Rita Lee, estava à frente de seu tempo, daí a incompreensão que suscita em espíritos mais conservadores, não habilitados para a modernidade de sua produção e vivência
por Maria Aparecida de Aquino em 10/05/23 10:16
Rita Lee (Foto: Fetz3001/Instagram)
“Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João (…)
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”
Caetano Veloso – Sampa: 1978
Esta é a versão poética mais conhecida de Rita Lee traduzida pelo gênio Caetano Veloso que, baiano, se arvora a conhecer São Paulo e a “deselegância discreta” das meninas paulistanas. Para ele, Rita Lee era a mais completa tradução dessa cidade que recebe com sua “dura poesia” os migrantes, como ele, que vem para esta terra diferente da sua (como não poderia ser?) e por não enxergarem o seu rosto, acabam por considerá-la de “mau gosto, mau gosto”.
Enquanto não se transformam pelo contato, quando ainda não se tornaram “mutantes”, a tendência é “afastar o que não conhece”. Mas, o brilhante Caetano, em sua imensa sabedoria que lhe permitiu construir o mais belo hino à esta cidade que passou a se chamar “Sampa” até pelos paulistanos, sabe que ela “depressa” se torna “realidade”. Mesmo que seja “o avesso do avesso do avesso”.
Quando alguém como Rita Lee Jones de Carvalho (1947-2023) nos deixa, a sensação que fica, mais do que em outras perdas, é a de que estamos envelhecendo. Sim, porque, para quem a seguia, uma das imagens que dela permanecem é a de Os Mutantes, acompanhando, em 1967, Gilberto Gil em Domingo no Parque. Ali, o trio Rita, Arnaldo e Sérgio tornaram-se conhecidos do grande público. Ela, muito jovem, graciosa e bela.
Aquele momento foi, também, uma revolução: não era comum para a tradicional Música Popular Brasileira o acompanhamento com instrumentos como a guitarra elétrica que Os Mutantes utilizavam. A revolução veio para ficar.
Rita seguiu amadurecendo em sua profícua carreira
De seu cancioneiro impõe-se destacar outro momento brilhante: o álbum Rita Lee também conhecido como Lança Perfume, de 1980, com as músicas de sua autoria e do marido Roberto de Carvalho. Com ele, todos puderam dançar ao som de Baila Comigo. Foi possível lembrar do tempo em que o cheiroso lança-perfume era liberado no Brasil para depois ser considerado uma droga proibida. Vinha num lindo frasco dourado com agradável cheiro adocicado. Quem não cantarolou Caso Sério ou se indignou com um Ôrra Meu!?
A transgressora, expulsa de Os Mutantes, foi para a Inglaterra e se reencontrou com Gilberto Gil que, ao lado de Caetano Veloso, estava exilado por obra e graça da Ditadura Militar Brasileira.
Rita Lee, estava à frente de seu tempo, daí a incompreensão que suscita em espíritos mais conservadores, não habilitados para a modernidade de sua produção e vivência.
Acredito que é isso que permanece de sua rica história. Rita seguirá para sempre a nos lembrar que o pecado que não se pode cometer é permitir que ocorra o envelhecimento das ideias. Ela vai prosseguir, jovem, graciosa e bela, em sua caminhada na qual o futuro já chegou.
Rita Lee presente!
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