, mas precisa ser compreendida. E, para isso, precisa ser comunicada.

“Quem não constrói sua imagem digital será definido pelos algoritmos dos outros”, alerta Maracajá.

Talvez o Supremo ainda não tenha percebido que, em 2025, o silêncio também é um post.

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